Texto escrito por José de Souza Castro:
Depois de passar muitas horas, desde a tarde de terça-feira, lendo e
ouvindo notícias sobre a já famosa lista de Fachin, eu continuava com a
sensação de que estava faltando alguma coisa. Só às quatro da tarde de
quarta-feira, li aqui a pergunta que faltava, talvez a mais importante de todas: por que não há nenhum juiz na lista de Fachin?
Ou, conforme o título escolhido por Kiko Nogueira, diretor adjunto do
Diário do Centro do Mundo, para seu artigo, aquele em que encontrei
aquilo que deveria, eu próprio, estar me perguntando: “A ausência
gritante do Judiciário na Lista do Fachin”.
Como jornalista, venho me ocupando da questão do Judiciário
brasileiro há muito tempo. Pelo menos, desde meados da década de 1970,
quando comecei a juntar material para meu livro “Injustiçados – o caso Portilho”, disponível de graça na biblioteca deste blog.
Por isso, não tenho qualquer dificuldade em compreender o que disse
no final do ano passado, conforme Kiko Nogueira, a ex-ministra Eliana
Calmon, do Superior Tribunal de Justiça, em entrevista a Ricardo
Boechat: seria impossível levar a sério a delação da Odebrecht, “caso
não mencione um magistrado sequer”.
Para Kiko, é difícil que a Odebrecht, que teria corrompido nove
ministros de Estado, três governadores, 24 senadores e 37 deputados
federais (números inicialmente divulgados) que serão investigados por
ordem do ministro Fachin, tenha operado “esse tempo todo sem desembolsar
um tostão por, digamos, uma sentença favorável”.
Kiko cita outra entrevista de Eliana Calmon, dessa vez ao jornal
“Tribuna da Bahia”, em que ela diz: “Nessa república louca que é o
Brasil, temos aí o Executivo e o Legislativo altamente envolvidos nas
questões da Odebrecht, de acordo com as delações no âmbito da Operação
Lava Jato. Tem-se aí pelo menos uns 30 anos em que a Odebrecht ganha
praticamente todas as ações na Justiça.”
É pena que não se possa levar a sério, conforme leu até aqui, essa
lista originada das delações de donos e executivos da Odebrecht.
No começo, eu havia me animado ao ver listados por Fachin alguns
nomes de políticos que, até então, pareciam blindados pelo Ministério
Público e pelo Judiciário, quando estes se ocupavam de investigar e
julgar a corrupção no Brasil. Por exemplo: Fernando Henrique Cardoso,
José Serra, Aécio Neves…
Se eu não posso levar a sério tal lista, como encarar as
investigações sobre a construção da Cidade Administrativa de Minas
Gerais? Além de “elefante branco”, como escrevi em 2009 e reafirmei em 2012, terá sido a maior obra do governo Aécio Neves uma fonte de corrupção, como suspeita Fachin com base nas delações da Odebrecht?
Seria preciso confiar muito em Ministério Público, Polícia Federal e
Supremo Tribunal Federal para esperar que o atual presidente nacional do
PSDB seja condenado por uma obra que já custou muito aos contribuintes
mineiros. E que deve custar muito mais, dependendo do destino que o
governador Fernando Pimentel, outro político na lista de Fachin,
pretende dar à Cidade Administrativa.
(fonte: https://kikacastro.com.br/2017/04/12/lista-fachin/#more-13801
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