sábado, 9 de julho de 2016

Ainda há esperança na juventude de hoje...



Honra ao mérito
O projeto 'Nossos Escritores' é desenvolvido nas aulas de História do 3º ano do Ensino Médio, Colégio Imaculada Conceição de Belo Horizonte. Em cada etapa, discussões são feitas em sala de aula a partir do conteúdo estudado e relações são estabelecidas com o cenário nacional e internacional. Um rico material é oferecido aos alunos para pesquisa, e o resultado é expresso através da produção de textos que levantam reflexões, apresentam propostas e proporcionam aos alunos a possibilidade de se expressarem diante de temas instigantes e relevantes. Confira abaixo a produção do aluno Lucas Abreu Moura Pereira, (1998) que se destacou na primeira etapa de 2016, com o texto abaixo.


Política, para não ser idiota

Lucas Abreu Moura Pereira


'           'A política é uma questão séria demais para ser deixada para os políticos'' - Charles de Gaulle,
Todo processo histórico é marcado por continuidades e mudanças, ou seja, podemos identificar transformações e permanências de um período para outro. Desse ponto de vista, a análise dos fatos históricos exige critérios teóricos e metodológicos, para que se possa ter uma melhor compreensão acerca do que aconteceu. O atual retrato político-partidário brasileiro não foge a essa perspectiva.
Ao longo do processo histórico de formação do Estado nacional brasileiro, do século XVI ao XXI, o nosso sistema político, isto é, o conjunto de instituições políticas por meio das quais um Estado se organiza a fim de exercer o seu poder sobre a sociedade, sofreu profundas mudanças até se transformar na República Federativa Presidencialista que se constitui hoje, o que foi obtido através da Proclamação da República, ocorrida em 15 de novembro de 1889.
É importante salientar que a proclamação da república não representou uma ruptura no processo histórico brasileiro, haja vista que foi uma realização essencialmente elitista, marcada pela ausência de participação popular. O artigo de Aristides Lobo, no Diário Popular de São Paulo, em 18 de novembro, no qual dizia: "O povo assistiu àquilo tudo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava." corroborou a frase do jornalista e escritor pré-modernista Lima Barreto "O Brasil não tem povo, tem público." sobre o movimento de 15 de novembro que não logrou mudanças significativas na vida do povo brasileiro. Destarte, a Proclamação da República foi um projeto feito pelas elites e para as elites e deu, assim, início ao atual retrato político-partidário brasileiro, marcado principalmente pela grande autonomia das elites em relação ao poder central devido ao amplo domínio das mesmas sobre os Estados, o que foi garantido através de uma política federalista.
Desse modo, os partidos políticos foram idealizados como um arranjo temporário para as oligarquias manipularem o Estado, o que foi fundamental para a consolidação do atual retrato político partidário do país, o qual é respaldado no jogo de interesses dessas elites dominantes. Assim sendo, não possuíam grandes divergências ideológicas, desejavam apenas o exercício do poder.
Até hoje, as elites governamentais perpetuam no poder através desses partidos políticos que recrutam candidatos e fazem campanhas para os elegerem a cargos públicos, mobilizando as pessoas para participarem na escolha dos governantes, tendo como objetivo ligá-las a seu governo. Segundo o ex-ministro do Supremo Tribunal de Justiça, Joaquim Barbosa, o que temos hoje são "partidos de mentirinha", uma vez que não possuem grande divergências ideológicas, querem o poder pelo poder. Daí aplica-se a velha frase utilizada durante o Segundo Reinado, quando liberais e conservadores se alternavam no poder: ?não há nada mais conservador do que um liberal no poder, não há nada mais liberal do que um conservador na oposição?.
É comum ouvirmos as pessoas dizerem que o que vivemos hoje no Brasil é uma democracia. Entretanto, uma democracia pressupõe não apenas o sufrágio universal, mas também uma igualdade jurídica e social, o que nitidamente não existe em nosso país hoje. Além disso, a existência de um grande número desses "partidos de mentirinha" faz com que as condições necessárias para o exercício da verdadeira democracia se tornem cada vez mais difícil, tendo em vista que não existe nenhuma base de sustentação popular dentro deles, o que permitiu que, ao transcorrer do tempo, a política - antes conhecida como a arte de servir ao povo - se transformasse na arte de se servir do povo. 
O melhor exemplo dessa transformação é a corrupção, a qual pode ser comparada a um parasita que tem no povo o seu hospedeiro. Todos os dias somos bombardeados com inúmeros escândalos de todas as espécies pela mídia; como uma ligação indecente entre homens públicos e grandes empresas do setor privado, para dilapidar o patrimônio público trocando privilégios políticos por enriquecimento ilícito. Isso não só contribui para aprofundar o descrédito da população na classe política, como também mostra que a corrupção é um problema das democracias, pois revela a fragilidade de um sistema em que o soberano, a população, é colocado facilmente no lugar de subalterno. Daí a importância do povo na hora de eleger seus representantes, pois como disse uma vez Abraham Lincoln "O voto é mais forte que a bala." 
Logo, a política de desvalorização do voto, iniciada durante a República Velha no Brasil e que perdura até hoje através de práticas semelhantes ao coronelismo e ao voto de cabresto - as quais tem por objetivo controlar as eleições distribuindo favores à população em troca de votos - mostram-se como um empecilho ao exercício da cidadania no Brasil, o que é passado de geração em geração, suscitando uma cultura ignorante onde o voto não é tratado com a seriedade que merece.
Atualmente, o Brasil passa pelo momento mais duro desde a sua redemocratização. A crise política e econômica faz com que lamentemos e choremos as práticas estabelecidas pela maioria. Isso porque a maioria de nosso país é representada pelos políticos. Deputados, senadores, governadores e a Presidência da República foram e são eleitos a partir da representação popular. Cada um destes supostamente mereceu a confiança de cada voto, inclusive a nossa presidente Dilma Rousseff que passa pelo processo de impedimento da continuidade de seu mandato, o chamado impeachment.
O processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff revela a polarização de uma sociedade alheada da realidade, a qual não consegue enxergar um palmo adiante do nariz. Segundo Ernesto Che Guevara, "um povo que não conhece sua história está condenado a repeti-la". A crise do sistema político brasileiro não é de hoje. Ela é uma construção que permeia todo o regime republicano brasileiro até os dias atuais. Portanto, o afastamento do PT do governo não seria a solução, e sim um paliativo, isto é, um procrastinador que adia uma crise sem, de fato, resolvê-la.  
Você, caro leitor, deve estar se perguntando agora: existe, então, uma solução definitiva para a crise política no Brasil.
Há dois mil e quinhentos anos, os gregos davam um nome apropriado a aquele que cuidasse da vida pública, da comunidade e que acreditasse que a mais nobre regra era "um por todos e todos por um": este era chamado de político. Por outro lado, esses mesmos gregos utilizavam o termo "idiótes" para designar aquele que só vivia a vida privada, que recusava a política, que dizia não à política. Em outras palavras, os gregos antigos denominavam idiota aquele que achava que a regra da vida era "cada um por si e Deus por todos." No cotidiano, o que se fez foi um sequestro semântico, uma inversão do que seria o sentido original de idiota e de político.
A palavra ''política'' provém do grego antigo ''politéia'' que, por sua vez, era usada para se referir a tudo relacionado à pólis (cidade-estado) e à vida em coletividade. Na Grécia Antiga,  entendia-se que todos e todas éramos e deveríamos ser políticos, a partir da noção de que pólis é a sociedade, comunidade, coletividade, e é nela, com ela e por ela que vivemos. Como diz o ditado, "nem tudo que é novo é necessariamente bom, e nem tudo que é velho deve ser descartado."

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