CONVITE PARA DEBATE
PÚBLICO SOBRE O PROJETO DE LEI 7920/2017 QUE PROPÕE AUTORIZAR A DESTRUIÇÃO DE DOCUMENTOS ORIGINAIS APÓS A
DIGITALIZAÇÃO.
Prezado/a associado(a) da
Associação Nacional de História (ANPUH-Brasil)
O Conselho Nacional de Arquivos convida a esta conceituada Associação Nacional de História (ANPUH-BRASIL) para o debate
público CONARQ sobre o Projeto de Lei nº 7920/2017, que propõe autorizar a destruição de documentos originais
após a digitalização, bem como, alterar a lei nº 8.159 (Lei de Arquivos Brasileira), a lei nº 12.682, o código
de processo penal, o código de processo civil.
O Debate Público será realizado no dia 19 de setembro próximo, das 09h às 17h, no auditório do Arquivo Nacional, na
cidade do Rio de Janeiro.
O Debate Público CONARQ sobre o PL 7.920/2017 será promovido com a participação de seus conselheiros, especialistas das
áreas de arquivologia, sociologia, história, direito, tecnologias de informação, gestão, controle e
transparência pública, entre outros.O Debate tem como proposta os seguintes objetivos:
a) ouvir especialistas, comunidade arquivística, órgãos da administração pública e
organizações privadas sobre o impacto do PL 7920/2017, em matérias relacionadas à gestão de documentos,
confiabilidade e autencidade dos documentos arquivísticos, preservação digital – custos e impactos a médio e longo
prazo, uso das tecnologias da informação, entre outras questões;
b) coletar material fático e técnico acerca do objeto do PL para subsidiar a atuação do CONARQ;
c) estabelecer estratégias de ação em relação ao trâmite do PL 7920/2017;
d) divulgação à sociedade civil do posicionamento e providências adotados pelo CONARQ, de modo a legitimar sua
atuação.
e)debater a importância das instituições arquivísticas na preservação e difusão de registros
históricos
Após a realização do Debate Público, serão coletadas todas as informações e as
deliberações serão reunidas em um documento que será encaminhado à Câmara dos Deputados e demais atores
envolvidos com a temática do PL 7920.
O evento será aberto ao público. As vagas são limitadas. Para participar é necessário efetuar
inscrição no site do CONARQ http://www.conarq.gov.br.
Maiores informações:
E-mail: conarq@arquivonacional.gov.br.
Telefones: 2179-1271 ou 2179-1293.
Médico norte-americano denuncia grave impasse
na indústria do câncer: por que os gastos nunca foram tão colossais e o
câncer está matando mais que nunca? O que está travando a pesquisa da
cura do câncer?
O médico norte-americano, dr. Joseph Mercola, levanta indícios para
sustentar a hipótese de que não vê perspectivas, nos marcos da
estratégia convencionalmente conduzida pela oncologia, de se chegar à
cura do câncer. De saída, ele chama a atenção para o fato de que, desde
que o presidente norte-americano Richard Nixon, mais de quarenta anos
atrás, declarou sua “guerra contra o câncer”, liberando vultosos
recursos para a indústria do câncer e suas pesquisas, as mortes por
câncer somente têm crescido.
A constatação do dr. Mercola: um ou outro tipo de câncer – por razões
determinadas – pode ter tido alguma queda, mas, de conjunto, as mortes
por câncer, nos Estados Unidos e em outros países, têm crescido
astronomicamente. Segundo o dr. Mercola, em artigo de 2013 [Why medicine won´t allow câncer to be cured]
temos o equivalente a 8 a 10 aviões caindo a cada dia, em termos de
mortes pelo câncer. A cada ano, dois milhões de americanos são
diagnosticados com câncer. E tudo isso, argumenta ele, “a despeito dos
avanços tecnológicos massivos do último meio século”. E também sem que
esse tipo de fato venha a se transformar em um escândalo nacional.
Uma pessoa em cada três, nos Estados Unidos, terá sido diagnosticada
com câncer ao longo de sua vida – segue argumentando ele –, além de
informar que não são apenas mais e mais casos que estão acontecendo e
sim mais casos em relação ao mesmo número de pessoas [mais casos por
cada dez pessoas, por exemplo]. Isto é, não se trata de que há mais
câncer porque a população cresceu e sim que o crescimento de casos de
câncer aumenta de todo ponto de vista; hoje temos uma em cada 3 pessoas
tendo câncer, mas no início do século passado se tinha uma em cada
vinte. Proporcionalmente há mais gente com câncer do que nunca.
A estatística por ele citada revela, como diz, um crescimento de
“proporções epidêmicas”: nos anos 1940 uma em cada 16 pessoas tinha
câncer, nos 1970, uma em dez, atualmente temos uma em três.
Livro recente, de Clifton Leaf, intitulado A verdade em pequenas doses: porque estamos perdendo a guerra contra o câncer – e como vencê-la [livre tradução de The truth in small doses: why we´re losing the war on cancer – and how to win it],
traz gráfico sugerindo que o número de novos casos de câncer tem
crescido a taxas três vezes maiores que o crescimento da população.
Nesse caso, também argumenta ele, estaríamos perdendo a guerra.
Nunca se investiu tanto em pesquisa, nunca se gastou tanto em
tratamento, mas também nunca houve tanto câncer, nunca foi tão caro
tratar uma doença, eis a equação que o dr. Mercola expõe sem meias
palavras para seguir argumentando que a chamada “indústria do câncer” é
um grande negócio bem-sucedido para os capitalistas do câncer e um
grande problema para quem vier a sofrer dessa doença.
Poderia ser levantada, no entanto, a pergunta: tais estatísticas não
mostrariam apenas que passou a haver uma maior capacidade de diagnóstico
da medicina? Ou seja: como os diagnósticos são mais precoces ou mais
refinados, então, por isso, teríamos maior número de casos? Ele não
concorda: se fosse assim não se morreria tanto, argumenta; e acrescenta
que não se pode fugir ao fato de que, sobretudo, o que temos são mais e
mais mortes. E com tratamentos mais caros, mais sofisticados, sempre
nos marcos da mesma estratégia [atacar o tumor: quimioterapia,
radioterapia, cirurgia].
O dr. Mercola, como foi dito, também se mostra chocado pelo fato de
tanta morte por câncer, tanto fracasso médico não se transformar em
manchete. Cai um avião, vira manchete, diz. Caem quase dez aviões por
dia, de mortes por câncer, e paira o relativo silêncio, mais ou menos
como se estivéssemos diante de uma fatalidade.
Depois de traçar esse quadro contraditório e assustador, depois de
chamar a atenção para a baixíssima taxa de cura pelos métodos atuais
[ele cita que “dois de cada três pacientes com câncer morrerão em cinco
anos após ter recebido todo o tratamento padrão ou parte dele, isto é,
da trindade, cirurgia, radioterapia e quimioterapia”]; ele vai
além na denúncia: “um estudo estimou que a quimioterapia beneficia
apenas um em cada 20 pacientes que a recebem”; e acrescenta: “isso não
chega a ser propriamente uma surpresa quando se considera que dois dos
três métodos são em si mesmos cancerígenos!”
Ao mesmo tempo ele denuncia que a estratégia de prevenção é a menor
das preocupações da oncologia norte-americana. E que não se discute e
nem se foca seriamente a pesquisa nos elementos ambientais e sanitários
causadores ou envolvidos com a gênese do câncer, desde alimentação a
toxinas ambientais e do ambiente de trabalho.
Basicamente o que se gasta em pesquisa e em tratamento segue o mesmo
foco: a surrada estratégia de atacar o tumor com radiação ionizante,
quimioterápicos [tóxicos por definição] e cirurgia. Para os sintomas
tudo [se tomamos o tumor como sintoma], para o terreno biológico, para o
terreno ambiental, nada.
Procurando juntar as peças, o profissional levanta algumas questões
que, segundo ele, poderiam estar por trás ou na base de tantas
contradições em torno da abordagem convencional do câncer. A qual, no
raciocínio do dr. Mercola, não conta com os elementos necessários para
chegar – com tal estratégia – à cura do câncer e, por isso, estaria
perdendo aquela guerra deflagrada, oficialmente há quase meio século
atrás, pelo presidente Richard Nixon.
O gráfico a seguir parece reforçar essa ideia: nele se vê que as taxas de mortes por câncer não param de crescer. [Disponível em: https://egtheory.wordpress.com/2016/01/19/cancer-books/%5D
O mesmo autor argumenta na linha de que grandes grupos financeiros
ganham com as coisas como elas são na oncologia: “A epidemia de câncer é
o sonho dourado para a Big Pharma e suas campanhas para
silenciar outras tentativas de cura têm sido ferozes” [a este respeito,
ele remete para o documentário Cancer: forbidden cures]
E insiste: “nós temos que entender que o câncer é um grande negócio. A
indústria do câncer gasta praticamente nada dos seus recursos
multibilionários de dólares em estratégias de efetiva prevenção, como
por exemplo, guias de dieta, exercício e educação contra a obesidade. Em
vez disso, concentra seu capital no tratamento do câncer, não na
prevenção ou cura. Por que iriam matar a galinha dos ovos de ouro –
pergunta?
Se eles podem manter a ´máquina do câncer´ bem lubrificada e seguindo
em frente, certamente o farão, seguramente continuarão a ganhar lucros
massivos em drogas quimioterápicas, radioterapia, procedimentos
diagnóstico e cirurgias. O paciente típico de câncer gasta 50 mil
dólares lutando contra a doença. Drogas quimioterápicas estão entre os
tratamentos mais caros, muitas delas oscilando de entre 3 mil a 7 mil
dólares por mês”.
Seu argumento é que a indústria do câncer não pode perder seus
pacientes, que é funcional para ela manter o fluxo continuado de
pacientes de câncer, e chama essa indústria de “monstro societário”.
Cita o dado histórico de que a indústria farmacêutica – aliada com a
AMA [Associação Médica Americana] – tomou conta do sistema médico já
desde o início do século passado.
Citando aquele documentário, ele argumenta: “A banca internacional
controla as companhias de drogas e produtos químicos e controla o
sistema educacional médico há um século. Eles dão subsídios e recursos
para a AMA e as principais escolas médicas, em troca de assentos nos
seus comitês [empresariais] de forma a poderem incidir sobre a política
médica; inteligentemente, manejam virtualmente cada agência regulatória
federal vinculada à prática da medicina”.
Ele liga essa sua constatação política ao fato de que, embora – de
acordo com sua denúncia – aqueles tratamentos sejam pouco eficazes
continuam recebendo rios de dinheiro e lucrando bilhões de dólares.
Também denuncia aquela indústria por lutar ferozmente para proteger
seu mercado cativo: “Para proteger seu monopólio médico, qualquer
tratamento natural viável sofre massiva oposição pela indústria
médico-farmacêutica. As companhias de medicamentos não possuem interesse
em agentes naturais que eles não possam patentear, já que eles
interfeririam em seu fluxo de lucro.
Daí eles acionam – e sempre acionaram – medidas extremas para evitar
que a verdade sobre tratamentos naturais eficazes [que concorreriam com a
indústria] possa alcançar o grande público”. O FDA [a Anvisa
norte-americana], segue argumentando o dr. Mercola, alega estar
“protegendo o público, mas realmente eles estão protegendo os lucros das
companhias de medicamentos”.
Como observação final, pode-se dizer que a hipótese do dr. Mercola,
até pelas consequências médico-sanitárias e em termos de estratégia de
pesquisa do câncer que ela implicaria, suscita uma pergunta inevitável:
já não passou da hora e da oportunidade de que os problemas que ele – e
não apenas ele – levanta, passem a ser tema de um amplo debate,
especialmente a partir dos sindicatos e associações dos trabalhadores de
saúde?
Ou por outra: o pior dos cenários diante do drama social do câncer,
não será o de seguir ignorando tais argumentos, que volta e meia
reaparecem no meio científico para, em seguida, serem relegados ao
relativo esquecimento? E a não realização desse debate, será que não tem
a ver com certa ilusão ideológica, de que é possível se chegar a uma
boa medicina, eficiente e não-tóxica, nos marcos do capitalismo, do
atendimento médico na condição de mercadoria, da medicina mercantil?
[FONTE – O artigo original do dr. Mercola, com mais de 1,5 milhão de visitas, está disponível em: http://articles.mercola.com/sites/articles/archive/2013/08/03/natural-cancer- treatment.aspx. Como fonte de seus dados estatísticos, o dr Mercola cita: https://www.cancer.org/research/cancer-facts-statistics.html ]
[O AUTOR – dr. Mercola, nascido em 1954, graduado na Universidade de
Illinois e no Colégio de Medicina Osteopática de Chicago, trabalha
oferecendo regularmente orientação de saúde e comercializando
suplementos nutricionais através do seu site. Ele é autor, dentre
outros, do livro The no-grain diet [2004] e também The dark deception
[2008]. Mesmo que não tomemos o dr. Mercola como referência em termos
de orientação médica – já que apoia a homeopatia e o não uso de açúcar
na dieta, dentre outros problemas –, mas é perfeitamente possível levar
adiante um debate a respeito das suas denúncias contra o tratamento
convencional do câncer, considerando que tais denúncias se repetem a
partir de outros médicos norte-americanos como o dr Nicholas Gonzalez,
médico recém-falecido de New York, apenas para citar um exemplo].
[AVISO – O objetivo desta nota é puramente didático/informativo, na
linha de levantar o debate; não pretende alimentar qualquer expectativa
de aconselhamento médico/profissional em qualquer direção específica]. *GILSON DANTAS é graduado em Medicina pela Universidade de Brasília; Doutor em Sociologia pela UnB.
“Dizer simplesmente que ‘o islã é paz’ ou que ‘não tem nada a ver com o Estado Islâmico ou com a Al-Qaeda’
é como dizer que as cruzadas não têm nada a ver com o cristianismo. Que
sejam uma perversão da religião, não significa que não tenham nada a
ver”, escreve o jesuíta Jaume Flaquer, em artigo publicado por Religión Digital, 21-08-2017. A tradução é do Cepat.
Eis o artigo.
Infelizmente, sabíamos que um atentado em Barcelona poderia ocorrer. Sua grande atração turística a tornava um prato desejado demais. Las Ramblas, além disso, é um passeio que há tempo nós, barceloneses, abandonamos.
Antes
de mais nada, devemos destacar que nem a religião (que dizem
professar), nem a nacionalidade dos terroristas devem contribuir para
estigmatizá-las. A Comunidade Islâmica da Espanha, como sempre faz quando há um atentado em nome do Islã,
se apressou a condená-lo. Milhares de muçulmanos que estão entre nós
vivem estes acontecimentos como o mesmo sentimento de horror que
possuímos.
O uso do nome da própria religião para algo tão terrível deve criar um profundo sentimento de desolação. O Rei da Jordânia,
em 2004, iniciou um processo de condenação pública do mundo islâmico
contra a barbárie. O grande dirigente islâmico do Egito também quis
liderar este processo em diversos congressos e declarações. Marrocos seguiu a mesma saga, ainda que não chegue aos ouvidos ocidentais.
Dito
isto, é preciso que entre todos façamos uma análise profunda, mas
também honesta de todas as causas que provocam o terrorismo. E temos de
sublinhar o “todas”! Não só as diretas, mas também as indiretas. Há
metodologias de base mais ou menos marxista (ainda que seja de maneira
matizada ou evolucionista) que reduzem as causas a questões sociais,
econômicas, políticas ou geoestratégicas, etc., sobre as quais se formam
as ideologias, também religiosas; e há também metodologias contrárias,
mais ou menos antirreligiosas (ou islamofóbicas), que reduzem as causas à
própria religião.
O fenômeno terrorista
é extremamente complexo, posto que não há nenhuma causa única que
explique por si só este fenômeno. Há terroristas (muitos) de classe
média ou média-alta, e gente extremamente rica que o financia. Muitos
cursaram estudos universitários (mas isso, sim, quase sempre em
carreiras técnicas ou científicas). Não é, pois, um problema de simples
falta de formação. Sem dúvida, os problemas sociais, de integração ou de
desenvolvimento da própria identidade potencializam o fenômeno porque
geram as pessoas vulneráveis que entram nestas correntes ideológicas do
terrorismo como quem entra em uma seita.
Mas, não pode se
considerar como a única causa, porque os cristãos dos países de maioria
islâmica vivem em situação de marginalidade (quando não de perseguição) e
não geram movimentos terroristas. Muitos terroristas possuem elementos
de patologias psicológicas, mas nem sempre as barbaridades são cometidas
por doentes mentais. Não se pode pensar que todos os nazistas fossem
doentes mentais...
É necessário abordar todas as causas. Há causas de política internacional: a invasão do Iraque e, antes, a luta contra a URSS no Afeganistão... O grupo “Estado Islâmico” ou Al-Qaeda nasceram aí. Ainda não ouvi nem Aznar e nem Bush pedir perdão por isso! O colonialismo europeu feriu também a consciência e o orgulho árabe (e de muitas outras culturas).
Há causas sociais:
as enormes desigualdades econômicas, além de ser um escândalo ético são
geradoras, muitas vezes, de raiva ou de desesperança. Se esta última
pode levar ao suicídio, o terrorista consegue morrer, mas com sentido.
Há causas psicológicas: também vemos isto regularmente em ataques de ira em indivíduos dos Estados Unidos, que realizam carnificinas com a ajuda da facilidade de conseguir uma arma.
Mas, também (sim, também) há causas religiosas, ainda que sejam para perverter a religião. Dizer simplesmente que “o islã é paz” ou que “não tem nada a ver com o Estado Islâmico ou com a Al-Qaeda”
é como dizer que as cruzadas não têm nada a ver com o cristianismo. Que
sejam uma perversão da religião, não significa que não tenham nada a
ver. Muitos clérigos transmitem o ódio e a violência, sendo contrários a
ela. Quantos imãs salafistas pregam a proibição de ter amigos cristãos e
judeus!
Sem dúvida, é uma perversa interpretação de um versículo
corânico, mas esta interpretação se faz a partir do islã propagado pela
Arábia Saudita. A partir deste país, são escritos
livros sobre jurisprudência islâmica que ditam a morte do homossexual,
do apóstata e do adúltero. E estes livros são vendidos na Espanha, traduzidos ao castelhano! A Arábia Saudita e outros países do Golfo condenam o terrorismo, uma vez que eles também estão na mira do Estado Islâmico e da Al-Qaeda. Mas, seu islã os produz sem cessar.
Se
se condena ao inferno judeus, cristãos e, é claro, politeístas e ateus,
(e este elemento de fé não só é professado pelos salafistas, como
também é extremamente comum), é possível dizer que se é completamente
alheio a que uns loucos queiram antecipar esse inferno já na terra? Se
Deus não consegue encontrar nenhuma pitada de bondade suficiente que
mereça sua salvação, por que precisam encontrar nos seres humanos?
Façamos todos uma autocrítica sincera para acabar com este mal do século
XXI.
Cientistas e líderes tecnológicos de todo o mundo pediram na segunda-feira (21), na Conferência Conjunta Internacional sobre Inteligência Artificial, realizada em Melbourne, na Austrália, que o desenvolvimento de armas usando inteligência artificial fosse interrompido pois “uma vez que esta caixa de Pandora for aberta, será difícil de fechar.”
A informação é da Agência Xinhua, publicada por Agência Brasil, 23-08-2017.
Numa carta aberta às Nações Unidas (ONU), os cientistas e líderes empresariais presentes ao evento pediram a proibição do uso de armas autônomas letais ou “robôs assassinos”, assim como armas químicas e biológicas no campo de batalha.
A Conferência Conjunta Internacional sobre Inteligência Artificial (IA), que teve sua primeira edição em 1969, reuniu nesta edição especialistas de renome internacional, como Toby Walsh, professor de IA na Universidade de New South Wales (Austrália), o empresário Elon Musk, da Tesla e SpaceX, e o executivo James Chow, da Ubtech, empresa de robótica baseada na China.
Preocupação global
Assinado por muitas das principais mentes relacionadas à IA do mundo, a carta foi encabeçada por Walsh, que recentemente disse à Xinhua que está preocupado com o que ele sente ser uma “corrida armamentista” que ocorre em torno do mundo.
“Estou muito preocupado com o impacto que a autonomia (robótica) terá
nos campos de batalha. Há uma corrida de armamentos desse tipo
acontecendo hoje, que você pode ver no Exército dos EUA, nas Forças Armadas do Reino Unido, no Exército russo,
é basicamente uma corrida armamentista, Acabaremos em um mundo muito
perigoso e desestabilizado se nos permitirmos lutar a guerra com esses
tipos de armas,” alertou Walsh.
O professor da Universidade de New South Wales e seus coordenadores estão pedindo que as Nações Unidas intercedam e proíbam armas autônomas. Ele disse que já houve algum movimento positivo da ONU nesse sentido, esperando que esta carta estimule ainda mais ações.
Uma das maiores preocupações dos líderes tecnológicos é que um Estado
desonesto, ou regime tirânico, seja capaz de usar essas armas para
reprimir sua população. “É certamente uma preocupação que eu tenho, de
estes robôs autônomos de guerra serem utilizados para submeter uma nação inteira, e será muito mais fácil do que costumava ser,” disse Walsh.
O problema com a tecnologia autônoma é, de acordo com Walsh,
o fato de que possui um duplo uso, o que significa que exatamente os
mesmos processos que são realizados por criações artificiais benéficas
também são usados nos armamentos inteligentes. Walsh disse que, embora seja importante que continuemos a desenvolver essa tecnologia,
já que os benefícios para toda a humanidade serão aparentemente
infinitos, os controles e os equilíbrios devem ser acordados para
garantir que a segurança das pessoas em todo o mundo seja considerada
primordial.
Espera-se que os peixes encolham em tamanho, de 20 a 30 por cento, se a temperatura do oceano continuar a subir devido a mudanças climáticas.
A reportagem é publicada por University of British Columbia, traduzido e editado por Henrique Cortez, e reproduzido por EcoDebate, 24-08-2017.
Um novo estudo realizado por pesquisadores da Universidade da Colúmbia Britânica fornece uma explicação mais profunda porque, com as mudanças climáticas e o aquecimento das águas, os peixes devem diminuir em tamanho.
“Os peixes, como animais de sangue frio, não podem
regular suas próprias temperaturas corporais. Quando as águas ficam mais
quentes, seu metabolismo acelera e eles precisam de mais oxigênio para sustentar suas funções corporais ”, disse William Cheung, coautor do estudo, professor associado do Institute for the Ocean and Fisheries e diretor de ciência da Nippon Foundation - Programa do Núcleo da UNIBA. “Há um ponto em que as brânquias não podem fornecer oxigênio suficiente para um corpo maior, então o peixe simplesmente para de crescer”. Daniel Pauly, principal autor do estudo e pesquisador principal do Sea Around Us, no Instituto para o Oceano e as Pescas, explica que, à medida que o peixe cresce até a idade adulta, sua demanda por oxigênio aumenta porque a massa corporal dele se torna maior. No entanto, a área superficial das brânquias – onde o oxigênio é obtido – não cresce ao mesmo ritmo que o resto do corpo. Ele chama este conjunto de princípios, que explica por que os peixes devem encolher, de “teoria da limitação de oxigênio branquial”.
Por exemplo, um peixe como o bacalhau aumenta seu peso em 100 por
cento, suas brânquias só crescem em 80 por cento ou menos. Quando
entendido no contexto da mudança climática, esta regra biológica reforça a predição de que o peixe diminuirá e será ainda menor do que o avaliado em estudos anteriores. As águas mais quentes aumentam a necessidade de oxigênio do peixe, mas a mudança climática resultará em menos oxigênio nos oceanos. Isso significa que as brânquias têm menos oxigênio
para fornecer a um corpo que já cresce mais rápido do que elas. Os
pesquisadores dizem que isso obriga o peixe a parar de crescer em um
tamanho menor para poder atender às suas necessidades com pouco oxigênio
disponível para eles.
Algumas espécies podem ser mais afetadas por essa combinação de
fatores. O atum, que se movimenta rapidamente e requer mais energia e oxigênio, pode encolher ainda mais quando as temperaturas aumentam. Peixes comerciais de tamanho menor do que agora terão um impacto na produção pesqueira, bem como a interação entre organismos nos ecossistemas.
O estudo de Pauly e Cheung “Sound physiological knowledge and
principles in modeling shrinking fishes under climate change” foi
publicado na Global Change Biology doi: 10.1111 / gcb.13831.
Por que o PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) submete os
livros didáticos à avaliação das instituições de ensino superior se o
livro é destinado à educação básica? Por quê, se serão os
professores da educação básica que deverão escolher os seus livros
didáticos? Se aos olhos do MEC os docentes da Educação Básica não têm a
competência para a avaliação dos livros, não deveriam ter de escolher
entre os “livros aprovados” e, por outro lado, se se admite terem eles a
competência para escolher, por que não participam da avaliação, em
paridade de condições com especialistas acadêmicos, gestores dos
sistemas de ensino, mães, pais, alunas e alunos? Não deveriam todos os
interessados ter a oportunidade, por direito e competência num sentido
muito além da competência institucionalizada, de dizer o livro que
almejam e de avaliar os livros que têm sido produzidos? Como política
pública de relevância nacional, o PNLD poderia ganhar em eficácia e
eficiência se estruturado a partir de um marco regulatório que
definisse, inclusive, os parâmetros de qualidade de um livro didático, a
partir de ampla, inclusiva, participativa e paritária decisão de todos
os interessados ou afetados pelo livro didático.
O marco regulatório para o setor deveria considerar ao menos três
dimensões: qualidade pedagógica, científica e editorial do livro
didático; transparência e normatização do processo de escolha;
integração consistente com uma política para o mercado editorial,
considerada a maximização da equanimidade nas condições de oferta,
acesso e preço. Pode-se alegar que a primeira dimensão abordada já está
prevista na política do livro didático. Não é bem assim. A fixação da
qualidade do livro didático não está fixada num marco regulatório
permanente – ainda que sujeito a mudanças, construída por processo
coletivo inclusivo, em que se leve em conta a experiência acumulada de
todos os sujeitos afetos, de editores e pesquisadores acadêmicos aos
docentes e discentes da escola básica. A lacuna, no caso, é a
inexistência de uma política participativa de avaliação, o que poderia
elevar o seu grau de accountability e a sua efetividade. O
ideal seria que todos os sujeitos interessados participassem do Programa
e da construção de seu marco regulatório a partir de sua concepção e
não somente no momento da avaliação dos livros inscritos. Algo similar
se poderia dizer da segunda dimensão: o processo de escolha está
fracamente institucionalizado, desde que os procedimentos burocráticos
previstos, a despeito de sua normatização legal e gestão por sistema
informatizado federal, peca no que diz respeito ao acesso à informação.
Uma política pública, ainda mais em se tratando de avaliação, não
prescinde (ou não deveria prescindir) de ser acompanhada de um processo
massivo de informação e treinamento para o próprio processo. Se ao
professor não está garantido o conhecimento necessário sobre o processo
de escolha do livro didático, dado que sequer ele tem acento na
avaliação dos livros inscritos no programa, o trabalho reduz-se à lógica
mercadológica da publicidade editorial. Por outro lado, a terceira
dimensão sugere a integração da política de gestão do PNLD às demais
políticas da área educacional (um exemplo seria a construção de
parâmetros de qualidade do livro didático relacionados à BNCC), assim
como sua integração com políticas de barateamento dos custos industriais
do livro no Brasil. Por exemplo, envolver “a ponta do mercado”, as
livrarias, no processo distributivo, com rubrica própria no Orçamento da
pasta educacional, em nível ministerial, talvez contribuísse para
diluir custos relacionados à distribuição dos livros diretamente pelas
editoras, além de permitir que outros agentes econômicos concorressem no
processo e não somente as corporações de grande capital. Outras medidas
de interesse também poderiam ser avaliadas, como a exigência de
percentual de capital nacional das corporações envolvidas, fixação de
parâmetros para a divulgação das obras, centralizadas por gestão
ministerial, em convênio com as secretarias estaduais de educação e
tendo como operadores as livrarias, fixação de parâmetros e princípios
para a publicidade do livro didático, emprego de material reciclável na
produção gráfica etc. Por que o PNLD, como política pública incide exclusivamente sobre a avaliação e não a distribuição?
Ora, a avaliação dos livros didáticos é objeto relevante de política
pública nacional, porém, tem sua eficácia social comprometida quando, na
distribuição dos livros didáticos obtém vantagem a grande editora (que
no caso brasileiro é cada vez mais controlada por capital estrangeiro). O
MEC deveria compreender que se a distribuição não é acordada com
escolas, agentes do mercado, professoras e professores, gestores dos
sistemas de ensino e alunas e alunos, e controlada por regras de
imparcialidade, publicidade e transparência, entra em ação a lógica da
guerra de mercado, em que chegam às escolas somente os livros de
editoras com capital suficiente para investir em publicidade,
distribuidores nacionais (os “divulgadores”) e ações promocionais. O que
isso tem a ver com a tão festejada qualidade do livro didático, segundo
o MEC? Um mistério. A distribuição do livro didático deveria ser
tratada como ponto crítico dessa política pública, justamente por
tratar-se do momento do processo em que a disputa do interesse comercial
compromete as bases e os princípios do programa. Todo o trabalho –
limitado, por estar restrito aos profissionais das instituições de
ensino superior, é comprometido quando, no processo de divulgação e
distribuição, abandona-se à coordenação do processo à esfera regional ou
estadual, e permite-se que a escolha do livro por parte do docente da
educação básica seja influenciada por ações de marketing. Permitir que
as secretarias estaduais de ensino gestem o processo de escolha do livro
didático significa, na prática, o Ministério da Educação abandonar a
condução objetiva da educação pública aos espaços de maior influência
das corporações empresariais e de outros interesses privatistas no
setor. É recorrente e gritante a alegação de docentes da falta de
informação suficiente do processo previsto no PNLD (e aqui nem estamos
considerando alunos e famílias), assim como tem sido constante as
alegações de práticas abusivas no processo de divulgação e promoção das
obras. Tudo isto poderia ser bem equacionado por uma revisão do processo
de gestão, do tipo de convênio firmado entre a União e os Estados e
Municípios e pela criação de um marco regulatório para o setor. Não seria questão de justiça política, equidade, fair play
comercial e elevação da qualidade das produções didáticas o MEC
promover, com a participação incisiva do docente da educação básica, a
criação de um marco regulatório para o setor? Pelo qual editoras,
autores, gestores, livreiros, professoras, professores, mães, pais,
alunas e alunos pudessem se pautar em decisões curriculares e didáticas
consistentes? Afinal, a cada edição do PNLD há alterações no desenho do
edital, ainda que mínimas, nos critérios de avaliação, nas exigências
formais etc., de modo que as editoras e os autores necessitam de um
grande esforço para ajustarem as suas obras, dedicando muito tempo em
procedimentos burocráticos – para atender o edital! – e menos tempo do
que poderiam para evoluir os seus livros. Do mesmo modo, docentes
frequentemente tem de alterar os seus percursos didáticos a fim de
adaptarem-se às novas obras aprovadas.
Sem contar que a avaliação do PNLD, sendo avaliação cega que garante
maior transparência (princípio constitucional) ao processo avaliativo,
por vezes, se apresenta cega num outro sentido, pois que a universidade
não é espaço homogêneo e os campos científicos e disciplinares não
cultivam critérios exatos e consensuais no que tange à didática de suas
disciplinas. Disso decore que bons livros didáticos, ao olhar dos
docentes da Educação Básica, são reprovados sob a visão do especialista
da universidade, por vezes até pelo comportamento exclusivamente
burocrático do avaliador ante a ausência de uma legenda numa imagem! Um
completo non sense, mas já ocorreu em avaliação do tipo aqui considerado.
Caso exemplar para a disciplina Sociologia é a reprovação do livro Sociologia para o Ensino Médio,
dos professores Nelson Dacio Tomazi e Marco Antônio Rossi. Os
argumentos utilizados na justificativa da reprovação indicam
desconhecimento da obra reprovada e pouca compreensão sobre o sentido do
ensino da disciplina no Ensino Médio. Isso apenas tem lugar, ao meu
ver, porque se atribui ao pesquisador da universidade uma autoridade
inconteste, na mesma medida em que se exclui a escola do processo. Outro
exemplo é a preocupação externada quanto a nova seção “Aprendendo com
jogos”, do livro Sociologia para Jovens do Século XXI, de Luiz
Fernandes de Oliveira e Ricardo Cesar Rocha da Costa. O alerta diz
respeito à inexistência de computadores em muitas escolas e às
dificuldades em se fazer uso de jogos em sala de aula. Entretanto, mais
uma vez os avaliadores ou os colegas que elaboraram o Guia do Livro
Didático (pois que o processo é bastante burocrático e os textos
resultantes da avaliação podem passar por muitas mãos, revisões e
reescritas) denotaram desconhecimento parcial do texto que avaliaram,
pois que a proposta elaborada na seção é de uso e aplicação pedagógica
da experiência de jogo, não de sua utilização em sala de aula.
Em muitos casos, as propostas de atividades apresentadas dispensam o uso
de recursos computacionais em sala de aula. A preocupação externada
fica ainda mais destoante quando se atenta para o fato de que ao menos
1/3 das propostas elaboradas não aplicam jogos digitais! Ainda mais
grave é um avaliador aparentar desconhecer as necessárias mediações,
finalidades e limitações do ensino de qualquer disciplina científica em
âmbito escolar. Veja-se, novamente, o caso da preocupação com as
propostas de aprendizagem a partir da experiência com jogos (com
qualquer jogo, em suporte digital ou físico, como jogos de cartas, por
exemplo): ao afirmar a inexistência de salas de informática nas escolas o
alerta assume uma visão de escolaridade restrita ao espaço escolar e
supõe que os jovens não jogariam por não acessarem computadores nas escolas.
No entanto, eles jogam! Tais distorções quanto à natureza do ensino na
educação básica apenas são possíveis devido à excessiva burocratização
do processo avaliativo e a sua restrição ao especialista do campo
científico acadêmico. Por que, dado tratar-se de política pública, o PNLD não está integrado às demais dimensões do setor educacional?
Senão, vejamos: não é exigido para os sistemas particulares (algo
incompreensível, por modo de dizer), não envolve as livrarias no
processo de compra e distribuição dos livros (o que poderia contribuir
para o seu barateamento se a distribuição ficasse sob a responsabilidade
de livrarias, com rubrica orçamentária da pasta da educação, o que
reduziria os custos das editoras e permitiria que outros agentes
econômicos ingressassem num mercado altamente concentrado) e não
estabelece ponte direta entre Ministério e escolas (onde a direção da
unidade escolar deve inserir a escolha do docente, quando os próprios
docentes deveriam proceder ao registro do livro selecionado). Ao incluir
as secretarias estaduais de ensino, o processo abre espaço para todo o
tipo de manipulação e ingerência indevida, senão ilegal, sobre o
processo de escolha. Exatamente porque transfere uma política de Estado
para a esfera da política regional ou local. Uma política pública que
tem por finalidade uma única dimensão de algo complexo não é eficaz para
além da retórica. O livro didático não se reduz a sua qualidade
pedagógica intrínseca, por assim dizer, mas é objeto complexo inserido
em estrutura de relações econômicas, culturais, semióticas, políticas,
legais e pedagógicas diversas. O PNLD deveria integrar mais preocupações
que a qualidade técnica do livro sob o olhar de especialistas
acadêmicos. Por que somos aturdidos em todas as edições do PNLD com
recorrentes alegações de que algumas secretarias de educação nos estados
antecipam o período de escolha do livro didático sem que nenhuma ação
de apuração ou controle seja esboçada pelo Ministério da Educação?
Chegou-se a dizer que secretarias de educação orientam os professores
que preencham a lápis a ficha de seleção do livro didático? Acaso isso
seria a propósito de “corrigir” a escolha do livro segundo a
conveniência da secretaria? Por quê? Seria para facilitar a logística de
distribuição dos livros? Mas fica a dúvida: se a distribuição tem
origem no MEC, que adquire os livros por meio de contratos de compra em
quantidades compatíveis com as informações preenchidas em sistema online
pelas direções das unidades escolares (por sua vez definidas pelas
escolhas autônomas dos professores, que deliberam coletivamente por
disciplina), e passa pelas editoras, que devem providenciar a impressão
gráfica e o envio dos livros, restando às secretarias a (difícil?)
tarefa de entregar os livros em cada escola sob sua jurisdição, ou
melhor, a gestão, supervisão e coordenação do processo de distribuição
(dado que são as editoras que têm de entregar os livros na quantidade
especificada no contrato com o MEC), o que efetivamente gera problemas
de logística, a escolha por parte dos docentes de livros distintos para
as diferentes escolas ou a gestão administrativa das secretarias?
Porque a escolha de livros diferentes para contextos e propostas
pedagógicas escolares distintas nada tem a ver com a operação de
distribuição dos livros. O problema da distribuição é questão
administrativa do órgão gestor, que tem a obrigação de respeitar a
especificidade dos contextos escolares e a prerrogativa de autonomia
docente sobre o livro mais adequado ao perfil de suas alunas e de seus
alunos. Se admitirmos o argumento da facilidade de distribuição se
somente um livro for adotado, então deveríamos esperar dificuldades do
próprio Ministério da Educação no controle sobre diferentes obras e
consequentes contratos com diferentes editoras. Melhor seria a escolha
do livro único ser definida em nível ministerial e o contrato, celebrado
com uma única editora para todo o território nacional! Algo,
naturalmente, absurdo. Ocorre que nada disso se justifica. Sobretudo,
pelo violento desrespeito à autonomia de professoras e de professores. Por fim, porém não menos importante: por que o MEC anunciou alteração na política de avaliação do PNLD, em direção a um modelo ainda menos transparente e nada participativo?
A notícia sugere que a avaliação será por equipe composta nem por
edital público nem por concurso, mas por “escolha do Ministério”. Sobre
isso, creio que este texto já fornece elementos suficientes para o
debate.
Essas são questões que julgo graves e que mereceriam de todos mais do que a repetição pura e simples do lugar comum da importância do PNLD.
Aos que festejam acriticamente o programa recordo que porque o PNLD é
de grande importância mereceria de nós um olhar mais discreto e crítico
sob a intenção de garantir-se que seus objetivos acumulem eficácia e
eficiência, seja em termos de resultados pedagógicos seja em termos de
resultados de sua gestão como política pública.
Ao pesquisar para escrever este artigo no dia em que brasileiros
lembram que há 63 anos Getúlio Vargas se suicidou esperando que, com
esse gesto, poderia ajudar o Brasil a cair na real e tornar-se
finalmente um país independe, encontrei uma reportagem
informando que o senador Aécio Neves se encontrou com o presidente
Temer, no dia 15 de agosto, para salvar a Cemig de perder metade de seu
parque gerador.
“Nós sabemos que, em razão de uma iniciativa desastrada e
irresponsável da presidente Dilma em 2012, a Cemig vê hoje a
possibilidade de perder 50% de seu parque gerador de energia porque as
hidrelétricas de Jaguara, de São Simão, e Miranda estão com leilão
marcado para o mês que vem”, disse. “O que nós estamos buscando é uma
alternativa, que permita ao governo receber — mesmo que não
integralmente — uma parcela daquilo que seria previsto num eventual
leilão”, completou o ex-governador de Minas, pelo que li.
A Cemig está quebrada, conforme seu presidente, Bernardo Alvarenga, em entrevista feita no final de junho à Rádio Itatiaia.
Quer vender a Light e outras subsidiárias para pagar uma dívida de R$
16 bilhões. O presidente estima que, entre este ano e o ano que vem, a
empresa tenha que pagar R$ 9 bilhões.
Culpa da Dilma? Ou culpa de Aécio e seu substituto no governo de
Minas, Antonio Anastasia, que resolveu, em dezembro de 2012, não renovar
antecipadamente os contratos de concessão das hidrelétricas de São
Simão, Salto Grande e Volta Grande, porque faziam oposição à presidente
da República?
Aécio era governador e Anastasia seu vice, quando o governo de Minas
decidiu vender, sem licitação, parcela importante do capital da Cemig à
Andrade Gutierrez e, com esse grupo, embarcar na construção da
Hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira. E comprar a Light…
Uma história que veio a propósito do anúncio da venda da Eletrobrás. E
que remete ao Brasil pobre do início do século 20 e que tentou, com
Getúlio Vargas, sair da pobreza via exploração do petróleo e da
eletricidade. Um sonho que vai se desfazendo com Michel Temer – aquele
com quem Aécio se encontrou, num abraço de afogados nas águas da Lava
Jato.
Li AQUI
que o segundo governo Vargas (década de 1950) “buscou estabelecer novas
bases financeiras e institucionais para o desenvolvimento do setor
elétrico, apresentando ao Congresso Nacional os projetos do Fundo
Federal de Eletrificação (FFE), do Imposto Único sobre Energia Elétrica
(IUEE) e da Eletrobrás. Os projetos do FFE e do IUEE foram convertidos
em lei em agosto de 1954, uma semana depois do suicídio do presidente. O
projeto da Eletrobrás seria aprovado apenas em 1961, com diversas
modificações de seu texto original, considerado excessivamente
centralizador. Antes da constituição da empresa holding federal, o Fundo
Federal de Eletrificação foi administrado pelo Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico (BNDE), fundado em 1952. O projeto do Plano
Nacional de Eletrificação, também proposto por Vargas, não teve a mesma
sorte dos anteriores, sendo arquivado pelo Congresso. O plano previa a
duplicação da capacidade instalada de energia elétrica do país até 1965,
contemplando diversas obras iniciadas ou programadas por
concessionárias privadas e públicas, como a Cemig.”
A Cemig foi fundada em maio de 1952 pelo governador Juscelino
Kubitschek. Cresceu muito desde então, passou a ter suas ações
negociadas nas bolsas de Nova York e Madri, foi sendo privatizada aos
pedaços e agora, revela seu presidente, está quebrada.
A Eletrobrás, nascida quase dez anos depois, teve uma trajetória
parecida. Tem hoje 37 hidrelétricas, 114 termoelétricas, duas usinas
nucleares, 69 eólicas e uma solar próprias ou em sociedade, que
respondem por 31% da geração de energia elétrica do Brasil.
Li muito a respeito desse projeto de Temer nos últimos dias. Poderia
citar vários autores, mas fico com Arnaldo Mourthé, em artigo publicado aqui.
A privatização da Eletrobrás, diz Mourthé, pode nos esclarecer sobre os
desmandos e a traição do governo, que “age de forma desavergonhada
contra o Brasil e seu povo”. Prossegue:
“Comecemos pelos valores financeiros
em jogo. A venda da Eletrobrás produziria uma arrecadação de R$ 20
bilhões. Comparemos esse valor com o que os governos brasileiros
gastaram nos últimos anos em despesas questionáveis.
A Copa do Mundo, em 2014, custou R$ 26
bilhões aos cofres públicos. A Olimpíada, de 2016, custou ao todo R$
38,26 bilhões, dos quais R$ 14 bilhões públicos. Em 2013 houve subsídios
do governo federal à indústria automobilística de R$ 19,31 bilhões, o
dobro do que foi investido no transporte público. Nem vamos falar nas
vendas de licenças de exploração de petróleo, que todos conhecem, nem do
fatiamento da Petrobras, para enfraquecê-la e depois privatizá-la
totalmente.”
Vou parar por aqui, para não chorar. Não sem antes, porém, indicar a leitura dessa entrevista na Carta Capital
em que um professor da USP, Ildo Sauer, especialista em energia, diz
que recebe “sem espanto e sem alegria” os planos do governo Temer para a
venda da estatal.
Sem espanto, talvez, porque Sauer conhece bem a história da dominação
do Brasil e o caráter de Michel Temer e seus aliados, como Aécio Neves.
Como, porém, não se espantar?
“Espero que as pessoas de bem saibam que cortar a Bolsa Família das
pessoas extremamente pobres do Brasil poderá produzir um verdadeiro
genocídio, porque em sua grande maioria, em especial nos sertões, estes
brasileiros poderão morrer de fome e das doenças derivadas da
subnutrição”.
É o que diz Walquiria Domingues Leão Rego, professora de Teoria
Social no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp e
coautora do livro “Vozes do Bolsa Família – Autonomia, Dinheiro e Cidadania” publicado em 2013 pela Editora da Unesp. O artigo pode ser lido AQUI.
Segundo Walquiria, o programa foi sendo aperfeiçoado ao longo dos
anos, com a criação de programas transversais, como Brasil Carinhoso e
Brasil Nutriz, que trouxeram benefícios muito grandes à saúde das
crianças. “Por tudo isto, o programa Bolsa Família recebeu inúmeros
prêmios internacionais, inclusive da própria ONU”, diz a autora. “Os
cortes já feitos ao programa pelo governo ilegítimo de Michel Temer
tiveram como justificativa correção de desvios, o que representa uma
grande mentira”, acrescenta.
Para a autora, não se justifica cortar os recursos destas pessoas, a
não ser para “responder à sanha preconceituosa e mal informada da classe
média paneleira. Na verdade, tornar ainda mais garantido o saque a
nação para ampliar os lucros de rentistas de todos os naipes”, completa.
Darcy Ribeiro, lembra a autora, nos alertou que a elite brasileira é
escravocrata e desenvolveu durante séculos uma insensibilidade social
pouco vista no mundo. “Sua crueldade com os pobres e desvalidos não tem
limites”, diz Walquiria. “Pensa apenas em rapinar o país e usufruir de
sua rapinagem lá fora”.
Pior, com a ajuda da imprensa, que manipula principalmente a classe média:
“Sua profunda ignorância das causas da pobreza a faz seguir e andar
como embriagada pelo ódio aos pobres, vitaminada pela televisão e pelas
revistas de baixo nível, compondo um conjunto sinistro de iniquidade
moral e política. E a grande mídia, sem nenhuma grandeza, todos os dias
zomba, insulta o povo brasileiro, com suas mentiras sistemáticas, com
seu jornalismo manipulativo que omite a informação dos fatos para
propagandear sua tosca visão de mundo. Temos propaganda e não
jornalismo. O resultado disto sobre os consumidores desta pobreza
intelectual é a perpetuação da desinformação em todas as classes
sociais, impera uma espessa e profunda incultura que torna a classe
média, por exemplo, incapaz de raciocinar e a conduz ao abraço de morte
com as soluções antidemocráticas no que esta tem de mais grotesco”.
Segundo a autora, o governo está economizando no programa Bolsa
Família, que gasta 0,5 do orçamento nacional, “para garantir recursos da
nação para ricos banqueiros e rentistas, o que é apresentado pelos
analistas financeiros, colunistas cativos de jornais e televisões como
fenômeno natural, inevitável da vida social”. Prossegue Walquiria:
“A naturalização da rapinagem conforma talvez o fetiche mais enevoado
da contemporaneidade brasileira. A operação dívida pública expropria
dos brasileiros mais de 40 por cento do orçamento da União. Isto
sim drena recursos da nação. (Lazzarato, M. Governing by Debt.) Os juros
pagos altíssimos, a maior taxa do mundo, favorecem, com este privilégio
a apropriação do orçamento nacional por pouco mais de 70 mil famílias
bilionárias. Este grupo derruba governos, impõe sua agenda política e
social sem nenhum pudor democrático, pois não respeita, como se viu, o
voto popular.”
O rentismo constitui hoje o centro do poder efetivo, define
Walquiria. “Por esta razão, não se vê nenhum protesto aos cortes do
programa Bolsa Família, pois cortam a carne dos sem voz pública, dos
invisíveis. Nenhuma solidariedade com o destino de seus concidadãos”,
conclui a autora.
Alguns dados respaldam esse raciocínio. Só no mês passado, 543 mil
pessoas foram retiradas do programa Bolsa Família, para economizar R$
100 milhões por mês. Desde que Temer assumiu o governo, foram 1,2 milhão
de excluídos. Vale assistir a essa reportagem da TVT.
De que vale essa economia diante do que o governo gasta para pagar os
juros da dívida pública, que têm aumentado muito desde que Dilma
Rousseff sofreu o impeachment em maio do ano passado? Em 2015, a dívida estava em R$ 2,793 trilhões,
passou para R$ 3,11 trilhões no fim de 2016 e deve chegar em dezembro
próximo a R$ 3,65 trilhões. A dívida em relação ao Produto Interno
Bruto, que era de 76% no final do governo de Fernando Henrique Cardoso e
de 62% no fim do governo Lula, voltou para 76% em 2016, mais da metade
do qual já sob o governo Temer. E deve chegar a 81% no fim deste ano.
Com todos esses cortes e com a disparada da dívida, pode ir a 92% em
2021. Só perdendo, então, para 1989, no governo FHC, quando houve a
maxidesvalorização do real e a dívida chegou a 100% do PIB.
Vamos agora à evolução dos juros pagos pelo governo sobre essa
dívida. Em 2012, R$ 207 bilhões; em 2013, R$ 218 bilhões; em 2014, R$
243 bilhões; em 2015, R$ 367 bilhões; e em 2016, R$ 330 bilhões. Mais aqui.
Neste ano, por enquanto, não se sabe a quantas andam. A imprensa pouco se interessa pelo assunto. Por exemplo, nessa notícia do G1,
de julho, informa-se apenas: “Ao mesmo tempo, as despesas do governo
com o pagamento de juros, que totalizaram R$ 34,36 bilhões no mês
passado, também impulsionaram a dívida pública”.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, aprecia esse desinteresse
da imprensa. Com dupla cidadania, brasileira e americana, ele foi por 12
anos presidente do BankBoston, quando esse banco dos Estados Unidos aparecia como o segundo maior credor do Brasil.
Depois de se aposentar, foi convidado a presidir o Banco Central do
Brasil no governo Lula, ficando no cargo entre 2003 e 2011. Nos quatro
anos seguintes, até ser chamado por Michel Temer para ser ministro da
Fazenda, ele foi presidente do Conselho de Administração da J&F
Investimentos, do grupo de Joesley Batista, dono também da Friboi.
Definitivamente, alguém que não precisa do programa Bolsa Família para sobreviver nesses tempos de desemprego alto.
Todo mundo já está há dias comentando sobre o que houve em Charlottesville, inclusive o discurso posterior de Trump, criticado até por seus pares republicanos. Todo mundo está de olho
na “alt-right” (direita alternativa) dos Estados Unidos, no retorno do
KKK, na força que grupelhos neonazistas vêm ganhando desde que Trump
assumiu o poder por lá. Todo mundo fica assustado quando vê um vídeo tão
completo e corajoso como este produzido pela “Vice”, que já teve 3
milhões de visualizações em três dias.
O que eu quero acrescentar a isso é que este não é um problema
restrito aos Estados Unidos. E não me refiro apenas a ódio racial, como o
que ocorre lá, mas a ódio de classe, como ocorre por cá, no Brasil. É isso o que acontece quando radicais, fanáticos e ignorantes saem dos antros obscuros da internet, com seus memes e comentários irracionais, e partem pras ruas.
Quanto tempo levará para isso acontecer no Brasil? No Brasil que tem um sujeito como Bolsonaro disparando em pesquisas eleitorais com base em discurso parecido com o elegeu Trump nos EUA (baseado em mentiras, ou, como preferem alguns, na pós-verdade)?
[A pós-verdade é tanta que, no Brasil, já tem gente dizendo que o
protesto autointitulado “Unir a Direita”, que resultou em três mortos e
diversos feridos nos Estados Unidos, era um movimento com origem na
esquerda.]
Eu espero que nunca aconteça nada tão absurdamente apavorante assim
no Brasil, neste Brasil que já tem pessoas defendendo abertamente a
volta da ditadura militar e tem até um presidenciável homenageando um sujeito reconhecido pela Justiça brasileira como torturador.
A lógica desse pessoal, infelizmente, se parece muito com a do
extremista de direita entrevistado pela repórter da “Vice” que disse,
com todas as letras, que o criminoso que atropelou aqueles manifestantes
na rua agiu de forma “mais que justificada”.
Os motivos e origens históricas dos discursos são diferentes, mas a
lógica, ah, a lógica, ela é igualzinha. É ela que diz que torturar e matar é justificável
(“mais que justificável”) se atender aos meus interesses, se estiver do
meu lado. Eles se esquecem que – brancos ou negros, ricos ou pobres –
no fim das contas somos todos apenas humanos.
(fonte: https://kikacastro.com.br/2017/08/18/charlottesville-vice/#more-14259)
São Paulo deverá ter mais chuva nos próximos anos, indica pesquisa
A reportagem é de Peter Moon, publicado por Agência FAPESP, 16-08-2017.
As mudanças climáticas estão alterando o padrão de chuvas no Brasil, particularmente no Sudeste.
É o que indica uma nova pesquisa que aponta um aumento médio tanto no
volume de água quanto na média de dias em que chove no Estado de São Paulo. O trabalho foi feito com mais de 70 anos de dados meteorológicos.
No Rio de Janeiro e no Espírito Santo,
a estimativa é de redução no volume médio da precipitação para os
próximos anos, mas com concentração em menos dias e ocorrência de mais
eventos extremos. Ou seja, deverá chover menos, mas com chuva mais intensa e tempestades mais frequentes.
As conclusões estão em artigo publicado no International Journal of Climatology.
“Um modo interessante de entender as mudanças climáticas é
pensar em um clima com esteroides anabolizantes. Estamos vendo em todo o
mundo o aumento da frequência de eventos extremos. O intuito de nossa
pesquisa foi tentar entender como isso está ocorrendo no Sudeste brasileiro, a região mais populosa do país”, disse Leila Maria Vespoli de Carvalho, professora associada no Departamento de Geografia da University of California em Santa Barbara, uma das autoras da pesquisa.
Outra autora, Marcia Zilli, doutoranda no mesmo departamento, sob orientação de Carvalho, explica que a pesquisa partiu da reunião e análise dos dados meteorológicos da região Sudeste provenientes de duas fontes: a Divisão de Ciências Físicas do Earth System Research Laboratory, no Colorado, e as 36 estações meteorológicas individuais no Sudeste brasileiro operadas por diferentes agências brasileiras, com dados disponibilizados pela Agência Nacional de Águas.
“Embora a grande maioria dos dados obtidos esteja circunscrita a um
período de mais de 70 anos, compreendido entre 1938 e 2012, várias
estações meteorológicas têm registros mais antigos, das décadas de 1910 e
1920. De uma estação meteorológica na cidade de São Paulo, conseguimos dados desde 1888”, disse Zilli.
Participaram do estudo Brant Liebmann, da National Oceanic and Atmospheric Administration, e Maria Assunção Faus da Silva Dias, professora titular no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo. Assunção foi a orientadora de doutoramento de Carvalho. O trabalho contou com apoio da FAPESP.
Os pesquisadores focalizaram o período de maior precipitação no Sudeste brasileiro, que vai de outubro a março. Ao longo da amostragem, verificaram a quantidade de dias sem chuva, a quantidade de dias com chuvas fracas (menos de 5 milímetros) e a quantidade de dias com chuvas intensas ou extremas, e tempestades.
“A manipulação estatística do conjunto dos dados serviu para estabelecer quais foram os padrões do regime de chuvas na região Sudeste verificados até o momento e, a partir disso, projetar as tendências para o futuro”, disse Zilli.
Observou-se que as precipitações estão diminuindo na parte norte da região Sudeste, sobre o Rio de Janeiro e o Espírito Santo, e aumentando no Sul. E a tendência é que esse padrão continue nos próximos anos.
“Essas tendências estão se tornando mais dramáticas. Isso vai ficar
mais frequente e pior. Onde chove muito vai chover mais. Onde há seca
vai ficar mais seco. O governo e a população precisam entender o que
está acontecendo com o clima para planejar e melhor se adaptar às
mudanças”, disse Carvalho. Silva Dias destaca que a concentração da chuva em menos dias no Rio de Janeiro é um indicador de tendência à aridez, mas não o único. “O manejo do solo, sua cobertura vegetal, enfim, fatores associados ao equilíbrio do ecossistema são igualmente importantes. Eles também são uma forma possível de impacto na alteração do regime das chuvas”, disse.
Padrão de extremos
Segundo os pesquisadores, as alterações no regime de chuvas observadas para a região Sudeste estão inseridas em um contexto maior, pois um dos sinais mais robustos das mudanças climáticas no Brasil é justamente o secamento no Norte e no Nordeste e o umedecimento no Sul e no Sudeste.
Muito embora os dados analisados no trabalho terminem em 2012 –
portanto não incluindo o período da seca do verão de 2014/2015 –, “ao se
acrescentar os dados mais recentes o que se verifica é que a tendência
se mantém inalterada. A seca de 2014/2015 foi um ponto fora da curva”,
disse Zilli. Silva Dias ressalta que a seca entre 2014 e 2015 faz parte de um padrão global de extremos. “Ao mesmo tempo que em São Paulo tivemos seca, aconteceram inundações extremas na região Norte do Brasil.
Pontos fora da curva, para mais e para menos, seguindo essa tendência,
devem aparecer com maior frequência nos próximos anos do que no
passado”, disse.
“Os efeitos sobre a cidade de São Paulo já estão
sendo sentidos com grande intensidade. Os extremos estão ficando cada
vez mais intensos. As ilhas de calor em uma cidade do tamanho de São Paulo criam condições para a formação de tempestades. A proximidade do oceano Atlântico ajuda a formação dessas tempestades com o fornecimento de vapor d’água”, disse a professora do IAG.
Nota:
O artigo A comprehensive analysis of trends in extreme precipitation
over southeastern coast of Brazil (doi: 10.1002/joc.4840), de Marcia T.
Zilli, Leila M. V. Carvalho, Brant Liebmann, Maria A. Silva Dias, pode
ser lido em http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/joc.4840/abstract
Em artigo publicado em agosto pela MIT Technology Review[1], o músico e escritor nova-iorquino David Byrne, autor do livro “How Music Works” escreve algo muito interessante sobre a tecnologia envolvida na denominada Revolução 4.0.
Ele afirma que o desenvolvimento tecnológico e a inovação recente,
durante a última década, têm uma agenda não pronunciada: a de criar a
possibilidade de um mundo com menos interação humana. E longe de ser
apenas um “bug” desta tecnologia, ele aponta isso como uma
característica dela.
A tecnologia de que estamos falando não reivindica ou reconhece que a
eliminação da necessidade de lidar diretamente com os humanos é seu
principal objetivo, mas é este o resultado de um número surpreendente de
casos, afirma Byrne. A julgar pela evidência, essa conclusão parece incontornável. A maioria das notícias tecnológicas é sobre algoritmos, inteligência artifical, robôs e carros auto-dirigidos,
todos os quais se encaixam nesse padrão. Não estou dizendo que tais
desenvolvimentos não sejam eficientes e convenientes. Este não é um
julgamento. Estou simplesmente percebendo um padrão, afirma ele[2].
Mais ainda, para Byrne, neste desenvolvimento
tecnológico a interação humana é muitas vezes percebida, desde a
mentalidade de um engenheiro, vista como complicada, imperfeita,
ineficaz e lenta. Então, sobram motivos para eliminá-la ao máximo, para
tirar a parte humana do caminho. E o problema é que quando se tem tanto
poder sobre o resto do mundo, como o setor de tecnologia tem sobre as
pessoas, muitas delas que talvez não compartilhem dessa visão de mundo,
existe o risco de um estranho e incômodo desequilíbrio.
Mas quais são os efeitos de menor interação? Ele aponta que para nós,
como sociedade, menos contato e interação - interação real - parece
levar a menos tolerância e compreensão da diferença, além de mais inveja
e antagonismo. Como já foi evidenciado recentemente, as mídias sociais
realmente aumentam as divisões, ampliando os efeitos de eco e nos
permitindo viver em bolhas cognitivas. Somos alimentados com o que já
gostamos ou com os amigos semelhantes (ou, mais provavelmente, o que
alguém nos pagou para ver em um anúncio que imita conteúdo). Desta
forma, nós realmente nos tornamos menos conectados - exceto para aqueles
em nosso grupo. As redes sociais também são uma fonte de infelicidade. Byrne cita estudo realizado no início deste ano por dois cientistas sociais, Holly Shakya na UC San Diego e Nicholas Christakis em Yale, mostrando que quanto mais as pessoas usam o Facebook,
pior se sentem sobre suas vidas. Embora essas tecnologias afirmem nos
conectar, o efeito certamente não desejado é que eles também nos separam
e nos deixam tristes e invejosos.
“Não estou dizendo que muitas dessas ferramentas, aplicativos e
outras tecnologias não são extremamente convenientes, inteligentes e
eficientes. Eu uso muitos delas sozinho. Mas, em certo sentido, elas são
contrárias a quem somos como seres humanos. Nós evoluímos como
criaturas sociais, e nossa capacidade de cooperação é um dos grandes
fatores de sobrevivência. A interação social e a cooperação, do tipo que
nos torna quem somos, é algo que nossas ferramentas podem aumentar, mas
não substituir”, afirma Byrne. Afirma ainda, que
quando a interação se torna uma coisa estranha e desconhecida, então
teremos mudado quem e o que somos como espécie. Colocamos em risco, por
exemplo, a democracia. A menor interação, mesmo a interação casual,
significa que se pode viver em uma bolha tribal - e sabemos onde isso
leva.
É possível que uma menor interação humana possa nos salvar? Segundo
ele, os seres humanos são caprichosos, erráticos, emocionais,
irracionais e tendenciosos no que às vezes parecem formas
contraproducentes. Muitas vezes parece que nossa natureza rápida e
egoísta será a nossa queda. É necessária a perfeição da racionalidade.
Ou seja há, ao que parece, muitas razões pelas quais tirar os seres
humanos da equação em muitos aspectos da vida pode ser uma coisa muito
boa. Porém, Antonio Damasio, neurocientista na UCLA, escreveu sobre um paciente que ele chamou de Elliot,
que teve um dano no lobo frontal que o deixou sem emoção. Em todos os
outros aspectos, ele era bem inteligente, saudável, mas emocionalmente
ele era Spock. Elliot não pôde tomar decisões. Damasio
concluiu que, embora pensemos que a tomada de decisão é racional e
maquinista, são nossas emoções que nos permitem realmente decidir.
Com os seres humanos sendo um tanto imprevisíveis (bem, até que um
algoritmo remova completamente essa ilusão), obtemos o benefício de
surpresas, acidentes felizes e conexões e intuições inesperadas. A
interação, a cooperação e a colaboração com outros multiplica essas
oportunidades. Somos uma espécie social. Em seu livro Sapiens, Harari
afirma que isso é o que nos permitiu ser tão bem-sucedidos. Ele também
afirma que essa cooperação foi muitas vezes facilitada pela capacidade
de acreditar em "ficções", como nações, dinheiro, religiões e
instituições jurídicas. As máquinas não acreditam em ficções - ou ainda
não. Byrne termina com um autoquestionamento: “Estou me
perguntando o que nos resta quando há cada vez menos interações humanas.
Remova os seres humanos da equação e somos menos completos como pessoas
e como sociedade. Nós não existimos como indivíduos isolados. Nós, como
indivíduos, somos habitantes de redes; somos relacionamentos. É assim
que prosperamos e prosperaremos”. Notas:
[1]. Artigo completo disponível aqui. A síntese e edição é de Lucas Henrique da Luz, colaborador do IHU.
[2]. Exemplos de tecnologias de consumo que resultam em uma menor interação humana, citadas por Byrne:
a) pedidos on-line e entrega a domicílio, que são
extremamente convenientes, como Amazon, FreshDirect, Instacart, etc. Não
apenas cortaram interações nas livrarias e nas linhas de pagamento;
Eles eliminaram toda a interação humana dessas transações, excluindo as
recomendações on-line (muitas vezes pagas para que tal livro, objeto,
serviço seja recomendado).
b) Música digital: downloads e transmissão
- não há nenhuma loja física, é claro, então não há nenhum funcionário
com quem conversar, que entenda de música e discuta com você. Alguns
serviços oferecem recomendações algorítmicas. Além disso, outros
algoritmos mostram o que seus amigos gostam e você nem precisa falar com
eles para saber. E lá se vai uma função social da música, talvez.
c) Veículos sem motoristas: existem grandes
vantagens para a eliminação de seres humanos aqui - teoricamente, as
máquinas devem dirigir com mais segurança do que os seres humanos, então
pode haver menos acidentes e mortes. As desvantagens incluem perda de
emprego maciça. Mas esse é outro assunto. O que estou vendo aqui é o
padrão consistente "eliminando o humano", eliminando a interação. E
mesmo quando tem um motorista, o sistema da a rota, o trajeto e se você
não quiser nem mesmo falar com o “driver”, não será necessário. E, o
pagamento, é feito via aplicativo, sem interação também.
d) Pagamento automatizado:
compras de mercado, comidas em restaurante, roupas em lojas, etc. É
escolher, pedir, consumir e pagar, tudo automaticamente, sem necessidade
de contato com alguém. A Amazon vem testando lojas - até lojas de
supermercado - com compras automatizadas. Eles são chamadas de Amazon
Go. A idéia é que os sensores saberão o que você pegou. Você pode
simplesmente sair com as compras que serão cobradas na sua conta, sem
qualquer contato humano.
e) Força de robô: as
fábricas cada vez mais têm cada vez menos trabalhadores humanos, o que
significa que não há personalidades para lidar, sem agitação para horas
extras e sem doenças. O uso de robôs evita a necessidade de um
empregador pensar em saúde, segurança social, impostos e benefícios de
desemprego do trabalhador.
f) Assistentes pessoais:
com reconhecimento de fala melhorado, cada vez mais pode conversar com
uma máquina como Google Home ou Amazon Echo em vez de uma pessoa.
g) Jogos de vídeo (e realidade virtual):
sim, alguns jogos online são interativos. Mas a maioria é jogada em uma
sala por uma pessoa colocada no jogo. A interação é virtual.
h) MOOCS: educação on-line sem interação direta com professores.
i) Mídias "sociais":
esta é uma interação social que não é realmente social. Enquanto o
Facebook e outros freqüentemente afirmam oferecer conexão, e oferecem a
aparência dele, o fato é que muitas mídias sociais são uma simulação de
conexão real.
No dia 05 de junho, a CNN noticiou que a
Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Egito haviam cortado
laços diplomáticos com o Estado do Catar, alegando que esse país
estaria dando suporte ao terrorismo e contribuindo para a instabilidade
na região.
O Estado do Catar é uma monarquia
tradicional governada por um emir, título equivalente a um príncipe,
atualmente Tamim bin Hamad al-Thani, e está. Assim como a maior parte
dos Estados na região, o Catar foi protetorado da Grã-Bretanha de 1916
até 1971, quando se tornou independente. Entre 1973 e 1978, como nos
principais países árabes produtores de petróleo, o Catar aumentou
consideravelmente sua produção de petróleo. No entanto, tal produção é
bastante modesta se comparada aos vizinhos do Golfo Pérsico, como a
Arábia Saudita, por exemplo. Além disso, o Catar, ao lado da Rússia e
Irã, é um dos maiores produtores de gás natural do mundo. Essa
combinação de gás e petróleo permite que o Estado catariano tenha uma
das maiores rendas per capita do mundo. Além disso, o Catar
sempre agiu de forma isolada no âmbito regional e internacional,
estabelecendo suas parcerias e projetos, independentes do posicionamento
de seu líder regional, a Arábia Saudita.
O estopim dos conflitos que deu origem às sanções começou com uma suposta gravação
em que o emir teria afirmado que o Irã é uma potência regional e que
sua posição deveria ser levada em consideração no Oriente Médio. De acordo com os Emirados Árabes Unidos, esta fala foi rastreada durante uma call entre
líderes e diplomatas do Catar. A Arábia Saudita foi o primeiro país a
se manifestar , já que é reconhecidamente rival do Irã. A monarquia
saudita alega que o bloqueio ao Catar foi necessário, pois o Irã apoia o
terrorismo internacional. De acordo com o jornal Washington Post (16-07-2017), as
gravações partiram de e-mail vazados da conta particular do embaixador
dos Emirados Árabes Unidos nos Estados Unidos, Youself al-Otaiba. O
Catar alega que os Emirados Árabes plantaram a notícia falsa, que a
fala do emir foi fabricada e que o portal e conta do Twitter da agência
de notícias do país também tinham sido alvo de ataques cibernéticos
realizados por desconhecidos. Mesmo que o Catar tenha negado a
veracidade da fala do emir, assim que a notícia se espalhou entre os
países do Golfo, houve uma grande revolta entre líderes e ministros
destes países, culminando na decisão da Arábia Saudita e seus aliados em
romper relações com o país.
Até o presente momento, o bloqueio dos
países árabes ao Estado do Catar já dura mais de 60 dias. Assim que o
bloqueio aéreo, marítimo e terrestre tomou forma, a Arábia Saudita
apresentou, no dia 22 de junho, uma proposta ao Estado do Catar com 13
pontos que deveriam ser cumpridos e adequados à legislação interna do
país, sendo que um dos pontos exigia o rompimento das relações entre
Catar e Irã e também o fechamento da rede de comunicação Al-Jazeera.
Dias depois, o governo do Catar emitiu uma nota negativa aos 13 pontos,
alegando que tem o direito de conduzir sua política externa como lhe
apraz e de forma autônoma. No ano de 2014, inclusive, Arábia Saudita e
Emirados Árabes Unidos já tinham retirado seus embaixadores de Doha em
função da aproximação com o Irã. Mas agora as medidas tomaram outras
proporções, considerando que no Catar a água é escassa e a produção
agrícola é mínima, e Arábia Saudita é o principal fornecedor de água e
comida para o país. E em função do bloqueio, o governo saudita
simplesmente parou de fornecer água e comida ao Catar, todavia vale
lembrar que o Irã tem enviado aviões com água e comida diariamente ao
Catar a fim de evitar que o país enfrente qualquer tipo de escassez.
Posteriormente, mais países árabes
aderiram ao boicote de diversas formas: Mauritânia, as Ilhas Maldivas e
Ilha Maurício anunciaram a ruptura dos laços diplomáticos com o governo
do Catar, Jordânia e o Djibuti, por sua vez, baixaram o nível das suas
missões diplomáticas no Qatar, enquanto o Senegal, o Níger e o Chade
retiraram seus embaixadores do país. A Arábia Saudita exerce grande
influência política sobre esses países, por conta da dependência
financeira e religiosa estabelecida. Mas, ao mesmo tempo, países
importantes da comunidade internacional como Estados Unidos, Turquia,
Rússia, China, Inglaterra, Alemanha e Índia pedem que a frente árabe,
liderada pela Arábia Saudita alivie as sanções impostas ao Catar e
procurem resolver suas diferenças através do diálogo, já que os mesmos
também são grandes parceiros comerciais do país bloqueado.
Do outro lado, temos os Estados Unidos,
que tem participado ativamente na região do Golfo, especialmente com o
presidente Donald Trump. No dia seguinte ao bloqueio, no início de
junho, o presidente norte-americano declarou-se favorável a iniciativa
da Arábia Saudita e seus aliados, pois reconhecia que as justificativas
de apoio ao terrorismo, financiamento da Irmandade Muçulmana e apoio ao
Irã eram pertinentes. Em seguida, o Departamento de Estado emitiu um
parecer tentando contornar a situação, afirmando que os países árabes
deveriam aliviar as sanções. Já o Departamento de Defesa dos Estados
Unidos afirmou que a decisão dos países árabes sobre o Catar pode ter um
efeito positivo na luta contra o terrorismo. Vale destacar que, no dia
21 de maio, o presidente Donald Trump fez sua emblemática visita à
Arábia Saudita; dando ênfase à questão da segurança, combate ao
terrorismo e propondo o isolamento dos outros países árabes ao Irã. E
durante a reunião com os líderes do Conselho do Golfo Pérsico, nesta
mesma visita, foi adotada uma frente anti-iraniana.
No entanto, as ações dizem mais do que as
confusas declarações do presidente Donald Trump ou as ações do
Departamento de Defesa tentando contorná-las. Apesar das declarações
favoráveis ao boicote, no dia 15 de junho, foi selado um acordo
bilionário, referente à venda de caças norte-americanos para o Catar. Na
sequência, a Marinha dos Estados Unidos fez diversas operações navais
com a Marinha do Catar, em território catariano, já que lá está a maior
base militar norte-americana na região (base aérea e central de comando
para operações militares). No dia 11 de julho, foi assinado um
memorando de entendimento sobre o Combate ao Financiamento do Terrorismo
entre Estados Unidos e Catar. Tais ações confirmam o compromisso dos
Estados Unidos com seu aliado militar. O maior interesse norte-americano
no Oriente Médio atualmente é extinguir o Estado Islâmico, enquanto a
nova frente árabe liderada pela Arábia Saudita estaria preocupada com o
Irã e a Irmandade Muçulmana – que ameaçam a hegemonia regional saudita.
O grande inimigo regional dos países do
Golfo Pérsico é o Irã. Desde a Revolução Iraniana de 1979, o Irã e a
Arábia Saudita se tornaram referência de suas respectivas correntes
islâmicas, xiita e sunita. E até hoje os dois países estão empenhados
numa disputa político-religiosa pelo domínio geopolítico na região.
Logo, a expansão xiita na região, pode se traduzir em poder e influência
política sobre os Estados sunitas, que são liderados pela Arábia
Saudita. O Catar e o Irã se tornaram aliados, não só para convergir seus
interesses energéticos (gás natural), mas também como uma negação à
liderança regional da Arábia Saudita, apesar de parecer uma contradição,
já que ambos são Estados sunitas, aliados dos Estados Unidos e integram
o Conselho de Cooperação do Golfo(CCG).
Essa nova coalização no Oriente Médio
liderada pela Arábia Saudita, inspirada e incentivada pelo presidente
Donald Trump, durante sua recente visita à Arábia Saudita se traduz nos
interesses dos Estados Unidos em posicionar-se nos bastidores como líder
dos países sunitas do Oriente Médio. A aparente ambiguidade do
presidente Donald Trump, em apoiar o bloqueio e ao mesmo tempo
estabelecer novas parcerias com o governo do Catar, demonstra que
existem duas causas a serem defendidas fortemente pelo Estado
norte-americano: primeiramente, liderar os países que integram o
Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) através de seu parceiro e líder na
região, a Arábia Saudita, formando a frente regional sunita, visando o
controle geopolítico da região. E ao mesmo tempo, garantir que os
interesses econômicos norte-americanos, representados nos acordos
bilionários sobre a venda de armas e caças aos países árabes também
estejam devidamente protegidos. Contudo, o presidente Donald Trump, que é
imprevisível e costuma criar situações de conflito, parece ter sofrido
algum tipo de amnésia quando expressou no Twitter apoio ao boicote feito
ao Catar, sobre a alegação de combate ao extremismo e financiamento do
terrorismo, ignorando que naquele exato momento, grandes parcerias com o
Catar estavam sendo renovadas com o governo norte-americano. Enquanto a
Arábia Saudita, se sente ameaçada por seu rival se relacionar de forma
tão próxima com seu vizinho Catar. A crise entre as monarquias e
repúblicas sunitas só demonstra o quanto o discurso de Trump durante sua
visita à Arábia Saudita, tornou-se estratégico aos ouvidos dos líderes
presentes, especialmente no que se refere à luta contra o terrorismo e a
completa adoção do espírito anti-iraniano, mas muito mais como uma
justificativa para impedir o avanço do Irã na região, do que pela
realidade dos fatos. Exceto pelo Catar, que desde sua independência
sempre preferiu caminhar de forma autônoma à monarquia Saud para não se
transformar naquilo que mais abomina: ser uma colônia da Arábia Saudita.