Texto escrito por José de Souza Castro:
Tenho procurado, em meus artigos, ser otimista. Às vezes, porém, me
sinto como Eremildo o idiota, personagem de Elio Gaspari, ao insistir
nessa disposição de espírito. Foi o que ocorreu hoje ao ler “De volta ao
Brasil colonial”, artigo de João Sicsú publicado pela Carta Capital.
Como ser otimista diante do futuro previsto por esse professor do
Instituto de Economia da UFRJ, doutor e mestre em Macroeconomia e
Economia Monetária, se a única forma de evitar esse futuro é que os
trabalhadores se tornem conscientes e mobilizados? “E, principalmente,
devem entender que somente as disputas eleitorais não serão
suficientes”, diz Sicsú. “Será necessário promover uma verdadeira e
profunda independência da nova Coroa e da elite local.”
Fácil, não, Eremildo?
Definitivamente, não. Com a reforma trabalhista, o trabalhador
brasileiro começa a trilhar o caminho de volta ao século XVIII, quando
ele era submetido à Coroa portuguesa. Sabe-se o que aconteceu então,
quando os brasileiros, uma minoria, se rebelaram em Minas contra o
pagamento excessivo de impostos. “Seu líder foi condenado à forca e
esquartejado”, lembra Sicsú. Agora, a Coroa não é mais representada por
Portugal. “Ela é formada pelas corporações multinacionais, os bancos e o
rentismo.”
“Essa nova Coroa”, acrescenta o autor, “é mais forte e maior que
os Estados nacionais. Hoje em dia, é o poder econômico organizado que
domina países. E o governo do país dominado se entrega completamente. E,
por vezes, agradece ajoelhado.”
Tudo se torna submetido a esse poder. “A Justiça, o governo, o
Congresso, as polícias e os grandes meios de comunicação estarão todos a
serviço da nova Coroa e contra os trabalhadores. Os cargos de comando
nessas instituições são ocupados majoritariamente por integrantes de
famílias tradicionais e conservadoras da elite local. E essa elite se
desdobra para favorecer a nova Coroa e seus próprios interesses”,
descreve Sicsú.
O trabalhador si fú.
Pois a elite colonizada “se revela sem qualquer discrição: rouba,
forma quadrilhas, paga e recebe propina, não atende necessidades básicas
da população, saqueia o orçamento público e elimina direitos sociais. O
Estado democrático, prestador de serviços e garantidor do bem-estar
social desaparece. O Estado volta a ser autoritário, violento e perde a
função de ofertar serviços à população, tal como era entre os séculos
XVI e XIX.”
Muito se tem falado nos rentistas, nos últimos tempos. Quem são eles?
Sicsú responde: são principalmente as próprias megacorporações
multinacionais e os bancos. “No século XVII”, acrescenta, “uma das
motivações da Insurreição Pernambucana que expulsou os holandeses do
Brasil foi a cobrança de juros extorsivos. Colonos portugueses eram
massacrados pela usura praticada pelos holandeses”.
O Brasil parece ter aprendido bem a lição dessas revoltas e
insurreições fracassadas. Quem ousa hoje confrontar por aqui os bancos e
as megacorporações multinacionais? A saída seria dar-lhes um calote,
por pelo menos dois anos, para que o dinheiro hoje voltado ao pagamento
dos juros da dívida pública, que chegam a quase 7% do Produto Interno
Bruto, seja canalizado ao crescimento da economia. “Para recolocar o
país em crescimento, é necessário ir ao ataque, baixar mais os juros,
extirpar o rentismo que domina o cenário há décadas, oferecer crédito
com taxas civilizadas a empresas e famílias e prestigiar investimentos
produtivos, inovadores e criadores de emprego”, diz o empresário
Benjamin Steinbruch em artigo na Folha de S.Paulo.
Ele não está errado, mas o trabalhador não confia nesse tipo de
líder. O mesmo que defendeu, ao apoiar o projeto de reforma trabalhista,
que o trabalhador não precisa de mais do que alguns breves minutos para
almoçar. E que, como todos os demais grandes empresários, estão a
defender a reforma da Previdência Social, para esmagar ainda mais o
trabalhador.
Sim, é hora de ser pessimista. Vou reservar meu otimismo para o momento em que houver uma nova Revolução Francesa. Aqui.
(fonte: https://kikacastro.com.br/2017/08/09/hora-pessimismo/#more-14234)
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