Determinados a conseguir a atenção da sociedade para suas demandas, os estudantes do Colégio Pedro II, assim como outros discentes brasileiros, resolveram ocupar nossa querida instituição de ensino. Tal decisão, alcançada através do diálogo assente nas assembleias estudantis, demonstra a percepção de que a autoinstituição requer um conjunto de reflexões e ações que ultrapassam os limites das aulas formais, obrigando-nos ao esforço de compreensão acerca das necessidades e desejos dos nossos jovens.
Além disso, ao restituírem o protagonismo na educação aos seus maiores interessados, nossos estudantes tanto transformam o apoio mútuo num fator de resistência, quanto adotam a autogestão como instrumento adequado para a solução de dissensos e demandas coletivas. Portanto, sem deixar de considerar as opiniões dos outros segmentos que compõem a comunidade escolar, assumem uma postura crítica diante das questões que os alcançam e ensaiam, sob o olhar atento dos pais e servidores da escola, o autopertencimento.
Através do efetivo exercício do pensar (consenso conseguido nas assembleias) e do fazer (execução das demandas comuns), transformam-se nos principais mestres de si, construindo coletivamente uma nova dinâmica social que enriquece o espaço da escola. Ao fim e ao cabo, esse fenômeno libertário coloca, no centro das decisões, aqueles que nem sempre conseguem espaço para opinar sobre sua própria condição, lembrando-nos a urgência de inseri-los, efetivamente, no processo de condução do colégio.
É evidente que os momentos de transformação sempre foram difíceis. Desde os primeiros esforços para laicizar o ensino, passando pela defesa da coeducação dos sexos e da extensão do direito à instrução para estudantes negros, vozes conservadoras reagiram sem compreender a verdadeira vocação da educação: oferecer os cabedais necessários à vida. Malgrado tais adversidades, os estudantes do Colégio Pedro II seguem adiante, insistindo na construção de uma sociedade justa e fraterna enquanto grande tradição dessa casa. Sem temer, aprendem, uns com os outros, “a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho”, enchendo seus servidores de orgulho e confiança ao demonstrarem que não existe cidadania passiva e por isso a luta pelo direito consta no currículo dessa escola.
* ROGÉRIO DE CASTRO é Doutor em Educação (UERJ) e professor do Colégio Pedro II.(fonte: https://espacoacademico.wordpress.com/2016/11/05/nao-estudamos-para-manter-o-mundo-estatico/)
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