Texto escrito por José de Souza Castro:
Barack Obama perdeu as eleições nos Estados Unidos, tanto quanto sua
ex-secretária de Estado Hillary Clinton. Mas os maiores perdedores foram
os grandes bancos e corporações concentrados em Wall Street que “sempre
foram, de fato, os eleitores do presidente dos Estados Unidos”, segundo
o cientista político Luiz Alberto Moniz Bandeira, em entrevista divulgada nesta quinta-feira pela revista “Carta Capital”.
Quando lançou no mês passado seu último livro, “A Desordem Mundial”,
Moniz Bandeira não previa a eleição de Donald Trump à presidência dos
Estados Unidos. No entanto, o livro faz minuciosa descrição do
predomínio do sistema financeiro e do esforço militar para “espalhar
pelo planeta o ‘espectro da dominação total’ dos EUA”, diz “Carta
Capital”.
A vitória de Trump pode significar o começo do fim desse sonho imperialista. Sendo assim, não tenho que lamentá-la.
Como não parece lamentar Moniz Bandeira, para quem a “política do
presidente Barack Obama, do Partido Democrata, foi igual ou pior do que
aquela do presidente George W. Bush, do Partido Republicano. E o sistema
político nos Estados Unidos está corrompido e apodrecido como no
Brasil”.
É uma entrevista curta, mas importante. Em certo ponto, afirma o entrevistado:
“Os EUA gastam 900 bilhões de dólares por ano com as instalações
militares e serviço de inteligência, entre outras despesas. De 2001 a
2016, gastaram cerca de 4,7 trilhões apenas nas guerras no Afeganistão e
no Iraque, segundo estudo realizado na Brown University. Com a sua
“arrogância imperial”, para usar um termo do professor Jeffrey Sachs, da
Columbia University, produzem um massivo déficit público.”
Jeffrey Sachs. Em 1996, assisti no auditório da Federação das
Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) a uma palestra de Sachs, num
seminário sobre o terceiro ano do Plano Real. Na época, ele era
professor de Comércio Internacional da Universidade de Harvard e diretor
do Harvard Institute for International Development. Nove anos depois,
lançaria o livro The End of Poverty, no qual Sachs propunha medidas para acabar com a extrema pobreza no mundo nos próximos 25 anos, ou seja, até 2030.
Mas o que vem acontecendo é exatamente o contrário, com a grande
concentração da riqueza mundial nas mãos de uma pequena porcentagem da
população e o número de miseráveis crescendo cada vez mais. A eleição
nos Estados Unidos deu uma sacudida no sistema que vem possibilitando
essa tragédia, mas não tenho esperanças de que o bilionário Trump e seu
Partido Republicano mudem significativamente o establishment que nos faz
sofrer.
Em artigo recente, publicado
pelo “The Boston Globe” no dia 31 de outubro, quando as pesquisas
indicavam a eleição de Hillary Clinton, Sachs advertiu que, se o próximo
presidente continuasse preso na armadilha das dispendiosas guerras do
Oriente Médio, apenas o custo orçamentário (900 bilhões de dólares por
ano), poderia matar quaisquer esperanças de resolver os grandes
problemas domésticos norte-americanos.
Conforme Sachs, os Estados Unidos estão incorrendo em débito maciço e
cortando investimentos públicos urgentes em casa para sustentar uma
política externa disfuncional, militarizada e dispendiosa.
A campanha de Hillary não prometia mudar nada disso. E nunca se deve
esquecer: foi durante sua gestão no Departamento de Estado que nasceu a
ideia de dar acesso, para as petroleiras americanas, ao pré-sal
brasileiro, mesmo que para isso fosse necessário estimular uma nova modalidade de golpe de Estado para derrubar Dilma Rousseff.
Uma ideia que compreende um propósito ainda mais amplo – o da recolonização da América Latina.
A grande pergunta agora: os falcões dos Estados Unidos deixarão que
Trump nos esqueça – e a tal política de Hillary – pelos próximos quatro
anos?
(fonte: https://kikacastro.com.br/2016/11/11/derrota-clinton/#more-13222)
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