Amaral, do PSB: “Aécio é nosso aliado porque é nosso adversário direto, entende?”
6 de março de 2014 | 19:34 Autor: Fernando Brito
O simpático professor Roberto Amaral, vice-presidente do PSB, deu uma entrevista ao Estadão que é um primor.
Para não ser injusto com Amaral, desde sempre um militante fiel de um socialismo confuso, vou transcrever o que ele disse, pedindo muito cuidado ao repórter, depois traduzo:
“Eu lhe peço que use palavra por palavra porque é uma questão delicada. Se eu não explicar bem, cria problema. A eleição é em dois turnos. E há uma questão acaciana. No segundo turno, só estarão dois candidatos. Quando fazemos a aliança política com o Aécio, estamos pensando no segundo turno, porque temos a certeza de que vamos para o segundo turno e precisamos atrair o eleitorado do Aécio. Mas, para eu ir para o segundo turno – volta de novo o conselheiro Acácio -, haverá antes o primeiro turno. Pelo quadro de hoje, existem três candidatos, e a Dilma está no segundo turno. Assim, sobram dois candidatos para uma vaga: Aécio e Eduardo Campos. Ou seja, temos uma aliança política com o Aécio, mas ele é nosso adversário natural, direto. Parto do pressuposto de que não vamos os dois para o segundo turno. Então, vamos disputar entre nós quem é que vai. Temos que fazer uma aliança política que não nos afaste do eleitorado dele e torne mais fácil trazer parte do eleitorado dele para nós, já no primeiro turno, convencendo esse eleitorado da maior viabilidade do Eduardo Campos para disputar o segundo turno. É mais fácil o eleitorado dele votar em nós do que na Dilma.”
Ah, professor… Tantos anos de lutas, para chegar a esse ponto?
Se Aécio é um adversário, não é um aliado. Se é um aliado, não é um adversário.
Mas, neste caso, das duas uma: o o senhor diz que Eduardo Campos quer enganar os eleitores de Aécio Neves, se mostrando parecido com ele, mas sabendo que não tem nada a ver e, depois de “papar” os votos aecistas mostrar que é totalmente diferente ou, pior ainda, está confessando que os dois estão “combinadinhos” num esquema “qualquer um dois dois que vá, vai combinado de governar com o outro” e, neste caso, têm uma visão comum, de aliados de verdade, por significarem variações de uma mesma coisa.
É esse o conceito que o senhor tem de aliança?
“Colar” no outro para conseguir uma posição vantajosa e, depois disso, virar-lhe as costas para ficar com tudo para si?
Será isso a “nova política”?
O senhor diz que Eduardo Campos deve ”conquistar eleitores tucanos desde o primeiro turno, mostrando-se como opção melhor que Aécio para enfrentar a petista no segundo”.
É isso? É o “para tirar Dilma e Lula, serve qualquer um”? Igualzinho o que pensa Fernando Henrique Cardoso?
Eu não sou petista, não me melindro pessoalmente, mas vejo o senhor falar apenas palavras de ódio e de rancor contra o PT, quando o senhor, seu partido e seu candidato, Eduardo Campos, sempre foram tratados por eles com respeito e consideração. Serviram para ter ministérios até quatro ou cinco meses atrás e agora são a personificação do diabo, que vale até se vender ao eleitorado do adversário como aliado, como mais capazes de fazer o “serviço sujo” de eliminá-los?
Até porque, há cinco meses atrás, o senhor não pensava assim, e declarou ao jornal O Povo – de sua terra, o Ceará - “Contra quem eu preciso disputar? Contra o Aécio. É ele que eu preciso afastar e impedir o crescimento”. E aí o Dudu Campos veio correndo, o desautorizou e o enquadrou e o senhor se sai agora com esse “adversário aliado”?
Que vergonha!
Professor, sua trajetória de evolução, desde seus tempos de udenista anti-Getúlio ao PCB, merece mais respeito do que, agora, na sua fase outonal, sugerir que o que seria de esquerda deve fingir-se de direita para atrair o voto direitista como mais capaz de de derrotar a esquerda e, para isso deve aliar-se ao adversário, ao ponto de combinar candidaturas, dividir currais e eleitorais e afinar um discursinho que não desafina uma nota sequer?
Tenha paciência, professor, nem com toda a boa-vontade do mundo dá para deixar de dizer que o senhor se passou para o outro lado.
A traição gera uma culpa terrível, que de tal forma confunde a mente de quem trai que ele quer ver a sordidez como heroísmo.
Mas não é, professor, a não ser para ele mesmo, na solidão que a história reserva aos que traem.
(Fonte: http://tijolaco.com.br/blog/?p=15037)
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