quinta-feira, 7 de março de 2013

O "ditador" Hugo Chávez

Eu estive bastante ocupado ontem e não tive tempo de escrever nada sobre o falecimento do presidente venezuelano. Hoje cedo, abro o computador e me deparo com o artigo do José de Castro, publicado no blog da Kika Castro. Vale a pena ler.

Texto escrito por José de Souza Castro:
Morre um homem, nasce um mito. Hugo Chávez não será um mito latino-americano da estatura de Simon Bolívar, em quem se inspirou na luta contra poderes coloniais encarnados, conforme ele acreditava, nos Estados Unidos, nos bancos e nas grandes corporações internacionais, sobretudo as empresas petroleiras. Mas poderá se ombrear com Getúlio Vargas, do Brasil, e Juan Domingo Perón, da Argentina.
Chávez deve passar para a história, também, como ditador. Já foi incluído, como tal, numa extensa lista de ditadores, desde o século 19, elaborada pela enciclopédia virtual Wikipedia. Nessa lista estão 73 ditadores latino-americanos. Na Venezuela, detentora da maior reserva de petróleo do mundo, foram cinco ditadores ao longo de 143 anos. Desde 1870, o país só experimentou 64 anos de regime democrático.
A classificação de alguém como ditador depende do ponto de vista. De 1964 a 1985, o Brasil teve cinco generais na lista de ditadores da Wikipedia, de Castello Branco a João Figueiredo. O único outro ditador brasileiro listado é Getúlio Vargas. Poucos historiadores concordariam em deixar de fora, por exemplo, o segundo presidente brasileiro: Floriano Peixoto, o “Marechal de Ferro”. Na imprensa brasileira, qual jornal, revista, rádio ou televisão ousaria não classificar Hugo Chávez como ditador? Qual deles, porém, chamou de ditador qualquer de nossos ditadores listados na prestigiosa enciclopédia livre da internet, quando eles estavam no poder?
Porém, adversários dentro e fora da Venezuela não hesitam em classificar Chávez como ditador, alegando que, além de menosprezar princípios fundamentais da democracia como o direito à propriedade privada, ele pediu ao Congresso, sob o controle de partidários, poderes especiais para governar por decreto durante um ano. Nem mesmo admitem que ele foi um ditador benéfico para 80% da população venezuelana, aquela constituída pelos despossuídos num país rico em petróleo e que, por isso mesmo, durante muito tempo, foi objeto de desejo e de exploração predatória das grandes empresas e de nações como os Estados Unidos. E continuaria assim, não fosse Chávez. Mas que ainda não se livrou da dependência – e da “maldição do petróleo” [leia mais sobre essa maldição AQUI e AQUI].
Admitindo-se que Chávez foi um ditador, é preciso reconhecer que seu poder não se apoiava apenas nas forças armadas, como os quatro ditadores venezuelanos que o precederam, mas, sobretudo, no apoio popular. Em razão dele, fracassou o golpe militar que, com forte apoio da imprensa, em 2002 o apeou do poder por dois dias. A população armada saiu às ruas, e os golpistas logo debandaram. Em 1992, quando o então tenente-coronel do Exército Hugo Chávez intentou, com companheiros de armas, derrubar o governo, ele não teve o mesmo apoio popular e acabou preso por dois anos.
Ao ser libertado, resolveu trilhar o caminho mais indicado pelos democratas, embora estes não hesitem em recorrer ao golpe militar quando as urnas lhes falham repetidamente, como já ocorreu e pode acontecer ainda no Brasil. Chávez fundou um partido político socialista, incrementou suas críticas aos Estados Unidos e aos opressores dos trabalhadores em geral e, em 1998, elegeu-se presidente, aos 43 anos. A primeira das quatro vitórias contra uma oposição poderosa, formada principalmente pela imprensa e pela parcela mais rica da população, com respaldo norte-americano. A última foi no dia 7 de outubro passado, quando seu concorrente mais forte, o governador do estado de Miranda, Henrique Capriles, não chegou a representar uma ameaça para Chávez, já então lutando contra o câncer que o matou aos 58 anos.
Haverá nova eleição na Venezuela, em breve. A presidência da República será disputada, certamente, por Capriles, apoiado pelos Estados Unidos e pela elite econômica da Venezuela. Mas o favorito deve ser Nicolás Maduro, um seguidor do presidente morto e que tudo fará para dar prosseguimento à política socialista de Hugo Chávez. Se o fizer, certamente, será o sexto “ditador” venezuelano. A menos que venha a se realizar o desejo manifestado pelo presidente Obama, logo após a notícia da morte de Chávez, de uma reaproximação construtiva com o novo governo venezuelano.
Construtiva... Para quem?

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