sábado, 7 de dezembro de 2013

Oh, Minas Gerais!

Oh, Minas Gerais!

Ana Vargas


Oh! Minas Gerais

Oh! Minas Gerais

Quem te conhece (superficialmente)  pensa que és feita apenas  de montanhas, clubes da esquina, JK, Beagá, pão de queijo, Tiradentes, Inhotim...


Quem te conhece pelas matérias de seus jornalões ou pelas propagandas políticas, nem sequer  imagina a podridão que existe  nas entranhas de suas cidadezinhas dominadas (até hoje) pelo coronelismo mais fajuto (mas justamente por isso, eficiente) e por um certo tipo de gente que ainda olha as coisas de Minas de cima para baixo...

Que ainda faz política parecida com aquela feita lá no Maranhão (diga-me de quem és filho e lhe direi se podeis desviar verbas públicas  ou não).
Oh, Minas Gerais, quem te conhece desse modo, não saberá jamais (jamais!) a verdadeira história que existe por trás de seus projetos políticos feitos de artimanhas e corrupções variadas; os conchavos que são tramados até entre aqueles que deveriam ser ‘os olhos do povo’ (um dia esse foi o papel da imprensa) e aqueles que se intitulam ‘donos’ desse povo.


Oh! Minas Gerais: como é revoltante saber que em suas cidades pequenas o crack avança veloz e os governantes desses lugares simplesmente, não se importam, não fazem absolutamente nada pelos jovens que vão se encaminhando para o terror das drogas; e aqueles  poucos, que gostariam de fazer, não contam com apoio nenhum e são obrigados a engavetar (mais uma vez) projetos sociais que beneficiariam milhares de famílias;

Oh, Minas Gerais, como é terrível saber que nesse momento, verbas estão sendo desviadas, ministérios que investigam e encontram algo, são obrigados a arquivar tudo em nome de uma suposta paz e calmaria que deve prevalecer nas imagens turísticas do estado.   

Oh, Minas Gerais, dizem que tuas terras são altaneiras, mas, ninguém diz que foram e ainda são vendidas nesses folhetos turísticos apenas para provocar aquele ultrapassado sentimento de bairrismo inútil, aquela sensação de que esse lugar ainda é ou deveria ser aquele dos tempos longínquos da liberdade ainda que tardia. Que liberdade? Ela ainda tarda... (assim como a justiça).

O seu céu é do puro anil e tão puro é que encobre com eficiência a imagem aviltante de sua política asquerosa, uns poucos, bem poucos, devem estar de fato, fazendo algo que valha a pena... Mas desses não se fala, é claro.



És bonita, oh terra mineira, quando estampada em páginas de revistas ou jornais da chamada ‘grande imprensa’- aquelas montanhas azuis ao fundo, o rosto de um caipira até hoje sendo ‘vendido’ como o de um mineiro típico (e aquelas tenebrosas piadas sem graça que circulam na internet), aquele olhar conformado e feliz; como se ser mineiro fosse ser acima de tudo resignado e manso.



Esperança do nosso Brasil: que fardo pesado te deram, oh Minas Gerais! Ser a esperança de um país que somente a pouco encontrou um rumo; ter que carregar o fardo de Tiradentes e de tudo aquilo que dizem, foi a inconfidência mineira.

Se foi: que bom! Como – aí sim – me orgulho apenas o suficiente, bem pouco, de forma vergonhosa até; pois ainda assim, como me orgulho por saber que no passado houve gente de Minas que se revoltou e deu a vida em troca de valores como dignidade e respeito e apreço por aqueles que de fato, precisam ser lembrados: o povo mineiro.
Se não foi, se tudo isso não passa de um mito histórico como tantos que existem por aí; Minas vive de glórias vazias e eu diria mesmo, ridículas! Pobre Tiradentes: se ele existiu, se foi de fato um herói, como deve estar se revirando no túmulo por ver no que se transformou o seu ‘sonho’ de liberdade.
Aquele seu remoto sonho é agora privilégio apenas de tipos raros que podem se dar ao luxo de roubar porque possuem este ou aquele sobrenome; daqueles que por serem amigos de fulano ou sicrano, podem até transportar drogas que nada, nada lhes acontece (acontecerá?).
E nem ela, a dita ‘imprensa’ está interessada em falar disso... Para quê afinal gastar palavras, tempo e ideias para falar, ora! É bem melhor acreditar em coisas como déficit zerado, capacidade política de uns e outros que sobrevivem à custa de seus sobrenomes (e apenas por isso); acreditar em coisas como modernidades, poderio político e toda essa palhaçada que ainda (ainda!) engorda verbas publicitárias deste ou daquele jornaleco, daquela rede de tevê, daquele fulano que é dono de uma fazenda de 60 milhões  e. bom, o resto você já sabe*.
Oh, Minas Gerais: ainda acreditam que  tua lua é a mais prateada – embora ela esteja refletindo sobre rios e vales depredados por mineradoras - que ilumina o nosso torrão – e torrão é a palavra certa para alguns cantos de sua paisagem tão enfiados em seus sertões que caixas eletrônicos são explodidos diariamente e a polícia nunca consegue  prender quem quer que seja... (Mas aqueles caras ali, que explodem caixas eletrônicos no sul ou no centro-oeste de Minas, de vez em quando vão pra cadeia, enquanto que aqueles caras lá, digo, aqueles que transportam droga em helicópteros de políticos que são amigos de pessoas de sobrenomes mistificados...Aqueles lá nunca vão pra trás das grades...Porque será?!)


És formosa, oh terra encantada,  mas sua formosura ainda resistindo bravamente em suas tardes entre as serras do cipó, da piedade ou da moeda; vai velozmente sendo vilipendiada por empreendedores desses que loteiam zonas urbanas e destroem o passado e a natureza; desses que cavoucaram a terra atrás da serra do curral e continuam cavando, talvez para chegar ao fundo de seu útero e para retirar de lá – quem sabe?- o resto de sua alma, tudo aquilo que afinal, fez com que fostes o que és.



És orgulho da nossa nação... Será?

Sim, ainda és orgulho se pudermos nos orgulhar das altas taxas de uso do crack nas cidades do interior, na capital, no triângulo...
És orgulho, se olharmos as propagandas do governo mineiro e acreditarmos naquele festival de mentiras publicitárias  sobre como os índices da economia, da educação e da saúde são invejáveis em Minas...
És orgulho para quem viu aquela moça que canta naquela banda (ruim) e que emprestou a sua figura tão modernosa para ser porta voz dessas mentiras; os adeptos da arte desengajada, da arte pela arte, da arte alienada certamente aplaudiram e ficaram orgulhosos!
Oh! Minas Gerais

Oh! Minas Gerais
Quem te conhece
Não esquece jamais




Quem te conhece e ama de verdade, quem sabe olhar para suas ruas antigas e seus becos e vielas e enxerga o povo que está ali, subindo estas ruas, cansado e espremido em transportes públicos lotados, tentando encontrar um lugarzinho ao sol em meio à avalanche de vagas compradas em concursos públicos, se virando como pode para pagar as contas com salário de professor, enfrentando filas e descaso nos postos de saúde e nos hospitais da capital e do interior...
Quem olha pra’s Minas Gerais e vê de fato a gente dessa Minas Gerais sabe muito bem que não há mais motivo nenhum para se orgulhar do que quer seja em Minas Gerais!

Fonte: http://antijornalismo.blogspot.com.br/
 

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