quinta-feira, 13 de março de 2014

As matrioskas de Putin

As matrioskas de Putin, por Mauro Santayanna

12 de março de 2014 | 19:34 Autor: Fernando Brito

Mauro Santayanna, certamente um dos mais aguçados olhares na imprensa sobre as questões internacionais, escreve hoje sobre as dificuldades do Ocidente de entender que nem a Rússia, nem seu presidente, Vladimir Putin, são molambos mafiosos, sem capacidade política e  sem sofisticação em gestos e palavras.
Sem mais a União Soviética às suas costas mas, ao contrário de líderes fracos como Gorbachev e Yeltsin,  Putin move sempre as peças com uma percepção milimétrica da distância entre a provocação e a flexibilidade.
Provocação, obvio, à hegemonia americana no mundo, como que a dizer “é, vocês podem muito, mas não podem tudo”.
Contem um a um os episódios destes últimos meses: Síria, Edward Snowden, Criméia.
Em todos eles, os russos deram um nó de valsa nos EUA, que sempre ficaram presos pelas linhas morais que Moscou traçava diante deles e que não podia ultrapassar.
A quatro dias do referendo para decidir sobre a separação da Ucrânia e associação à Russia, não parece haver “sanções” que os EUA ou seus parceiros da Europa possam impor diante de um resultado eleitoral adverso.
A linha moral estará mais uma vez, e desta vez com votos, traçada diante de qualquer ousadia.
E Putin livre para retaliar com suas diversas matrioskas ousadias que dificilmente virão.

A Otan e as matrioskas

Mauro Santayanna
Toda nação tem seus símbolos. Um dos mais tradicionais símbolos russos, à altura  de Dostoiévski, e de Pushkin, são as Matrioskas, as bonecas de madeira,  delicadamente pintadas e torneadas, que, como as camadas de uma cebola, guardam, uma dentro da outra, a lembrança do infinito, e a certeza de que algo existe, sempre, dentro  de todas as coisas, como em um infinito jogo de espelhos e surpresas.
Ao se meter no complicado xadrez geopolítico da Eurásia, que já dura mais de 2.000 anos, o “ocidente” esqueceu-se dos russos e de suas Matrioskas.
Para enfrentar o desafio colocado pela interferência ocidental na Ucrânia, Putin conta com suas camadas, ou suas Matrioskas.
A primeira camada, a maior e a mais óbvia, é o poder nuclear.
A Rússia, com todos os seus problemas, é a segunda potência militar do planeta, e pode destruir, se quiser, as principais capitais do mundo, em uma questão de minutos.
A segunda é o poder convencional. A Rússia dispõe, hoje, de um exército quatro vezes maior que o ucraniano, recentemente atualizado, contra as armas herdadas, pela Ucrânia, da antiga URSS, boa parte delas, devido à condição econômica do país, sem condições de operação.
A terceira, é o apoio chinês, a China sabe que o que ocorrer com a Rússia, hoje, poderá ocorrer com a própria China, no futuro, assim como da importância da Rússia, como última barreira entre o Ocidente e Pequim.
A quarta Matrioska é o poder energético. Moscou forneceu, no último ano, 30% das necessidades de energia européias, e pode paralisar, se quiser, no próximo inverno, não apenas a Ucrânia, como o resto do continente, se quiser.
A quinta, é a financeira. Com 177 bilhões de superávit na balança comercial em 2013, os russos são um dos maiores credores, junto com os BRICS, dos EUA. Em caso extremo, poderiam colocar no mercado, de uma hora para outra, parte dos bilhões de dólares que detêm em bônus do tesouro norte-americano, gerando nova crise que tornaria extremamente complicada a frágil a situação do “ocidente”, que ainda sofre as consequências dos problemas que começaram – justamente nos EUA –  em 2008.
Finalmente, existe a questão étnica e histórica. Para consolidar sua presença nas antigas repúblicas soviéticas, Moscou criou enclaves russos nos países que, como a Ucrânia, se juntaram aos nazistas, para atacar a URSS na Segunda Guerra.
Naquele momento, o nacionalismo ucraniano, fortemente influenciado pelo fascismo, não só recebeu de braços abertos, as tropas alemãs, quando da chegada dos nazistas, mas também participou, ao lado deles, de alguns dos  mais terríveis episódios do conflito.
Derrotados pelo Exército Soviético, na derradeira Batalha de Berlim, em 1945, os alemães sabem, por experiência própria, como pode ser pesada a pata do urso russo, quando provocado.
 E como podem ser implacáveis – e inesperadas – as surpresas que se ocultam no interior das Matrioskas.

(Fonte: http://tijolaco.com.br/blog/?p=15278)

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