quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Ainda mais difícil explicar nossas altíssimas taxas de juros

Texto escrito por José de Souza Castro:

A política do Banco Central do Brasil de tentar controlar a inflação com altas taxas de juros fica mais indefensável depois do artigo de André Lara Resende, o principal teórico do Plano Real, publicado no dia 13 deste mês pelo jornal “Valor Econômico”. Segundo ele, “o juro alto não só agrava o desequilíbrio fiscal, como no longo prazo mantém a inflação alta”.
Sem o embasamento teórico desse economista que hoje é “senior research fellow na Columbia University”, critiquei em alguns artigos neste blog, como NESTE, a política equivocada do BC. Antes de tentar interpretar o artigo acadêmico de André Lara Resende, recorro ao experiente Luís Nassif, que faz a seguinte análise:
“Vinte anos de juros elevadíssimos promoveram o mais profundo processo de concentração econômica da história, que praticamente consumiu todos os excedentes orçamentários que poderiam ter sido investidos na infraestrutura, em educação, saúde, na economia real. A diferença entre o Brasil que é e a potência que poderia ter sido está nos trilhões desviados do orçamento para pagamento de juros.
E, agora, o principal formulador das políticas monetária e cambial do plano Real, André, escreve um artigo em tom acadêmico aceitando que todas as críticas contra essa loucura estavam corretas. Em “Juros e conservadorismo intelectual”, dá a mão à palmatória, trata como mero conservadorismo acadêmico erros intencionais que praticamente destruíram o futuro do país. E traz as últimas novidades da teoria econômica:
  • Taxas de juros elevada não combate inflação, pelo contrário: além de não afetar a demanda, sinaliza para o mercado que o Banco Central está apostando em inflação mais elevada.
  • Taxas de juros elevadas pressionam as contas públicas, aumentam o déficit nominal, obrigando o governo a cortar mais ainda as despesas primárias e, desse modo, impactando o nível de atividade; do outro lado atraem dólares apreciando o câmbio e reduzindo preços de importados, à custa de desequilíbrios de monta nas contas externas. Assim, o controle da inflação se faria de forma torta, com enormes sequelas na economia.
  • Taxa de juros mais baixa não é inflacionária. Essa conclusão tardia do André – fundada nas últimas “descobertas” da fronteira do conhecimento econômico – derrubam essa baboseira de que Dilma Rousseff derrubou a taxa de juros sem ter condições e isso provocou mais inflação.”
Concluo transcrevendo o início do artigo de André Lara Resende, na esperança de que o leitor se interesse em ler todo ele:
“Desde a estabilização da inflação crônica, com o Real – e já se vão mais de 20 anos -, a taxa básica de juros no Brasil causa perplexidade entre os analistas. Por que tão alta? Inúmeras explicações foram ensaiadas, como distorções, psicológicas e institucionais associadas ao longo período de inflação crônica com indexação; baixa poupança e alta propensão ao consumo, tanto pública como privada; ineficácia da política monetária, entre outras. Embora todas façam sentido e possam, no seu conjunto, ajudar a entender por que os juros são tão altos, nenhuma delas foi capaz de dar uma resposta convincente e definitiva para a questão.
As altíssimas taxas brasileiras ficaram ainda mais difíceis de serem explicadas diante da profunda recessão dos últimos dois anos. Como é possível que depois de dois anos seguidos de queda do PIB, de aumento do desemprego, que já passa de 12% da força de trabalho, a taxa de juro no Brasil continue tão alta, enquanto no mundo desenvolvido os juros estão excepcionalmente baixos? Há quase uma década, nos Estados Unidos e na Europa, e há três décadas no Japão, os juros estão muito próximos de zero, ou até mesmo negativos, mas no Brasil a taxa nominal é de dois dígitos e a taxa real continua acima de 7% ao ano.”
Difícil mesmo explicar as altíssimas taxas de juros no Brasil.
(fonte: https://kikacastro.com.br/2017/01/17/altissimas-taxas-juros/#more-13484)

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