domingo, 29 de abril de 2018

A prisão do jornalista Márcio Fagundes


texto escrito por José de Souza Castro:
O jornalista Carlos Cândido, que iniciou a carreira na Sucursal do Jornal do Brasil em Belo Horizonte há bem uns 40 anos, deu-me elementos, em seu blog, para escrever sobre a prisão do jornalista Márcio Fagundes, com quem trabalhei no jornal Hoje em Dia, onde ele tinha coluna muito lida de política. Ultimamente, era coordenador de Comunicação da Câmara Municipal de Belo Horizonte. Muitos anos antes, fora chefe da assessoria de imprensa do governador Hélio Garcia.
Cândido relata testemunho dado pelo jornalista Carlos Barroso, aflito pela prisão do colega, ao advogado de Márcio Fagundes. Barroso tem um programa de entrevistas no canal de televisão por assinatura BH News, no qual o agora preso participou algumas vezes, antes de aceitar o convite do vereador Wellington Magalhães para sua assessoria. Essa participação no programa tirou-o do ostracismo em que se encontrava desde que foi demitido do Hoje em Dia, sob nova direção.
Carlos Barroso precisava de patrocínio para seu programa na TV e procurou Fagundes, ouvindo dele o seguinte: “Barroso, eu te devo um favor e gostaria de te ajudar, mas não decido sobre publicidade, esse assunto fica nas mãos do presidente Wellington Magalhães. Se você quiser falar com ele...”. Não quis, e seu programa nunca teve publicidade da Câmara Municipal de Belo Horizonte.
O testemunho, escreve Carlos Cândido, corrobora a versão de Fagundes de que assinava as ordens de publicidade da Câmara, atribuição do cargo que exercia, acrescentando a observação: “Ordem do presidente”.
Também ouvi de Márcio Fagundes, quando eu era repórter de O Globo e ele assessor de Hélio Garcia, um episódio que, a mim, confirmou o conceito que eu tinha dele.
Ele me ligou dizendo que queria trocar ideias comigo (saiu no prejuízo, claro) e me convidou para conversarmos no seu apartamento. Um trecho do artigo de Carlos Cândido (“Ele não ostenta sinais de enriquecimento ilícito – e foi preso num apartamento modesto no qual mora, na zona sul de Belo Horizonte”) deu-me a impressão de que é o mesmo apartamento onde me encontrei com Márcio Fagundes lá pelos idos de 90.
Não me lembro mais sobre o que conversamos (lá se vão uns 28 anos), mas me recordo de um episódio que me contou quase no fim de nossa conversa. Chegando ao prédio, depois da caminhada matinal, viu estacionado em frente um Fiat novinho (ou seria um Fusca zero quilômetro?) e, mal entrando no apartamento, o telefone tocou. Era o dono da agência de publicidade que atendia ao governo de Minas.
– Márcio, você viu aí na porta o seu carro?
– Que carro?
– O que a agência te deu de presente...
Bem, não vou querer transcrever o diálogo, depois de tantos anos. Mas posso resumir o que Márcio me contou. Depois do espanto inicial, ele ordenou ao dono da agência de publicidade que mandasse levar dali imediatamente o carro, “senão vou chamar a polícia!” Foi a hora de o bom homem se espantar. Isso nunca acontecera antes! O presente sempre fora recebido agradavelmente pelos antecessores de Márcio, ao longo de muitos anos atendendo a conta de vários governos.
E o carro foi levado embora o mais depressa possível.
Não sei para quem mais Márcio contou a história. Talvez ele só quisesse desabafar e por acaso eu estava ali. Se ele nunca mais relatou o caso, é hora de fazê-lo, depois do espalhafato com que sua prisão foi divulgada pela imprensa. Como diz Carlos Cândido:
“Como bem observaram os parlamentares da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa que visitaram Fagundes na prisão, além do seu advogado, não existiam as condições exigidas para a prisão preventiva do jornalista: ameaças a testemunhas, risco de fuga, destruição de provas etc. No entanto, ele foi preso com estardalhaço.
Notícia do dia seguinte à prisão informa que Márcio Fagundes teria dito aos parlamentares: “Vou provar minha inocência”. Ora, o próprio jornalista se confunde diante da situação terrível em que foi jogado: ele não tem de provar nada, a polícia é que tem de provar sua culpa!
A prisão preventiva virou ao avesso a justiça brasileira: agora é o acusado que tem que provar ser inocente, não é mais o Estado – representado pela polícia e pela promotoria – que tem de apresentar provas! Depois que um procurador da República afirmou em coletiva de imprensa – sempre para a imprensa! – que ele não tinha provas contra o ex-presidente Lula, mas tinha convicção, tudo se tornou possível.
A ditadura militar, com seu aparato de torturas, certamente foi pior do que o estado de exceção atual, mas foi mais cruel? Ser preso político tem uma auréola heroica, já ser preso por corrupção desmoraliza irremediavelmente o sujeito.”
No que depender de mim, Márcio Fagundes não ficará desmoralizado. Mas, quem sou eu? Recorro novamente a Carlos Cândido: “No caso específico de Márcio Fagundes, ele recebeu mais uma condenação: foi exonerado do seu emprego no Tribunal de Contas do Estado. E no entanto, leiam-se as notícias: ele é suspeito! Não foi condenado, não foi julgado, não foi sequer acusado. Trata-se por enquanto apenas de um inquérito policial”.
Mas o TCE é implacável! Como bem sabem Aécio Neves e Antonio Anastasia! Que falta nos faz um sinal de ironia, onde abundam sinais de exclamação.
(fonte: blog da Kika Castro)

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