domingo, 9 de setembro de 2018

A MORTE DO MUSEU NACIONAL, SUA MEMÓRIA E SEUS ENSINAMENTOS


O GT Acervos - História, Memória e Patrimônio e a ANPUH/RS (Associação Nacional de História-seção do RS) lamentam a tragédia envolvendo o Museu Nacional -instituição bicentenária situada na Quinta da Boa Vista e vinculada à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) -, patrimônio histórico, cultural e afetivo de todos os brasileiros. Assistimos todos consternados através da mídia, o incêndio de grandes proporções que, entre a noite do dia 02 e madrugada de 03 de setembro de 2018, destruiu cerca de 20 milhões de peças de valor inestimável para a memória e história brasileira.

O impacto da devastação é incomensurável e afetará não só o público acadêmico, que se valia de seu acervo para pesquisas – seis programas de pós-graduação da UFRJ ali funcionavam –, mas a própria sociedade, que perde um espaço de memória primordial, nas quais as diferentes identidades do povo brasileiro eram representadas, por meio de mostras e ações educativas. Um acervo riquíssimo, contemplando a coleção de arqueologia clássica e de civilizações ameríndias, a coleção egípcia de Dom Pedro II, a coleção de Paleontologia, incluindo o mais antigo fóssil humano – Luzia – encontrado no país e diversas coleções de botânica, geologia e zoologia. Além do conjunto documental, o fogo e o descaso político destruíram anos de esforços de técnicos e de voluntários, que lutavam há tempos contra a falta de recursos.

Em tempos de “ajuste fiscal”, ficou evidenciado que essa política pouco contribui para a preservação das instituições de memória do país, agravando a displicência dos governantes há muitos anos.  Agora, a promessa por verbas e reconstrução apenas reforça o casuísmo do poder público. Em tempos de eleição, sem dúvida que o incêndio que destruiu parte da história nacional será ponto de discussão e debate. Esperamos, igualmente, que não sejam propostas vazias e oportunistas. Almejamos que nossa história e nossa memória não sejam sucateadas, esquecidas, queimadas.
Mesmo em meio a tragédia, uma importante ação foi levada a cabo pelos colegas de Museologia da UNIRIO que, muito embora não possam reparar a perda, expressam e apontam iniciativas que demonstram o interesse pela memória nacional: pedem que todos que tiverem, em seus registros, fotos do acervo, das exposições ou mesmos selfies, encaminhem para o e-mail thg.museo@gmail.com. Mediante essa iniciativa, a memória do Museu Nacional ainda pode ser preservada.

Hoje, todos nos solidarizamos com as dezenas de funcionários que dedicam suas vidas profissionais e pessoais a uma das maiores instituições detentoras de nosso patrimônio científico e de nossa identidade nacional. Da mesma forma, aos muitos pesquisadores que perdem parte de suas pesquisas. Enfim, solidarizamo-nos a todos os brasileiros nesse momento de grande dor e perda irreparável.

Esperamos que essa catástrofe sirva para um momento de reflexão sobre nossa política cultural e que tenhamos mais ações que assegure a conservação, preservação e restauro de nossos acervos, incluindo seus prédios históricos.

Porto Alegre, 03 de setembro de 2018

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