quarta-feira, 28 de maio de 2014

Acumulação de renda e seus efeitos

Recebo mais uma colaboração do prof. Antônio de Paiva Moura



            Nos últimos dez anos tem aumentado o interesse de estudos sobre os efeitos danosos do acúmulo de riquezas pessoais e sua concentração em algumas cidade ou regiões. Sabe-se que a renda pessoal está distribuída de maneira tão desigual no mundo, que os 2% mais ricos da população adulta detém mais da metade das riquezas do planeta. A outra metade das riquezas é dividida com 98% da população adulta, cerca de 5 bilhões de habitantes. Para se incluir entre o 1% de mais ricos do mundo o indivíduo terá que ter tem média, um patrimônio de U$ 500 mil dólares, cerca de um milhão cento e cinquenta mil reais. Dos 5 bilhões de adultos do mundo, apenas 34 milhões de pessoas têm um patrimônio superior a 1 milhão de reais. A América do Norte que tem apenas 6% da população mundial detêm um terço de toda a riqueza do mundo. Segundo a revista Exame (2012) existiam no Brasil somente 130 mil multimilionários e 65% desse
total, (84.500) residiam em São Paulo e Rio de Janeiro.
            A concentração de riquezas em mãos de poucos, em uma região, é um verdadeiro desastre. Começa com o fato consumado do aumento da violência e da degradação do modo de viver a marginalidade. Os mais pobres são os mais atingidos pelas catástrofes naturais provocadas pela ação dos mais ricos sobre a natureza.
            Em 2013 o sociólogo da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, (UFRS), Antônio David Cattani lançou o livro intitulado “A riqueza desmistificada”, pela editora Marca Visual. Segundo Cattani, os detentores de grandes fortunas como Bil Gates, Silvio Berlusconi, Sebastião Piñera, empresários do setor de mídia e também importantes políticos em seus países, têm grande influência cultural, política e econômica. Acabam sendo verdadeiros totens, venerados e reverenciados por seus patrícios e outros fãs da aldeia global.  Quando é conveniente, seus nomes são substituídos por abstrações como bancos, empresas ou paraísos fiscais. Com isso as formas ilícitas de açularem fortunas ficam encobertas. Desta forma, os nomes dos magnatas ficam protegidos contra a infâmia, ratificando seu prestígio e legitimidade de suas posições. Usam sua influência e poder para exercer um tipo de ganância e ambição sem limites, que resulta em um extraordinário processo de transferência de renda.
            O publico manipulado pela mídia e até por algumas religiões, dá legitimidade às grandes fortunas pessoais. No senso comum, os mega-ricos são associados á idéia do esforço e talento, exercidos em uma economia de livre mercado. A filantropia é uma das estratégias adotadas para que pareçam cidadãos bem intencionados. Quando há insolvência nas empresas ou prejuízos nos bancos, os altos executivos nada perdem. Por outro lado, quando há lucro, estes são carreados para as fortunas pessoais de alguns poucos em prejuízo de muitos trabalhadores, pequenos empresários e pequenos acionistas.
            Em 2012 o prêmio Nobel de Economia, o americano Joseph Stiglitz publicou o livro intitulado “O preço da desigualdade”, tendo tido para tal obra, a colaboração do economista italiano Mauro Gallegati. Nessa obra afirma que a classe de 1% mais rica do mundo não é muito afeita ao consumo. Mesmo que o fosse não contribuiria com o desenvolvimento industrial e com o PIB. Somente uma classe média bem-sucedida e favorecida pela distribuição de renda tende a consumir todos ou quase todos os seus recursos, sustentando o PIB do próprio país e a economia de modo geral. O enunciado científico de Stiglitz e Gallegati é o seguinte: Quando o 1% mais rico da população concentra 25% da renda a bomba atômica econômica explode, isto é, o capitalismo entra em crise. Eles demonstram que isso aconteceu em 1929, 1998 e de 2003 a 2008. A descoberta de Stiglitz e Gallegati demonstra que a desigualdade corrói o PIB até matá-lo, não só por causa da queda do consumo, mas também porque o sistema de concentração é ineficiente. Este foi o maior ataque teórico e científico ao Neoliberalismo. Ao invés de compreender e assumir a culpa pelo não crescimento do PIB, a mídia, os donos do capital e os políticos neoliberal põem a culpa nos governantes.
            Está no topo da onda mundial, o livro “O capital no século XXI”, do economista francês Thomas Piketty. Para esse autor não há motivo para acreditar que o capitalismo poderá solucionar o problema da desigualdade que tem piorado e não melhorado. Como a desigualdade tende a aumentar, a discórdia social também vai aumentar.

Belo Horizonte, maio de 2014

Antônio de Paiva Moura

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