quarta-feira, 19 de junho de 2013

Desigualdade

Abro o espaço do Blog de hoje para um artigo do nosso colaborador prof. Antônio de Paiva Moura.



Desigualdade
                   Os rebeldes de hoje têm causa, mas não conhecem suas raízes.
                       O jornalista francês Serge Halimi (2013) analisa com bastante profundidade a situação sócio-política do mundo contemporâneo e as dificuldades de proposições novas no sentido de traçar diretrizes positivas.
                        Há no Ocidente uma ideologia de cunho liberal de que o peso das diferenças sociais era aliviado pela crença de que a mobilidade social no sistema capitalista contrariava as desigualdades de nascimentos. Para que alguns mal nascidos possam atingir escalas ou camadas sociais maior que de sua família de origem, é necessário trabalhar duro, dando o melhor de si; acreditando que os ricos conseguiram suas fortunas segundo as regras do jogo. O mito da mobilidade social deu lugar ao terror do rebaixamento, com as novas concepções e ações do liberalismo.
                 As grandes escolas ou universidades estão cada vez mais fechadas para as categorias populares. O custo da formação universitária desde a graduação até os níveis mais altos de mestrado e doutorado é altíssimo. Só os mais ricos conseguem manter os filhos com dedicação exclusiva nas melhores universidades. O que sobra em um lugar é que está faltando em outro. A família norte-americana Walton, dona do Walmat detém uma fortuna correspondente a um milhão cento e cinqüenta mil vezes maior que a riqueza média norte-americana. Esse disparate e esse abismo de diferença se verificam em quase todos os países do mundo.
                        O tão almejado e tão reclamado crescimento econômico, em quase todos os países só tem beneficiado os mais ricos.. Nos EUA, apenas 1% da população se beneficia do crescimento econômico.
                        É ai que Halimi formula a seguinte questão: Qual é a melhor forma de dizer que os ricos imprimem fortemente sua marca no Estado e no sistema político? Eles votam com mais freqüência; financiam mais que outros as campanhas eleitorais e o mais importante, exercem uma pressão contínua sobre os eleitos e os governantes. Em face desse poder político, o crescimento da desigualdade se deve, em grande parte, ao nível baixo da tributação do capital. Os ricos mantêm lobby permanente no Congresso, no Judiciário e no poder Executivo.
                        Em 2012 o prêmio Nobel de Economia, o americano Joseph Stiglitz publicou o livro intitulado “O preço da desigualdade”, tendo tido para tal obra, a colaboração do economista italiano Mauro Gallegati. Nessa obra afirma que a classe de 1% mais rica do mundo não é muito afeita ao consumo. Mesmo que o fosse não contribuiria com o desenvolvimento industrial e com o PIB. Somente uma classe média bem-sucedida e favorecida pela distribuição de renda tende a consumir todos ou quase todos os seus recursos, sustentando o PIB do próprio país e a economia de modo geral. O enunciado científico de Stiglitz e Gallegati é o seguinte: Quando o 1% mais rico da população concentra 25% da renda a bomba atômica econômica explode, isto é, o capitalismo entra em crise. Eles demonstram que isso aconteceu em 1929, 1998 e de 2003 a 2008. A descoberta de Stiglitz e Gallegati demonstra que a desigualdade corrói o PIB até matá-lo, não só por causa da queda do consumo, mas também porque o sistema de concentração é ineficiente. Este foi o maior ataque teórico e científico ao Neoliberalismo. (BERNABUCCI, 2013).
                         
Referências

BERNABUCCI, Cláudio. O estopim da crise: concentração de renda. Carta Capital. São Paulo, n. 752, 12 jun. 2013.
HALIMI, Serge. Desigualdade, democracia e soberania. Le Monde Diplomatique Brasil. São Paulo, n. 70, mai. 2013.

                        Belo Horizonte, 22 de maio de 2013.

                         Antonio de Paiva Moura

Nenhum comentário:

Postar um comentário