quinta-feira, 29 de agosto de 2013

As opções para a Síria e a região em caso de um ataque militar ocidental

Será que teremos, de fato, uma nova intervenção do ocidente (leia-se EUA) no Oriente Médio? Já não bastaram as do Afeganistão e do Iraque? 
Bem, uma coisa é certa: na medida em que um ataque vai criar tanta confusão, provavelmente as pessoas no mundo inteiro irão se esquecer da espionagem gigantesca que os norte-americanos fizeram, fazem e continuarão a fazer! Nada como um novo problema para fazer esquecer um outro problema!

As opções para a Síria e a região em caso de um ataque militar ocidental

Em entrevista à 'Carta Maior', Pat Thaker, diretora de África e Oriente Médio da Unidade de Inteligência da revista 'The Economist', analisa as alternativas que se abrem para a Síria e a região em caso de uma intervenção militar ocidental. “Uma das opções que a Síria tem é envolver Israel no conflito lançando um míssil ou ativando a frente sul do Líbano por meio de seu aliado, Hezbollah. Também poderia lançar um ataque contra o sul da Turquia e Jordânia”, avalia Thaker. Por Marcelo Justo, de Londres


Londres - Em março de 2003, o parlamento britânico votou a favor do ataque militar ao Iraque para por fim a um programa de armas de destruição em massa, programa que, segundo os serviços de inteligência, “poderia atingir o Reino Unido em 45 minutos”. Nesta quinta-feira, o parlamento inicia um debate que deverá definir se na próxima semana ocorrerá um ataque militar a Síria por seu suposto uso de armas químicas, suposição baseada nos informes de inteligência. Aqui, a famosa frase de Marx – a história se repete primeiro como tragédia e depois como farsa – mereceria ser reformulada. No caso sírio, o ataque será uma tragédia sem nenhum dos sorrisos que costumam acompanhar uma farsa. Em entrevista à Carta Maior, Pat Thaker, diretora de África e Oriente Médio da Unidade de Inteligência da revista ‘The Economist’, analisou as alternativas que se abrem para a Síria e a região.

A ofensiva militar parece inevitável. Qual é o cenário mais possível de ataque militar?
Uma ação breve e contundente. O momento e a duração são fundamentais. Não vamos ver a intervenção militar que vimos no Iraque. Os objetivos serão instalações militares ou vinculadas aos militares. Não creio que haja ataques diretos sobre instalações de armas químicas pelo risco de liberar agentes tóxicos. Será preciso ver qual será a reação da Síria e de seus aliados. E ver que impacto terá sobre a região em seu conjunto. Uma das opções que a Síria tem é envolver Israel no conflito lançando um míssil ou ativando a frente sul do Líbano por meio de seu aliado, Hezbollah. Também poderia lançar um ataque contra o sul da Turquia e Jordânia. Será preciso ver também qual será a reação da Rússia e do Irã ante um conflito. Ambos têm conselheiros militares na Síria e advertiram que pode haver consequências. No caso do Irã, há um novo governo que está enfrentando seu primeiro grande desafio diplomático.

Quais são os riscos de uma intervenção “breve e contundente”?
Nestas intervenções sempre morrem civis inocentes. Isso pode ter um forte impacto sobre a região. Tampouco se pode descartar que as defesas sírias possam alcançar a força aérea dos aliados. É um conflito que vem ocorrendo há tempo, de modo que se poderia pensar que essa é uma alternativa que já está comtemplada, o que não quer dizer, certamente, que não traga riscos. Mas, além disso, a intervenção vai abrir uma nova fase na guerra civil. Os Estados unidos tem muito claro que o objetivo não é remover Assad, mas é evidente que será percebido como uma tentativa de removê-lo ou de forçá-lo a negociar sua própria substituição. A guerra civil síria já teve impacto no Líbano, Iraque, Jordânia e Turquia. Com esse ataque é de se supor que o tema dos refugiados se agravará.

No Reino Unido, ex-chefes militares, como o do exército britânico, o general Lord Robert Dannatt, assinalaram que não há uma estratégia muito clara. Um temor é que essa intervenção acabe reforçando a posição dos grupos vinculados a Al Qaeda que lutam contra o governo de Assad, o que seria ao menos uma ironia, uma intervenção militar estadunidense que acabe aliando-se a Al Qaeda.
Essa é uma das perguntas fundamentais. Ninguém sabe bem como está conformada a oposição armada a Assad. Uma parte é Al Qaeda. De modo que, quando se arma o movimento rebelde, se está armando a Al Qaeda. Isso tem sua contrapartida no fato de que é necessário enviar uma mensagem clara sobre os ataques químicos. Mas é evidente que um enfraquecimento do regime de Assad que conduza a sua queda vai aprofundar um conflito com uma enorme incerteza no médio prazo e um forte perigo de regionalização.

A mera possibilidade de um ataque militar teve um claro impacto econômico com a alta do preço do petróleo e a instabilidade dos mercados acionários. Esse conflito pode afetar a tímida recuperação que estão vivendo os EUA, o Japão e a zona do euro?
O mercado está reagindo a esta possibilidade iminente de ataque e se ajustará sempre e desde que o fornecimento de petróleo não seja afetado. Se o ataque não produzir uma instabilidade regional, o impacto econômico não será sério em nível global. Mas isso é uma grande interrogação. Não sabemos o que vai ocorrer. De maneira que, no curto prazo, haverá instabilidade. Depois dependerá de como se sairá a intervenção militar e de sua duração. Há dois fatores que moderam o impacto econômico. A guerra civil síria não é um fenômeno novo e a Síria não é um importante produtor de petróleo. Além disso, todas as mudanças que ocorreram no mercado petroleiro com a exploração das reservas de xisto e o fato de que os EUA passarão de importador a exportador do produto são fatores que estabilizam o mercado. O fornecimento já não depende tanto do Oriente Médio, o que ajuda a neutraliza o impacto dessa instabilidade regional.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

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