quinta-feira, 26 de junho de 2014

A busca do comum



Colaboração do professor Antônio de Paiva Moura


A busca do comum

            Em entrevista concedida à revista CULT, abril de 2014, o filósofo e ativista político italiano, Antonio Negri diz que as revoluções dos séculos XIX e XX ocorreram porque havia um clamor público, uma demanda, reivindicação de direitos e justiça. Além disso, as revoluções buscaram uma nova e maior forma de representação. A Revolução Francesa nasceu do desequilíbrio de força entre a aristocracia e as classes subalternas; daí a convocação dos Estados Gerais. A Revolução Russa procurou a paz e o desejo de uma nova constituinte. Na atualidade, há um clamor geral contra os poderes constituídos que protegem a opressão do capital, a disparidade e a destruição da natureza. Para Negri, as constituições burguesas, liberal-democráticas não compreendem ou não reconhecem o comum. Nelas só existem direitos individuais. Os representantes do povo, do interesse comum são eleitos com o poder do dinheiro. Por isso é uma máquina incapaz de conter e desenvolver um mecanismo democrático de decisão. O poder do dinheiro, por natureza é corrupto e a corrupção é uma forma de privilegiar os poderosos. Negri chama os poderes opressores, como o estado, as instituições e o capital, de “império”. Como somar forças para lutar contra esse “império”. 

            Para Negri, a luta pela busca, pela demanda do interesse comum implica em termos a sensibilidade marcada pelo amor à vida e por uma irrenunciável solidariedade dos que vivem e padecem as privações e humilhações que nascem da desigualdade e da servidão. Se ousamos pensar a política a partir do antagonismo que opõe inconciliavelmente os pequenos que desejam se libertar aos grandes opressores; Se desejamos construir comunidade a partir do respeito às singularidades e do reconhecimento da multiplicidade dos modos de viver, sentir, pensar e produzir; se tomamos o capital como relação violenta de comando e exploração sobre os que trabalham – então estamos buscando o “comum”, pensado por Antonio Negri.

            A marcha no sentido do “comum” só pode provir da práxis, das lutas. Para Negri a multidão é o conceito que permite designar a práxis coletiva. São as lutas, o poder em marcha da multidão. Para que a multidão tome a direção da práxis coletiva é necessário superar valores subjetivos sustentados por todas as categorias de assalariados. Para Marx a práxis se realiza em condições históricas dadas, postas pela divisão social do trabalho; pelas relações de produção; pela forma de propriedade e pela divisão social das classes. 

            No Brasil e na América Latina a consciência de classe é evidenciada pela ideologia capitalista de legitimar o capital e discriminar o trabalho. A mentalidade que prevalece é a de que são classificados como trabalhadores somente as categorias inferiores, como construção cível, operadores de máquinas, limpeza urbana e funções de baixa remuneração. Os trabalhadores especializados, como bancários, professores, médicos, advogados, engenheiros, administradores de empresas não querem ser classificados como trabalhadores, mas como funcionários. O funcionalismo público e privado constitui grande parte da classe média. A classe média manifesta sua aversão aos trabalhadores. Todos os partidos que têm na sigla a letra “T” sofrem intensa oposição da classe média. O PTB, criado pelo presidente Vargas sofreu todo tipo de infâmia e depreciação por parte da classe média. Hoje, esse mesmo segmento social demonstra muito ódio ao PT e ao PSTU, o que evidencia o antagonismo de classes. Da mesma forma, os sindicatos, as centrais sindicais e os movimentos de excluídos, a exemplo dos sem-terra, são os horrores da classe média.

Belo Horizonte, junho de 2014.

Antônio de Paiva Moura

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