Colaboração do professor Antônio de Paiva Moura
A
busca do comum
Em entrevista concedida à revista
CULT, abril de 2014, o filósofo e ativista político italiano, Antonio Negri diz
que as revoluções dos séculos XIX e XX ocorreram porque havia um clamor
público, uma demanda, reivindicação de direitos e justiça. Além disso, as
revoluções buscaram uma nova e maior forma de representação. A Revolução
Francesa nasceu do desequilíbrio de força entre a aristocracia e as classes
subalternas; daí a convocação dos Estados Gerais. A Revolução Russa procurou a
paz e o desejo de uma nova constituinte. Na atualidade, há um clamor geral
contra os poderes constituídos que protegem a opressão do capital, a
disparidade e a destruição da natureza. Para Negri, as constituições burguesas,
liberal-democráticas não compreendem ou não reconhecem o comum. Nelas só
existem direitos individuais. Os representantes do povo, do interesse comum são
eleitos com o poder do dinheiro. Por isso é uma máquina incapaz de conter e
desenvolver um mecanismo democrático de decisão. O poder do dinheiro, por
natureza é corrupto e a corrupção é uma forma de privilegiar os poderosos. Negri
chama os poderes opressores, como o estado, as instituições e o capital, de
“império”. Como somar forças para lutar contra esse “império”.
Para Negri, a luta pela busca, pela
demanda do interesse comum implica em termos a sensibilidade marcada pelo amor
à vida e por uma irrenunciável solidariedade dos que vivem e padecem as
privações e humilhações que nascem da desigualdade e da servidão. Se ousamos
pensar a política a partir do antagonismo que opõe inconciliavelmente os
pequenos que desejam se libertar aos grandes opressores; Se desejamos construir
comunidade a partir do respeito às singularidades e do reconhecimento da
multiplicidade dos modos de viver, sentir, pensar e produzir; se tomamos o
capital como relação violenta de comando e exploração sobre os que trabalham –
então estamos buscando o “comum”, pensado por Antonio Negri.
A marcha no sentido do “comum” só
pode provir da práxis, das lutas. Para Negri a multidão é o conceito que
permite designar a práxis coletiva. São as lutas, o poder em marcha da
multidão. Para que a multidão tome a direção da práxis coletiva é necessário
superar valores subjetivos sustentados por todas as categorias de assalariados.
Para Marx a práxis se realiza em condições históricas dadas, postas pela divisão
social do trabalho; pelas relações de produção; pela forma de propriedade e
pela divisão social das classes.
No Brasil e na América Latina a
consciência de classe é evidenciada pela ideologia capitalista de legitimar o
capital e discriminar o trabalho. A mentalidade que prevalece é a de que são
classificados como trabalhadores somente as categorias inferiores, como
construção cível, operadores de máquinas, limpeza urbana e funções de baixa
remuneração. Os trabalhadores especializados, como bancários, professores,
médicos, advogados, engenheiros, administradores de empresas não querem ser
classificados como trabalhadores, mas como funcionários. O funcionalismo
público e privado constitui grande parte da classe média. A classe média
manifesta sua aversão aos trabalhadores. Todos os partidos que têm na sigla a
letra “T” sofrem intensa oposição da classe média. O PTB, criado pelo
presidente Vargas sofreu todo tipo de infâmia e depreciação por parte da classe
média. Hoje, esse mesmo segmento social demonstra muito ódio ao PT e ao PSTU, o
que evidencia o antagonismo de classes. Da mesma forma, os sindicatos, as
centrais sindicais e os movimentos de excluídos, a exemplo dos sem-terra, são
os horrores da classe média.
Belo
Horizonte, junho de 2014.
Antônio
de Paiva Moura
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