A ultima vez que estive em um campo de futebol, para, voluntariamente, torcer pela seleção brasileira, foi em 1972, no Mineirão. Depois dessa data, só voltei uma vez, para levar meu filho, quando o Ronaldo despediu-se da torcida do Cruzeiro.
Não acompanho os jogos, gosto de ver os gols. Não vejo, a não ser obrigado, até mesmo os jogos da seleção.
Em grande parte, no inicio, meu desencanto foi por conta da manipulação política do governo Médici com relação ao tri, no México.
Atualmente, o desencanto é porque o futebol deixou de ser um esporte para se tornar um negócio, lucrativo para poucos.
Aí está um exemplo:
Será esse o homem que vai derrubar Sepp Blatter?
CEO da Match, associada da FIFA que tem exclusividade de venda de ingressos da Copa, vai ter que abrir o bico
10/07/2014
por Andrew Jennings,Da Agência Pública
A queda, quase impossível de assimilar, está na expressão perplexa de Ray Whelan. Em apenas alguns minutos, ele despencou do luxuoso Hotel Copacabana, onde desfrutava da companhia agradável dos que mandam no futebol, a um carro de polícia – “Venha por aqui, senhor” – e dali para uma noite em uma cela na 18ª Delegacia de Polícia. Os próximos passos serão um interrogatório, em breve, e quem sabe um julgamento seguido de anos em uma das terríveis prisões brasileiras.
Ray
Whelan vai ter que abrir o bico. Ele sabe tudo o que se pode saber sobre
a gangue dos ingressos da Copa do Mundo. Ele sabe qual dos dirigentes
do futebol recebe as pilhas de ingressos para revender no mercado negro.
Ele está no coração desse negócio há quase duas décadas.
E
Ray terá que falar sobre a relação íntima entre o presidente da Fifa,
Sepp Blatter, e a empresa familiar, controlada pelos irmãos mexicanos
Jaime e Enrique Byrom em seu escritório em Manchester, na Inglaterra,
que mais uma vez ganharam os contratos para controlar a venda absoluta e
exclusiva de todos os 3 milhões de ingressos para os 64 jogos da Copa.
A
decisão crucial de quem fica com esse contrato é de Blatter, que
gerencia a FIFA desde 1981 – primeiro como secretário geral e a partir
de 1998 como presidente. Ele domina o Comitê Executivo e é fartamente
recompensado pelo seu trabalho. Tudo que ele decide, eles assinam
embaixo. Nos últimos três anos, sete deles tiveram que sair sob
denúncias de corrupção. A reputação da FIFA nunca esteve tão suja.
Os
irmãos, ambos nos seus 60 anos, recebem as ordens, decidem quem são os
sortudos da vez, e dividem grandes lotes de ingressos entre os aliados
de Blatter e seus clientes no mercado negro. Daí a FIFA anuncia que ela é
“a polícia” dos ingressos, e que vai investigar as vendas “não
autorizadas”.
Ray, que completou 64 no ano passado,
vive com a irmã dos Byrom, Ivy, na cidade de Stockport, em Manchester.
Ray sabe como eles compraram a Match, que vende os ingressos para
aquelas caríssimas salas envidraçadas VIPs em todos os estádios “Padrão
FIFA”. E o Ray sabe muito bem por que – e como – uma parcela da parte
mais lucrativa do negócio foi desviada para o bolso do sobrinho de
Blatter, Philippe, que tem 5% das ações da Match.
Por ironia Ray foi preso no mesmo hotel que já encantou Rita Hayworth e Marilyn Monroe, a princesa Diana e Mick Jagger!
Para
ajudar os Byrom Brothers e Ray a garantir os serviços de acomodação da
Copa, a FIFA lhes deu um empréstimo de cerca de US$ 10 milhões, sem
juros, para ser pago em janeiro do próximo ano.
Os investigadores
da polícia vão querer saber tudo sobre isso. Não são os mesmo policiais
brutais que estão nas ruas do Rio prontos para jogar bombas de gás
lacrimogêneo e bater naqueles que protestam contra os gastos da Copa e a
corrupção. São trabalhadores sofisticados, investigadores de fraudes,
que passaram três meses monitorando a venda de ingressos, interceptando
legalmente ligações telefônicas e agora estão expondo a corrupção
intrínseca que mancha a FIFA. A prisão de Ray pode ter acontecido porque
ele fez alguns telefonemas a mais…
Fabio Barucke, o
delegado da Polícia Civil do Rio que está liderando a investigação da
ligação entre os dirigentes da FIFA, os distribuidores oficiais de
ingressos e as vendas no mercado negro, disse que a FIFA distribui
enormes quantidades de ingressos para seus patrocinadores e parceiros,
garantindo a escassez de ingressos para o público e incentivando os
cambistas. “Só uma pequena parte foi destinada ao povo“, o delegador
afirmou em uma coletiva de imprensa na última semana.
Ray
Whelan se une agora aos outros 11 detidos na semana passada. O líder
Mohamadou Lamine Fofana, de 57 anos, suspeito de liderar a quadrilha
desde a Copa de 2002, exibe orgulhosamente uma foto sua com Sepp Blatter
no seu site.
Ray não estava ainda no esquema quando os irmãos
Byrom entraram no negócio dos ingressos na Copa de 1986 no México. Eles
foram favorecidos pelo ex-presidente da FIFA, João Havelange, e o
negócio decolou. Estabeleceram uma empresa na Ilha de Mann, e contas
bancárias internacionais. Anos depois, Ray se envolveu com a irmã Ivy
Byrom, e então se tornou o “terceiro irmão” nessa pequena empresa.Em 2003, apesar dos problemas em Copas anteriores, Sepp Blatter deu aos mexicanos Jaime e Enrique o contrato para vender ingressos para a Copa do Mundo no Brasil. Eles separaram 450.000 dos melhores ingressos para vender em pacotes de hospitalidade através da famigerada Match para os torcedores endinheirados, incluindo 24 mil para as partidas das Semifinais e 12 mil para a Final.
As regras da
própria FIFA proíbem a revenda de ingressos com ágio – o cambismo. Mas
nesta semana, ingressos dos pacotes de hospitalidade para a Final podem
ser comprados pela internet por US$27.500, e ingressos normais, por
US$11.000. Seja quem for que os está vendendo, eles só podem ter sua
origem no escritório dos Byrom em Manchester.
Quem investiga o quê?
Em
2006 os Byroms foram pegos entregando mais de 5 mil ingressos para o
vice-presidente da FIFA, Jack Warner, vender no mercado negro. Apesar da
quebra escandalosa das próprias regras da FIFA, nenhuma atitude foi
tomada contra os Byroms ou Warner.
Por incrível que
pareça, eles fizerem tudo de novo na África do Sul em 2010, fornecendo
mais ingressos para Warner vender para grandes cambistas do mercado
negro internacional. A correspondência confidencial por e-mail foi
copiada, descaradamente, para a FIFA e a empresa Infront, de Philippe
Blatter. De novo, nenhuma providência foi tomada. Warner teve que sair
da FIFA um ano depois por outras acusações de corrupção.
Mas
para os irmãos Byrom, a FIFA é um pote de ouro infindável. Em novembro
de 2011 os contratos de hospitalidade com a Match foram estendidos até
2023 “após uma avaliação do mercado” pela FIFA.
Disse
Blatter: “O acordo fortalece a luta da FIFA contra o cambismo. Graças à
sua expertise e sistema de monitoramento, a Match Hospitality está em
posição de ajudar a FIFA a adotar procedimentos na venda de pacotes de
hospitalidade, impedindo vendedores não autorizados a enganar
corporações e indivíduos lhes vendendo esses pacotes”.
Os Byroms anunciaram essa semana que a FIFA pediu que eles mesmos investiguem a revenda de pacotes de hospitalidade.
Um
ingresso em nome de Humberto Grondona, filho do vice-presidente da
FIFA, o argentino Julio Grondona, foi encontrado à venda em São Paulo.
Os dirigentes da FIFA disseram que ele não será investigado porque
afirmou ter dado o ingresso, e não vendido.
Uma nota da Match afirmou que a empresa “tem fé” que os fatos irão demonstrar que Ray Whelen “não violou nenhuma lei”.
(fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/29133)
(fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/29133)
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