Transcrevo o post de hoje do blog da KikaCastro. E assino embaixo!
por Cristina Moreno de Castro
Como
prometido, hoje vou escrever sobre meu voto. Apesar de muitos terem
dito que eu não deveria declarar meu voto, por estarmos em um momento de
muita agressividade na internet, acho que estas são eleições em que não podemos nos omitir, temos que tomar um partido,
sair do muro, porque muita coisa está em jogo. Claro que não escrevo
este post para aqueles que já estão convictos de seu voto (e todos têm seus motivos para escolher um ou outro candidato, que devem ser respeitados), mas para os que ainda estão abertos a mudar de opinião (ou tomar uma posição),
a partir da reflexão. E, para contribuir com essa reflexão, trago uma
planilha com diversos dados que coletei a partir de registros oficiais,
além de mais de 70 links para notícias confiáveis, selecionadas a partir
de critério jornalístico, que detalham o que escrevo ao longo do post, e
que podem ser consultadas como fonte de informação. Espero que os leitores, mesmo os que discordem de mim, mantenham o respeito, como sempre mantiveram neste blog ;)
Decidi que vou votar 13, ou seja, pela reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT). Por três razões principais:
- Porque seu governo conseguiu conquistas importantes em algumas áreas;
- Porque as principais críticas que são feitas ao governo perdem força se comparadas com o governo de Fernando Henrique Cardoso, último presidente da República filiado ao PSDB;
- Porque, embora eu considere a alternância de poder muito importante para uma democracia, não acho o princípio válido quando a alternativa é Aécio Neves, personagem que venho acompanhando de perto desde que assumiu o governo de Minas pela primeira vez, em 2003.
Passo a explicar melhor cada uma dessas razões.
1) Para mim, as melhores conquistas do governo Dilma, que foi um governo de continuidade do Lula, dizem respeito:
- ao trabalhador (baixo índice de desemprego -- e sempre em queda -- num momento em que há altíssimos níveis em países do mundo todo; aumento significativo do salário mínimo e da renda do trabalhador),
- à educação (como já foi bem abordado no artigo da Sílvia Amélia no último domingo, hoje já são 7,3 milhões de matriculados no ensino superior e houve um salto no número de faculdades e instituições técnicas)
- e à erradicação da fome no Brasil, conforme noticiado recentemente pela ONU.
Para mim, é uma conquista impressionante que o número de miseráveis e de subnutridos no meu país tenha sido reduzido tão consideravelmente
em tão pouco tempo. Me parece que isso só foi possível por ter havido
uma política de Estado que priorizou isso, antes de qualquer outra
coisa. Vejo que a vida do povo, de modo geral, melhorou muito, com o acesso ao ensino superior e a bens de consumo importantes. No campo da economia, a cartilha desenvolvimentista seguida pelo governo de Dilma tem sido defendida por Bancos Centrais de todo o mundo, e os neoliberais, da linha de Armínio Fraga, estão começando a perder espaço.
2)
A inflação está nas alturas? O crescimento está baixíssimo? A cesta
básica está impossível de pagar? A Petrobras está sucateada? Não é o que
os números me mostram, pelo menos não dessa forma tão trágica como vem
sendo alardeada pelos defensores do Estado mínimo.
Vamos aos fatos:
- a inflação no mês passado foi de 0,57%. No mesmo mês de 1998 (primeiro mandato de FHC), houve deflação de 0,22%. No mesmo mês de 2002 (segundo mandato de FHC), foi de 0,72%.
- O ano de 1998 fechou com inflação de 1,65%. Já em 2002, fechou a 12,53% (o governo FHC já tinha conseguido reduzir a hiperinflação a quase zero, que foi seu grande mérito no primeiro mandato, então não é mais válido o argumento de que a inflação estava a 1000% antes de chegar a 12,5%; no segundo mandato, o presidente do Banco Central, responsável direto pelo controle da inflação, era Armínio Fraga, que Aécio escolheu agora como seu ministro da Fazenda). Em 2013, fechou a 5,91% (abaixo do teto da meta) e o acumulado nos últimos 12 meses está em 6,75%.
- Uma das razões para o aumento da pressão sobre os preços nesta época do ano é a prolongada seca (veja AQUI também); portanto, há chances de o ano fechar com inflação dentro da meta estipulada pelo BC, como em todos os outros anos do atual governo (2011, 2012 e 2013).
- Considerando a média da inflação em todo o mandato, a do governo Dilma é a mais baixa desde o Plano Real, inclusive que as dos governos FHC e Lula.
O crescimento
está terrível? Pibinho? Em relação ao crescimento chinês do governo
Lula, está mesmo. Em relação ao governo FHC, não é bem assim.
- O país cresceu 0,04% em 1998 (último ano do primeiro mandato de FHC) e 2,66% em 2002 (último ano do segundo mandato).
- Em 2013, o crescimento foi de 2,49%. Em 2014, o acumulado em 12 meses está em 0,93%.
- Gozado é que, pelo menos desde 2013, o PIB de Minas tem crescido ainda menos que a média nacional. E, sim, o Estado também foi prejudicado pela seca.
A cesta básica
custa R$ 303,54 em Belo Horizonte (setembro), segundo o Dieese. Subiu
muito em relação aos R$ 93,58 que custava em 1998, certo? Errado: graças
ao aumento do salário mínimo, que saltou de R$ 130 (ou o equivalente a
R$ 362,29, tendo em vista a inflação acumulada no período) para R$ 724, o
trabalhador que gastava mais de 158 horas de trabalho para bancar esta
cesta hoje gasta 92 horas, ainda segundo o Dieese.
A Petrobras, que tinha lucrado R$ 701,7 milhões em 1998 e R$ 8,089 bilhões em 2002, lucrou R$ 23,6 bilhões em 2013 (foi a empresa que mais lucrou no país em 2013,
dentre todas as 313 de capital aberto) e, só no primeiro semestre de
2014, já lucrou R$ 10,4 bilhões. O valor de mercado da Petrobras caiu em
relação ao auge que atingiu no governo Lula (de R$ 380 bilhões em 2010 para R$ 240 bilhões nesta semana). Mas era de R$ 15,5 bilhões em 2002. (Leia mais AQUI)
Também é legal comparar o olhar que o Brasil passou a ter no resto do mundo. Em 2002, tivemos que recorrer ao FMI
para empréstimo de US$ 41 bilhões. Apenas três anos depois, Lula quitou
a dívida, que estava em US$ 15 bi e, em 2009, tornou-se credor
do organismo, emprestando US$ 14,5 bi para ajudar países em
dificuldades financeiras. Em 2012, já no governo Dilma, o Brasil
aumentou o aporte no FMI, enquanto fez exigências para que países em
desenvolvimento tenham mais participação no Fundo. Esse histórico pode
ser visto AQUI,
em infográfico do jornal "O Globo". É inquestionável como o Brasil
cresceu aos olhos do mundo, passando a ser mais respeitado desde o
governo Lula e o surgimento dos Brics, em 2006/2011, grupo que criou seu primeiro banco de desenvolvimento
neste ano. Para ficar em um exemplo fácil, a Copa do Mundo, que todos
diziam que seria caótica, foi vista como "a melhor dos últimos tempos"
pelo britânico "Financial Times".
Por fim, vale comparar a gestão da energia nos dois governos. Apesar de estarmos com os reservatórios com níveis inferiores aos de 2001,
numa das secas mais prolongadas da história, não houve necessidade de
racionamento de energia, nem houve apagão – como naquele ano, durante a
gestão de FHC.
Não
consegui reunir todos os dados que eu queria, porque isso é uma coisa
que demanda tempo e isso tem-me faltado. Queria ter coletado mais
informações e números, sobre educação e investigações da Polícia Federal, por exemplo, como o cineasta Pablo Villaça
fez tão bem. Mas é possível ver estes indicadores acima e outros que
encontrei, com as respectivas fontes para cada um deles, na planilha que
montei. CLIQUE AQUI para acessá-la.
3) Se o PT e o PSDB nos enojam com o aparelhamento de Estado para benefício do partido -- como demonstraram os escândalos do mensalão e este agora da Petrobras (que já resvalou em um dos ícones tucanos, Sérgio Guerra, e em todo o PSDB), e os escândalos do mensalão tucano (que tem como um dos réus Clésio Andrade, vice de Aécio no primeiro mandato e marido da atual presidente do TCE, Adriene Barbosa, que tomou posse como conselheira em 2006, indicada por Aécio quando Clésio ainda era seu vice), a máfia dos fiscais do ISS
(que atinge as prefeituras de José Serra, Gilberto Kassab e Fernando
Haddad), as propinas milionárias pagas pela Alstom e Siemens para
ficarem com os trens e metrôs de São Paulo, além de dezenas de outros escândalos
descobertos nos governo FHC, Lula, Dilma, Alckmin, Serra, Eduardo
Azeredo e outros --, Aécio Neves me preocupa ainda mais porque, além de
também ter aparelhado as estatais mineiras, como Cemig e Codemig, usou seu governo em Minas para benefício próprio ou de sua família, como podemos inferir pelas notícias sobre o aeroporto de Cláudio (e muitas outras práticas coronelistas em Cláudio, que incluem até suspeita de compra de votos), a pista de Montezuma, práticas de nepotismo, que podem ter favorecido diretamente empresas da família -- tudo com a conivência completa do Ministério Público do Estado e do já citado TCE presidido
por sua amiga, a mulher de Clésio Andrade -- ou, muito antes, no início
de sua carreira política, por Aécio ter sido nomeado diretor da Caixa por seu parente, que era ministro da Fazenda (e há suspeita de que ele tenha sido conivente, ou pelo menos omisso, em relação à Máfia das Lotecas).
Fora essa parte dos escândalos, que pode ser encontrada por qualquer eleitor que "der um Google" por aí, questiono (e não só eu!) a forma como ele governou Minas Gerais (direto do Rio de Janeiro, onde mais morou), com um choque de gestão questionadíssimo (ver AQUI e AQUI), com relatos de ter deixado um "Estado quebrado" para Anastasia, com educação sucateada (e salários abaixo do piso nacional, como se vê nesta carta de professores), investimentos em saúde e educação questionados na Justiça até hoje, falta de transparência, inclusive nos gastos com publicidade, que explodiram em seu governo e foram destinados, em parte, a empresas de telecomunicações de sua família (ou, agora, a contribuir para a campanha eleitoral, conforme entendimento do TSE), e construção de uma obra faraônica, a Cidade Administrativa, por R$ 1,2 bilhão, que já teve que ser reformada um ano depois de pronta; questiono sua nulidade como senador e, antes, como deputado; e não gosto de seus traços autoritários, ao sair processando tudo e todos, até o Google, o Twitter e blogueiros,
só por publicarem informações ou opiniões que lhe desagradam. "Traços",
aliás, foi bondade minha, porque considero que muitas das ações do
pessoal de Aécio foram tentativas claras de intimidação e de censura prévia,
que não condizem com a democracia que estamos tentando construir para o
Brasil. (Dois documentários já foram produzidos a respeito: veja AQUI e AQUI).
Ainda
vale ressaltar que, embora os governos de Lula e de Dilma tenham
apanhado de todos os lados, seja nas redes sociais, na blogosfera ou na
imprensa, não tenho conhecimento de ações judiciais movidas por eles
para tentar calar as pessoas ou os veículos de comunicação. Como esse
assunto, da liberdade de expressão e de imprensa, me é muito caro, acho
importante registrar essa diferença abissal entre os dois candidatos
nesse assunto. Não se trata de corporativismo de jornalista, mas de um
princípio básico da democracia. É importantíssimo, fundamental
mesmo, que a imprensa -- e as pessoas de um modo geral -- sejam livres
para se expressarem em uma democracia, porque só com a crítica pode
haver evolução.
É
tudo mentira? Conspiração da "blogosfera comunista" e da "esquerda
caviar"? Bom, deixei os links de diversos jornais, com todos os matizes
ideológicos, para que você tire suas próprias conclusões. Mas, lendo a
análise de apenas um dos debates presidenciais, feita pela "Folha de
S.Paulo" (que está longe de poder ser tachada como petista), é fácil verificar qual candidato distorceu mais o que disse, em detrimento da verdade. (Atenção, que tem o "não é bem assim" e o "é bem assim".)
Para concluir, olhando para o futuro, como diz Aécio, não gosto da perspectiva de um Brasil presidido por um candidato que tem o apoio de Bolsonaro, Ronaldo, Marco Feliciano, Silas Malafaia e Levy Fidelix. Claro que Dilma também reúne a seu redor um monte de políticos das trevas, mas percebo que a nata do conservadorismo brasileiro, que apoiou o regime militar e elegeu Collor em 1989, está "fechada com Aécio". E o PMDB, que já foi um bom partido e hoje está longe disso, estará com qualquer um dos dois (alguém se surpreende?).
Enfim.
Quero, sim, que haja alternância de poder, queria que fosse possível
uma presidência sem blocão com o PMDB, quero que esses escândalos parem
de ocorrer com todos os partidos, quero que o Brasil continue crescendo
mais e mais, mas não vejo como Aécio Neves possa ser aquela alternativa
que muitas pessoas pensam que é.
Concorda comigo? Compartilhe o post :D Discorda? Espero que com argumentos e com educação ;)
Fecho o post com o necessário bom humor, que acho que deve prevalecer mesmo durante discussões ou em momentos de tensão :D
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