por Ana Cláudia Vargas
Minas
está sangrando, as veias dessas montanhas estão abertas e sangram...
Esse sangue que desce pelas encostas é só o resultado do que estão
fazendo com as terras mineiras desde que essa região por acaso situada
no sudeste do Brasil passou a se chamar Minas Gerais.
Esse
estado que deve seu nome às minas que existem nas funduras de suas
entranhas, esse minério que enriquece poucos e destrói a vida dos muitos
que trabalham nas minas ou vivem perto das minas (quem em Minas não
vive perto de uma?). A natureza desses lugares há muito vem sendo
devastada e nunca se fez nada para impedir isso porque a ganância é e
sempre foi maior. Esse não é o primeiro acidente causado por
mineradoras, essas não são as únicas vítimas, mas bem que poderiam ser
as últimas. Quantos ainda terão que morrer, perder suas casas e suas
memórias para que o governo mineiro faça algo para preservar o meio
ambiente das Minas Gerais?!
Sabemos
que tudo isso não comove os homens públicos nem os executivos das
empresas que ontem estavam preocupados somente com a queda das ações da
empresa (que sangrou a montanha) na bolsa de valores. Em momentos de dor
tão grande só mesmo a delicadeza de um poema pode dizer o que todo o
resto não consegue é por isso que deixo aqui esse que foi escrito por
Ana Maria Vargas Pedroso (mineira) e lembro que há muito tempo, outro
mineiro chamado Carlos Drummond já mostrava sua tristeza diante dessa
triste sina das Minas Gerais: ter suas entranhas devastadas, ter a vida
da sua gente devastada.
Mariana
Carlos, você pode ver?
A barragem se rompeu e a lama cobriu a cidade
Não é de ouro nem ferro.
Ainda não se pode contar quantas casas,
Quantas Marias, entre lágrimas, perguntam:
“E agora, José? a luz apagou, o povo sumiu...”
Cadê cidade que se via do alto da montanha?
Montanha não há mais, José!
Veja como são fundas, muito fundas
Essas crateras abissais.
Não é de ouro nem ferro.
Ainda não se pode contar quantas casas,
Quantas Marias, entre lágrimas, perguntam:
“E agora, José? a luz apagou, o povo sumiu...”
Cadê cidade que se via do alto da montanha?
Montanha não há mais, José!
Veja como são fundas, muito fundas
Essas crateras abissais.
O que resta agora é um rio escuro e barrento
A preencher o vazio que a máquina deixou.
Quanto vale a paisagem que se perdeu?
Quanto vale a vida sufocada, enlameada,
...Perdida
A preencher o vazio que a máquina deixou.
Quanto vale a paisagem que se perdeu?
Quanto vale a vida sufocada, enlameada,
...Perdida
Responda, José!
Quanto VALE?
Talvez se subir ao Pico do Cauê,
Lá do alto se veja Mariana, menina bonita,
Passeando entre vales e montanhas.
Quanto VALE?
Talvez se subir ao Pico do Cauê,
Lá do alto se veja Mariana, menina bonita,
Passeando entre vales e montanhas.
- Carlos, veja, pico não há!
Bem que você avisou.
“Quer ir para Minas,
Minas não há mais.”
E agora, Carlos?
Bem que você avisou.
“Quer ir para Minas,
Minas não há mais.”
E agora, Carlos?
“E agora, José?”
(fonte: http://www.babelcultural.com/revista/minas-esta-sangrando/)
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