terça-feira, 1 de novembro de 2016

Como o golpe não reverteu as expectativas na economia

Texto escrito por José de Souza Castro:

O mineiro Fernando Nogueira da Costa se formou em economia em 1974 pela UFMG e fez doutorado na Unicamp em 1985, defendendo tese sobre o caso Banestado. Desde então, é professor da Unicamp. Seu livro mais conhecido é “Brasil dos Bancos” (Edusp, 2012). Durante cinco anos, foi diretor-executivo da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Tudo isso, para dizer que não é nenhum “porra louca”.
E por que é preciso deixar isso bem claro? Porque ele acaba de publicar artigo mostrando como os golpistas que “apostaram que o golpe iria reverter as expectativas” se frustraram.

“Acreditavam que, daí em frente, com eles usurpando o poder executivo, tudo seria diferente e sairia a mil maravilhas”, escreveu Costa. “Seu exército de ‘chapas-brancas’ foi colocado na mídia para, supostamente, serem ‘formadores-de-opinião’. Fracasso total”.

A insistente repetição cotidiana na imprensa das palavrinhas mágicas “confiança”, “credibilidade”, “seriedade”, “produtividade”, “eficiência”, “eficácia”, “disciplina”, “cenário otimista”, entre outras do jargão yuppie, usado e abusado por jovens executivos neoliberais em escalada social, não conseguiu reverter as expectativas pessimistas quanto ao futuro nacional, constatou o economista mineiro.
Nem é preciso dizer – e quem diz, mesmo assim, sou eu – que as expectativas pessimistas foram criadas antes das eleições de 2014 no esforço de barrar a reeleição da presidente Dilma Rousseff e reforçadas, em seguida, para apeá-la do poder pelo impeachment.
Voltando a Fernando Nogueira da Costa: “Um problema desafiante é  como superar a imagem mundial negativa de um país que não respeita o resultado da eleição democrática com a vitória de um determinado programa de governo: o social-desenvolvimentista.  E os golpistas tentam implementar o programa neoliberal oposto ao vencedor nas quatro últimas eleições!”, escreve ele, com os devidos destaques e o ponto de exclamação.
Mais adiante, o economista desanca o ministro da Fazenda, que “já perdeu sua credibilidade desde quando cometeu atrozes ‘barbeiragens’ no comando do Banco Central do Brasil” e agora se tornou cúmplice, juntamente com a Fiesp, na desindustrialização brasileira.
O quadro visto sob a ótica de Fernando Nogueira da Costa é dramático. A Dívida Líquida do Setor Público alcançou R$ 2,699 trilhões (44,1% do PIB) em setembro de 2016. Nos primeiros nove meses deste ano, houve elevação de 7,9 pontos percentuais na relação dessa dívida com o Produto Interno Bruto.
A maior parte do déficit primário no ano é decorrente do saldo negativo da Previdência Social (de R$ 112,6 bilhões, mais que o dobro dos R$ 54,2 bilhões em igual período de 2015), “que sofre com a queda brutal das receitas decorrente do aumento do desemprego e da crise econômica”. Ao mesmo tempo, os investimentos públicos caíram neste ano, até setembro, 15,7% em termos reais, ou seja, descontada a inflação. Os investimentos totais do governo federal totalizaram R$ 34,269 bilhões. Apenas 0,54% do PIB estimado para 2016. Em 2014, último ano da Era Social-Desenvolvimentista, os investimentos chegaram a 1,4% do PIB.
A fraca atividade econômica só serve para ter impacto no resultado das contas externas, observa o economista. “A dificuldade em retomar o crescimento segura as importações e ajuda a elevar o saldo comercial, além de diminuir as remessas de lucro e dividendos das empresas ao exterior. As remessas recuaram de US$ 2,04 bilhões em setembro de 2015 para US$ 899 milhões”, diz Costa, esclarecendo: “O superávit do balanço comercial total no acumulado até setembro se expandiu de US$ 10,3 bilhões para US$ 36,2 bilhões de 2015 para este ano”.
Por fim, a cereja do bolo: os bancos estão pagando menos para captar dinheiro no mercado, mas aumentaram as taxas médias (53,4% ao ano) cobradas de seus clientes.  “Além de não repassar a queda dos custos de captação aos clientes, os bancos estão aumentando as margens brutas. O chamado spread bancário, a diferença entre o que os bancos pagam para captar recursos e o que cobram de quem empresta o dinheiro, aumentou 9,1 pontos de dezembro de 2015 a setembro de 2016”.

É o “Brasil dos Bancos” – não custa repetir. O ministro da Fazenda, um ex-banqueiro, e o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, um ex-economista-chefe do banco Itaú, não estão se incomodando com isso…
E nem Miriam Leitão, a célebre comentarista econômica da Rede Globo de Televisão, que tanto contribuiu para derrubar o governo petista e tanto se esforçou para reverter as expectativas após a posse de Temer. Leitão saiu de merecidas férias. Deve estar comemorando o revés do PT nas eleições municipais e a subida do PSDB ao comando de importantes prefeituras. Pode esquecer – mero detalhe – o que aconteceu em Belo Horizonte com o candidato tucano apoiado por Aécio Neves. Leite derramado é leite esquecido…

(fonte: https://kikacastro.com.br/2016/11/01/golpe-expectativas-economia/#more-13194)

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