sábado, 8 de abril de 2017

Da Petrobras para a francesa Total: Cade aprova negócio ‘de pai pra filho’

Texto escrito por José de Souza Castro:

Caiu, ao que parece, a última barreira para a entrega de uma parcela do pré-sal à francesa Total a preço de banana. No dia primeiro de abril, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), um órgão regulador, aprovou sem restrições a venda de 22,5% da área de Iara, na Bacia de Santos.
“Mais um crime de lesa-patria”, afirma a Federação Única dos Petroleiros (FUP), em nota intitulada “O Parente é da Total”.
Esse Parente é o presidente da Petrobras nomeado no atual governo, sobre o qual já escrevi aqui, aqui e aqui. E a Total S.A. é o quarto maior grupo privado explorador de petróleo e de gás natural mundial.
A entrega do pré-sal à Total se deu mediante um acordo de colaboração chamado de Aliança Estratégica e assinado no dia 28 de fevereiro deste ano.
Segundo a FUP, “a gestão Pedro Parente deu de mão beijada à petrolífera francesa um tesouro de 675 milhões de barris de petróleo (o bloco todo tem reservas provadas de três bilhões de barris)”, equivalente a 33,7 bilhões de dólares a preços de hoje.
A Total se comprometeu a pagar 2,2 bilhões de dólares à vista e o restante “em suaves prestações”. Por esse valor, “muito abaixo dos preços de mercado”, a petrolífera francesa levará também 35% do campo de Lapa, cujo ativo já havia sido depreciado em R$1,238 bilhão, “para facilitar a sua venda”, e metade da Termobahia, “incluindo duas termoelétricas e o acesso ao terminal de regaseificação”.
Não para aí essa venda “de pai para filho”, segundo a FUP: “Além disso, a multinacional se beneficiará de toda infraestrutura e logística já desenvolvidas pela Petrobrás, o que reduzirá significativamente os seus custos”.
Não se diga que não há motivos para comemorar. Não pelos brasileiros, sim pelos investidores franceses. “Analistas de mercado”, conforme a FUP, “chegaram a calcular que a Total aumentará em 1 bilhão de barris de petróleo as suas reservas ao se apropriar destas duas áreas do Pré-Sal brasileiro. Tudo isso a um custo estimado entre US$ 1,75 e US$ 2,4 o barril, segundo divulgou a imprensa francesa na época do fechamento do acordo”.
A FUP informou, erroneamente, que a aprovação pelo CADE se deu no dia 3 de abril. Na verdade, essa foi a data da publicação no “Diário Oficial da União”. À maior agência de notícias do mundo, com sede em Londres, a Reuters, não passou em branco que a aprovação ocorreu antes, no dia primeiro de abril.
Sim, no Dia da Mentira. Faz sentido, pois o que se mente sobre o pré-sal não está no gibi.
Conforme a Reuters, a “concessão, no pré-sal da Bacia de Santos, inclui os campos de Berbigão, Sururu e Atapu Oeste, segundo documentos enviados pelas empresas ao Cade” e, na defesa do negócio envolvendo Iara junto ao Cade, “as empresas disseram que os campos envolvidos nesta operação estão em fase de desenvolvimento e não apresentam produção”. Acrescenta: “Quando a produção for iniciada, e considerando o pico de produção dos campos, estima-se que esse valor representará menos de 7 por cento da produção nacional de petróleo”, disseram elas em documento.
Ah, bom…
No mesmo dia, a Reuters informou que a produção de petróleo no Brasil em fevereiro somou 2,676 milhões de barris por dia, sem contar o gás natural. Somando este, foram aproximadamente 3,346 milhões de barris de óleo equivalente por dia em fevereiro.
Sete por cento desse total significa 234.220 barris por dia. O petróleo do tipo extraído do pré-sal estava cotado nesta terça-feira, às 16h30, a US$51,04 o barril. E subindo 1,55%…
Pobres investidores franceses!

(fonte: https://kikacastro.com.br/2017/04/05/petrobras-total/#more-13792)

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