terça-feira, 11 de abril de 2017

Julgamento de Jesus foi político





Antônio de Paiva Moura

            A trajetória adulta de Jesus 

            O Evangelho segundo São João é uma narrativa minuciosa da vida social de Jesus: formação do elenco de discípulos; participação em festejo de núpcias; debatendo com Nicodemos; entre os discriminados samaritanos; infiltrando entre a multidão de doentes que procuravam cura na piscina de Besteda. Ai começa a tentativa de envolver Jesus em ações políticas. Não era permitida qualquer espécie de trabalho aos sábados e ele havia curado um doente antes de entrar na piscina. Em sua defesa Jesus diz que fazia o que seu Pai mandava e que como filho de Deus, ele tinha seu próprio arbítrio.
            Depois desse episódio, Jesus passou a percorrer a Galiléia, não podendo mais circular pela Judéia, porque os judeus queriam matá-lo. Aproximava-se o dia do início da tradicional festa das tendas em Jerusalém. Convidado a ir à referida festa, Jesus disse que ainda não havia chegado a hora de ir a Jerusalém. Mas depois resolveu ir de forma clandestina. Os judeus procuravam Jesus na multidão, mas ninguém informava. Assim foi até que Jesus foi ao templo e resolveu se expor ao público. Discutindo com os presentes, Jesus disse que estava sendo acusado de ter trabalhado em um sábado e que isso era um falso julgamento. Os fariseus eram uma facção de elite no interior da sociedade judaica, intransigente na defesa de seus interesses.
Ouvindo os comentários do povo sobre a sagrada missão de Jesus, os fariseus mandaram guardas prendê-lo. Mas ficaram comovidos com as suas palavras e não cumpriram a referida ordem. No dia seguinte Jesus voltou ao templo e conseguiu livrar uma mulher, acusada de adultério, de ser apedrejada. Esse ato serviu para demonstrar e ridicularizar o moralismo dos fariseus. Ainda no templo, em discussão com fariseus, estes evocavam sempre a memória de Abraão como patriarca dos judeus. Mas Jesus disse que como enviado de Deus, Ele precedia a Abraão. Antes que Abraão existisse, eu sou. Nesse momento, apanharam pedras para nele atirarem, mas Jesus escondeu-se.
            Jesus falava por metáforas ou parábolas, razão pela qual os adversários não entendiam. Não tinham capacidade de entender os atos simbólicos utilizados nas práticas catequéticas. Sujou de barro os olhos de um cego e mandou-o lavar-se na piscina e este passou a enxergar. Para São João (9.13) a cura do cego simbolizava o batismo. Em parábola Jesus diz que o verdadeiro pastor entra pela porta da frente e as ovelhas o ouvem. O ladrão salta o muro e tenta dominar as ovelhas, mas essas não obedecem. Os fariseus não compreenderam o que Ele havia dito.  Continuando a discussão, os fariseus tentaram classificar Jesus como blasfemo, por dizer que era Filho de Deus. Depois da ressurreição de Lázaro, ficou claro que os fariseus temiam que o crescimento do carisma e da popularidade de Jesus pudesse provocar uma reação de Roma e piorar a situação daquela elite. O sumo sacerdote Caifás, alegando interesse de toda a nação judaica, determinou o assassinato de Jesus.
            Embora estivesse refugiado, Jesus revolveu ir à festa de Páscoa em Jerusalém, correndo o risco de ser executado. Entrou na cidade montado em um jumentinho, acompanhado por grande quantidade de populares, empunhando ramos de palmeiras. Em termos modernos, era uma bela manifestação de pessoas humildes, em seu favor. Páscoa significa festa de passagem para os judeus, celebrando a passagem do Mar Vermelho, na qual os judeus se consideravam privilegiados por Deus. Mas Jesus celebrou sua própria passagem; preparou seus discípulos para continuarem sua missão. Lavar os pés de Pedro foi uma aula prática de amor e humildade. Ele sabia que Judas o trairia, pois este, como os fariseus, só tinha apego a bens e dinheiro. Permitiu que Pedro negasse que era seu amigo, para preservá-lo de perseguições. A última ceia é toda a simbologia da passagem de Cristo.
            Com auxílio de Judas os soldados do sumo sacerdote prenderam Jesus e o interrogaram. Como não podiam aplicar pena de morte, o sumo sacerdote o encaminhou a Pilatos. Depois de interrogar Jesus, Pilatos voltou aos judeus e disse que, de acordo com as leis de Roma, não havia encontrado nenhum motivo de condenação. Além disso, Pilatos perguntou aos sacerdotes e seus guardas se queriam que ele soltasse Jesus por ser tempo de páscoa. Estes preferiram que soltasse o bandido Barrabás e que mandasse crucificar Jesus. Os judeus tentaram persuadir Pilatos de que Jesus era um subversivo que queria tomar o lugar de César. Depois de muito relutar Pilatos entregou Jesus para que os judeus o crucificassem. 

            Pseudo julgamento

            Em 63 aC o general Pompeu conquistou a Judéia e anexou o território ao domínio romano. Quando Jesus nasceu o rei da Judéia era Herodes e Cláudio, o imperador de Roma. Herodes era muito ambíguo, pois se dizia seguidor das tradições judaicas, ao mesmo tempo em que defendia os interesses de Roma. Quando Jesus foi crucificado o governador era Pôncio Pilatos. O poder jurídico era delegado ao Governador por transmissão do Imperador. Jesus passou por dois julgamentos: um religioso, perante o Sinédrio, e outro político, frente a Pôncio Pilatos e Roma. As acusações religiosas no Direito Hebraico eram: blasfêmia, trabalhar no sábado e ser um falso profeta. Na verdade, o Sinédrio era um órgão de caráter legislativo e não tinha competência para julgar, mas via em Jesus uma ameaça política. Porém, estas de nada valiam perante Roma, visto que não violavam o direito romano. Ao levar Jesus para seu segundo julgamento, eram necessárias novas acusações. Acusações políticas: sedição, declarar-se rei e incitar o povo a não pagar impostos a César. Era necessário que algum judeu legítimo testemunhasse as falsas acusações contra Jesus. Resolveram, então, premiar o delator Judas. Os sumo sacerdotes, representantes das elites judaicas preferiam o fortalecimento do poder de Roma, a ver o crescimento do prestígio popular de Jesus. Ambos os julgamentos foram permeados de ilegalidades processuais. Na noite de seu julgamento, todo conhecimento que os juízes do direito possuíam sobre legalidades fora desprezado em favor do ódio alimentado contra Jesus. Ele foi preso sem culpa, acusado sem indícios, julgado sem testemunhas legais e condenado a uma pena errada ao crime que era acusado. A ira dos poderosos crucificou Jesus. 

            O significado

             A diferença entre o ideal de Jesus e o Judaísmo é visível na leitura do primeiro mandamento: “Amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo”. Jesus observa que o amor que se devotava a Deus era interesseiro. Em troca da devoção, os conterrâneos e contemporâneos de Jesus queriam riquezas materiais e a proteção de Deus. O amor a Deus era como se fosse um investimento econômico. Não era diferente do que se constata na Teologia da Prosperidade, na atualidade. A segunda parte do mandamento era simplesmente ignorada. O que impedia e impede até hoje de “amar ao próximo como a si mesmo” era a discriminação arraigada na cultura: ódio e intolerância a outros povos; rivalidades entre ricos e pobres; preconceitos de cor e raça; subjugação humilhante das mulheres. Foi exatamente o ideal e a prática de amor ao próximo que provocou a ira dos poderosos da Judéia contra Jesus.

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