terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Usura e espoliação





            É espantosa a ação do setor financeiro no cenário econômico mundial e no Brasil. A intermediação financeira drena os recursos que deveriam servir ao fomento produtivo e ao desenvolvimento econômico. Diz o economista da PUC-SP, Ladislau Dowbor, que as altas taxas de juros cobradas pelo comércio, acabam sendo negócios mais bancários que comercial. Juros acima de 72% significam que esse tipo de comércio, em vez de prestar serviços comerciais, transformou em negócios financeiros. Os preços dos produtos são excessivamente elevados, mas os consumidores não sabem calcular o custo final dos produtos. O consumidor não tem conhecimento de que os bancos são intermediários nas vendas a prazo e que cobram cerca de 230% sobre estas. Se o valor comercial de um produto for de R$ 1.000,00, o comprador a prazo vai ficar devendo R$ 3.300,00. O caráter enganoso das transações é que caracteriza verdadeira extorsão ou espoliação dos clientes.
            Nada escapa a essa brutal taxação: empréstimos, cheques especiais, cartões de crédito. Mesmo sem entrar no crédito do cartão, isto é, compra a vista com cartão, uma loja tem de pagar cerca de 5% do valor das compras ao banco, além do aluguel da máquina. As pessoas, ao fazerem uma compra a crédito, gastam mais com juros do que com o próprio valor do produto adquirido. Os consumidores se endividam muito comprando pouco.
            Esse sistema, mesmo diminuindo o poder de compra do cidadão, acaba projetando a inflação para o alto. Os tributos são bem menores que o lucro comercial e os juros. Mas, para disfarçar essa essas extorsões legais, alegam que a carga tributária é alta. Os tributos são transparentes e visíveis nas compras, mas o lucro e os juros são ocultos. Os benefícios dos tributos são visíveis, mas o lucro e os juros contribuem para acumular fortunas nas mãos de atravessadores financeiros. Grade parte da usura e do super lucro, vai para os paraísos fiscais, em prejuízo dos investimentos nos setores produtivos.
            No início do século XVI, muitos cidadãos perdiam seus bens em pagamento de dívidas geradas por enormes taxas de juros. Daí, muita morte e muito conflito na Europa, empobrecimento e acumulação injusta de riqueza. Foi essa situação que levou Martinho Lutero a reagir contra a usura e contra a vida faustosa de poucos.
            No mundo de hoje, tudo parece se repetir, mas comerciantes e banqueiros aparecem como heróis. As instituições públicas aparecem como vilãs ineficientes e até perversas.

Belo Horizonte, dezembro de 2015

Antônio de Paiva Moura

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