É espantosa a ação do setor
financeiro no cenário econômico mundial e no Brasil. A intermediação financeira
drena os recursos que deveriam servir ao fomento produtivo e ao desenvolvimento
econômico. Diz o economista da PUC-SP, Ladislau Dowbor, que as altas taxas de
juros cobradas pelo comércio, acabam sendo negócios mais bancários que
comercial. Juros acima de 72% significam que esse tipo de comércio, em vez de
prestar serviços comerciais, transformou em negócios financeiros. Os preços dos
produtos são excessivamente elevados, mas os consumidores não sabem calcular o
custo final dos produtos. O consumidor não tem conhecimento de que os bancos
são intermediários nas vendas a prazo e que cobram cerca de 230% sobre estas.
Se o valor comercial de um produto for de R$ 1.000,00, o comprador a prazo vai
ficar devendo R$ 3.300,00. O caráter enganoso das transações é que caracteriza
verdadeira extorsão ou espoliação dos clientes.
Nada escapa a essa brutal taxação:
empréstimos, cheques especiais, cartões de crédito. Mesmo sem entrar no crédito
do cartão, isto é, compra a vista com cartão, uma loja tem de pagar cerca de 5%
do valor das compras ao banco, além do aluguel da máquina. As pessoas, ao
fazerem uma compra a crédito, gastam mais com juros do que com o próprio valor
do produto adquirido. Os consumidores se endividam muito comprando pouco.
Esse sistema, mesmo diminuindo o
poder de compra do cidadão, acaba projetando a inflação para o alto. Os
tributos são bem menores que o lucro comercial e os juros. Mas, para disfarçar
essa essas extorsões legais, alegam que a carga tributária é alta. Os tributos
são transparentes e visíveis nas compras, mas o lucro e os juros são ocultos.
Os benefícios dos tributos são visíveis, mas o lucro e os juros contribuem para
acumular fortunas nas mãos de atravessadores financeiros. Grade parte da usura
e do super lucro, vai para os paraísos fiscais, em prejuízo dos investimentos
nos setores produtivos.
No início do século XVI, muitos
cidadãos perdiam seus bens em pagamento de dívidas geradas por enormes taxas de
juros. Daí, muita morte e muito conflito na Europa, empobrecimento e acumulação
injusta de riqueza. Foi essa situação que levou Martinho Lutero a reagir contra
a usura e contra a vida faustosa de poucos.
No mundo de hoje, tudo parece se
repetir, mas comerciantes e banqueiros aparecem como heróis. As instituições
públicas aparecem como vilãs ineficientes e até perversas.
Belo
Horizonte, dezembro de 2015
Antônio
de Paiva Moura
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