Não deixe de assistir: UM MOMENTO PODE MUDAR TUDO (You're not you)
Quando comecei a assistir a este filme, me veio imediatamente à cabeça o filmaço "Intocáveis".
A premissa é parecida: uma pessoa doente, que precisa de cuidados muito
especiais, e contrata uma jovem sem qualquer experiência, mas cheia de
alegria de viver, para a função de cuidadora. Ambos/ambas vão se
conhecendo, criando afinidade e aprendendo muito um com o/a outro/a.
Mas
para por aí. Enquanto "Intocáveis" é cheio de leveza e bom humor, este
"You're not you" é um filme triste do início ao fim, desses feitos pra
gente chorar. O paralelo teria que ser feito com outros filmes sobre
doenças irreversíveis e sem cura, como "Para Sempre Alice" (alzheimer) e "Uma Prova de Amor" (leucemia). Agora, a Kate, interpretada pela fantástica Hilary Swank -- indicada duas vezes (e vencedora nas duas) ao Oscar --, sofre com esclerose lateral amiotrófica (ELA).
Por que muitos de nós nos atraímos tanto por filmes sobre doenças? Posso acrescentar à lista "A Teoria de Tudo" (ELA), "Amor" (AVC), "O Lado Bom da Vida" (transtorno bipolar), "Como se fosse a primeira vez" (amnésia anterógrada), "O Escafandro e a Borboleta" (AVC), entre vários outros. Esses filmes atraem um público muito grande -- basta ver como "A Culpa é das Estrelas" (câncer) se tornou um sucesso de bilheteria.
Acho
que a resposta é simples: doenças fazem parte da vida e não raro
acontecem com pessoas que amamos muito e de quem somos muito próximos,
como nossos avós (alzheimer e infarto). Gostamos de ver histórias sobre
dificuldades e desafios e sobre como as outras pessoas os superam. Mesmo
que os filmes terminem com um final não muito feliz -- com os
protagonistas mortos --, é claro para nós que os outros personagens
crescem com a experiência, se tornam pessoas melhores, mais sábias, que
as doenças são aprendizados. E essa sensação é reconfortante.
Por
isso, se o roteiro é bem feito, se essa jornada "espiritual" é bem
explorada no filme e se os atores são competentes, nós também saímos da
sessão com uma sensação de aprendizado. E com o bônus reconfortante de
não sermos nós, naquele momento, a estar passando por aquela situação
tão triste e difícil.
O
grande mérito de "Um momento pode mudar tudo" (que tradução ridícula
para o nome original!) não chega a ser o roteiro, como aconteceu com
"Intocáveis". Sobram alguns vazios, o filme é muito penoso, há poucos
respiros de leveza, e acho que os diálogos poderiam ter sido melhores.
Mas as duas atrizes que constroem os papéis principais estão
extraordinárias. A jovem Emmy Rossum cumpre bem seu papel e Hilary Swank
é candidata a levar mais um Oscar por sua performance de uma pessoa com
ELA, que não apenas tem os movimentos cada vez mais debilitados, mas
também a respiração e a articulação da fala.
Enfim,
como nos outros filmes, saímos do cinema com aquele pensamento
incômodo: "E se fosse comigo? E se fosse com alguém muito próximo?" É
aquela pequena sacudida que a ficção se permite dar na vida real: "Olha,
pode acontecer mesmo, viu? Todos estão sujeitos a ficar doentes, é
parte da vida. Então, aproveite enquanto isso ainda não te atingiu."
E vamos seguindo adiante, até o próximo filme nos chacoalhar mais um pouquinho.
(fonte: blog da KikaCastro)
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