por Flávio Aguiar, de Berlim
A crise financeira que se espraiou a partir da China e de sua economia que revelou suas fraquezas.
O assassinato ao vivo de dois jornalistas nos EUA, reacendendo debate sobre posse de armas naquele pais.
A
recuperação, ainda que parcial, dos preços do petróleo no mercado
internacional e a decorrente valorização das ações da Petrobras (que
está longe de ser a massa alquebrada que nossa velha mídia quer que ela
seja).
Correu mundo e manchetes a denúncia feita pelo doleiro
Alberto Yousseff na CPI, em Brasilia, sobre ter o senador Aecio Neves
recebido propina de Furnas. A noticia só foi escondida pela velha mídia
brasileira. Além da denúncia em si, que deve ser averiguada e provada, o
ocorrido expôs a parcialidade da nossa velha mídia e a fragilidade dos
vazamentos da Operação Lava Jato.
Mas as manchetes principais
foram para a terrível tragédia dos migrantes na Europa. Mais de 70
corpos em decomposição foram encontrados dentro de um caminhão
abandonado numa auto-estrada austríaca. Inicialmente a policia estimou
os corpos em 20, depois em 50 e finalmente em “mais de 70”. A imprecisão
das cifras deveu-se ao adiantado estado de decomposição dos corpos. O
caminhão pertencera a uma empresa transportadora de galináceos da
Eslováquia, que afirmou tê-lo vendido em 2014. Estava em nome de um
cidadão romeno e tinha placa da Hungria. Na manhã da sexta-feira a
policia húngara afirmou ter detido o motorista suspeito, além de alguns
possíveis cúmplices.
Na quarta-feira foram encontrados 50 corpos no porão de um navio no Mediterrâneo, que tinha 450 pessoas a bordo.
na quinta-feira mais um naufrágio neste mar, desta vez ainda perto da
costa da Líbia, provocou a morte de pelo menos 200 pessoas. Outras 200
conseguiram se salvar, socorridas por navios ou conseguindo chegar à
terra firme.
Uma vaga de milhares de migrantes, vindos sobretudo
da Síria e do Iraque, conseguiu “furar” o bloqueio do Exército da
Macedônia junto à fronteira grega. A Macedônia acabou pondo trens á sua
disposição, para que eles atravessassem em direção à Sérvia. Deste país
eles pretendem passar à Hungria e dali para a Europa Ocidental. A
Hungria está construindo um muro na fronteira com a Sérvia, mas até o
momento os migrantes têm conseguido atravessar.
Houve uma
mudança de rota no caso de muitas destas correntes migratórias. A Líbia
continua sendo a rota preferida pelos que vêm da Nigéria, da Eritreia e
da Somália e tentam ingressar na Europa pela costa italiana. Mas no
momento a maior massa de migrantes vêm da Síria e do Iraque, preferindo
estes o caminho da Turquia ou da Grécia.
O fluxo de imigrantes
provém de países desorganizados por guerras civis, em alguns casos com
ajuda decisiva de potências ocidentais, como no caso da própria Líbia,
do Iraque e da Síria. A emergência do Exército Islâmico na Síria e no
Iraque só piorou a situação.
A chanceler Angela Merkel e o
presidente François Hollande se reuniram durante a semana para concertar
uma ação conjunta diante da questão. O maior problema está no
convencimento de outros dirigentes em aceitar quotas de imigrantes
refugiados.
Há forte resistência por parte de muitos europeus em
assumir a responsabilidade diante do fenômeno. Nesta semana ouvi a
entrevista de uma deputada polonesa, do campo conservador, junto ao
Parlamento Europeu, dizendo que a Polônia não receberá estes imigrantes,
porque são indesejáveis, na maioria só querem se beneficiar das
vantagens europeias, muitos são terroristas, etc. Acrescentou ela que,
caso recebesse imigrantes, o país só aceitaria “aqueles que fossem
cristãos”. A deputada teve sorte de não ser eu o entrevistador, porque
eu perguntaria a seguir, na lata, se esta afirmação implicava também a
exclusão de judeus.
Na Alemanha prossegue o novo “esporte”
neo-nazista: queimar abrigos presentes e futuros destinados aos
refugiados. O incidente mais grave aconteceu na cidade de Heidenau,
perto de Dresden, no estado da Saxônia, onde houve um confronto entre
policiais e manifestantes que tentavam incediar um destes abrigos. Os
manifestantes mais exaltados gritavam “Heil Hitler” e outros slogans
nazistas. Também cantavam “Wir sind das Volk”, “Nós somos o povo”,
slogan das manifestações que antecederam a queda do muro de Berlim em
1989, e que agora está sendo apropriado pela extrema-direita. O
vice-chanceler Sigmar Gabriel, do SPD, e a chanceler Angela Merkel
estiveram em Heidenau, condenando as manifestações. Depois disto a sede
do SPD em Berlim recebeu uma ameaça telefônica dizendo que havia uma
bomba no prédio, que foi evacuado. Além da ameaça a pessoa que telefonou
também proferiu slogans racistas. Nenhuma bomba, no entanto, foi
encontrada.
No fim de semana estava prevista uma festa para
receber os refugiados em Heidenau. Diante da ameaça, por parte de
elementos da extrema-direita, de atacar a festa, o governo do estado e a
prefeitura proibiram qualquer manifestação ou festa até a
segunda-feira. Os partidos de oposição no plano federal (Verdes e Linke)
protestaram, alegando o direito constitucional à livre manifestação. O
deputado verde Cem Özdemir declarou no rádio que iria a Heidenau no fim
de semana e conclamou todos os que quisessem a segui-lo.
Do
outro lado do Atlântico, o pré-candidato republicano Donald Trump
afirmou que, se eleito, deportará dos EUA todos os imigrantes ilegais.
Um jornalista perguntou como ele faria isto, uma vez que o número de
“ilegais” chega a 11 milhões. Ele respondeu que tem muitas qualidades
como “manager”, e que o processo de deportação seria “tranquilo” e
“humanitário”. O último grande processo de deportação massiva nos EUA
ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial, quando 110 mil japoneses e
descendentes foram confinados em campos de concentração dentro do pais,
num processo que provocou traumas ainda vivos.
(fonte: http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Os-migrantes-e-a-tragedia-do-seculo/6/34355)
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