É óbvio que a computação eletrônica trouxe grandes
benefícios para a vida humana e para a natureza de um modo geral. Mas
ela é bem de capital, que gera riqueza a quem a possuiu e alto custo a
quem dela necessita.
Por Antônio de Paiva Moura,
No
alvorecer do corrente século surgiram muitos estudos sobre o aumento
progressivo da desigualdade e da acumulação de renda no mundo. As
grandes empresas comerciais, industriais, financeiras e prestadoras de
serviços só permanecem atuantes se houver perspectiva de altos lucros.
Qualquer sinal de queda no nível da lucratividade, elas paralisam ou
diminuem o nível de produção. Muitas vezes, o capital desviado do setor
de produção vai para a área financeira legal ou clandestina.
Segundo
Chiavenato, a performance econômica das empresas é analisada pelos
investimentos e retornos que são registrados, processados e medidos em
termos de dinheiro; a busca de obtenção de lucros, índice de
rentabilidade. Para obtenção de resultados a empresa seleciona ao máximo
o quadro de servidores, deixando somente aqueles que se revelam como
talentos, e substituem ao máximo o trabalho humano por instrumentos
automáticos.
A automação microeletrônica provocou
transformações rápidas no sistema econômico mundial, com reflexo
imediato nas performances das empresas e na degradação social. Além do
desemprego, a automação provoca a desclassificação de trabalhadores.
Apenas
um exemplo para ilustrar essa questão: a empresa de transporte Gontijo,
fundada em 1943, já na década de 1990 era dona de linhas que percorriam
todos os estados do Brasil. Na agência de Belo Horizonte a empresa
empregava seis bilheteiros. Com o uso do computador para emitir
passagens, apenas um bilheteiro faz todo o serviço. O serviço mecânico
para a frota é terceirizado.
Não é coincidência o fato
de a empresa ter chegado ao domínio de mais de 100 linhas interestaduais
e transporte de sete milhões de passageiros por ano, contudo,
diminuindo o número de empregados nos serviços de apoio.
É
necessário chamar a atenção para o fato de que esse é um exemplo entre
milhares de situações. Nas duas últimas décadas, as empresas mineradoras
encontraram forma tecnológica de multiplicar a extração de minérios e
transportá-los com o mínimo de ocupação humana. É óbvio que a computação
eletrônica trouxe grandes benefícios para a vida humana e para a
natureza de um modo geral. Mas ela é bem de capital, que gera riqueza a
quem a possuiu e alto custo a quem dela necessita.
Em
janeiro de 2016 Winnie Byanyma, diretor geral da Oxfam Internacional,
compareceu ao Fórum Econômico Mundial de Davos para demonstrar os
efeitos da 4ª Revolução Industrial desencadeada pelo avanço tecnológico.
O pleno emprego de força humana é o melhor meio de dinamizar a
circulação monetária e, em consequência, a circulação das mercadorias.
Em
2012 o prêmio Nobel de Economia, o norte-americano Joseph Stiglitz
publicou o livro intitulado “O preço da desigualdade”, tendo tido para
tal obra a colaboração do economista italiano Mauro Gallegati. Nessa
obra, ele afirma que a classe de 1% mais rica do mundo não é muito
afeita ao consumo. Mesmo que o fosse não contribuiria com o
desenvolvimento industrial e com o PIB. Somente uma classe média
bem-sucedida e favorecida pela distribuição de renda tende a consumir
todos ou quase todos os seus recursos, sustentando o PIB do próprio país
e a economia de modo geral.
O enunciado científico de
Stiglitz e Gallegati é o seguinte: "quando o 1% mais rico da população
concentra 25% da renda a bomba atômica econômica explode, isto é, o
capitalismo entra em crise".
Eles demonstram que isso
aconteceu em 1929, 1998 e de 2003 a 2008. A descoberta de Stiglitz e
Gallegati demonstra que a desigualdade corrói o PIB até matá-lo, não só
por causa da queda do consumo, mas também porque o sistema de
concentração é ineficiente. Segundo Bernabucci, este foi o maior ataque
teórico e científico ao neoliberalismo.
Com base no
enunciado de Stiglitz a perspectiva é de agravamento da crise do sistema
econômico mundial com prejuízo para as classes trabalhadoras, com
tendência a aumentar e se agravar. Conforme dados divulgados pela Oxfam,
a riqueza de 1% da população mundial supera a do restante 99% no
balanço de 2015. Diz uma nota da Agência Brasil que o fosso entre a
parcela mais rica e o resto da população aumentou de forma dramática
durante o ano de 2015. Apenas 62 pessoas no mundo possuem mais bens que a
metade de toda a população do mundo.
O estopim da bomba
atômica social já está aceso. Ele é visível no aumento da violência
interpessoal, nos conflitos de grupos, nos atos terroristas, guerras e
multidões de refugiados perambulando pelo mundo. Basta ver sob as
marquises e viadutos das cidades o aumento da população de sem tetos. Só
na cidade de New York são mais de 80 mil moradores de rua. A
superpopulação carcerária também é um forte componente da bomba atômica
social.
(fonte: enviado pelo autor, publicado originalmente no Brasil de Fato - http://www.brasildefato.com.br/node/34169)
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