quinta-feira, 7 de abril de 2016

Brasil perde por ano US$ 23 bi com fluxo ilegal de dinheiro, e a Fiesp não vê

Texto escrito por José de Souza Castro:
A primeira coisa a se notar: o relatório da Global Financial Integrity (GFI) datado de dezembro de 2015 só chegou nesta semana ao conhecimento da imprensa brasileira – mais especificamente, do jornal “Valor”. Título do relatório dessa consultoria internacional sediada em Washington, capital dos Estados Unidos: "Illicit Financial Flows from Developing Countries: 2004-2013".
Ao contrário do que acreditam nossos editores, interessa sim, aos brasileiros, saber como sai anualmente do país, ilegalmente, um valor em dólares muito superior a tudo o que os investigadores da Lava Jato afirmam terem sido desviados da Petrobras e de outras estatais federais desde 2003, quando o PT chegou ao poder.
Interessa também saber que não é um problema restrito ao Brasil. E que, na verdade, o Brasil não é a maior vítima, entre os países em desenvolvimento, desse fluxo financeiro ilegal que, só em 2013, último ano estudado, somou 1 trilhão de dólares. Desde 2004, o acumulado do dinheiro perdido pelas economias emergentes chegou a 7 trilhões e 800 bilhões de dólares.
Pior: o crime compensa, pois o fluxo ilegal de dinheiro tem crescido a uma taxa média de 6,5% ao ano, quase duas vezes mais do que o valor total (GDP) de todos os bens e serviços produzidos na economia de um país.
O relatório pode ser lido AQUI, em inglês.
O Brasil perdeu anualmente, em média, 22 bilhões 667 milhões de dólares com esse fluxo ilícito de recursos. Grande parte sai por meio de superfaturamento nas importações e subfaturamento nas exportações de nossos produtos, incluindo os serviços.
A sangria brasileira, em 10 anos, foi de 226 bilhões e 667 milhões de dólares.
Se servir de consolo, a China perdeu anualmente, em média, US$ 139,2 bilhões; a Rússia, US$ 104,9 bilhões; o México, US$ 52,8 bilhões; a Malásia, US$ 41,8 bilhões. O Brasil é o sexto maior perdedor.
Como estamos entre as oito maiores economias do mundo, não se pode acusar os governos petistas de serem mais lenientes do que outros nessa roubalheira internacional de nossas riquezas. Não se sabe o que acontecia nos governos anteriores a Lula, pois este é apenas o sexto relatório anual do GFI. O primeiro é de 2008, referente ao período 2002-2006.
De qualquer maneira, o valor que deixa de ser contabilizado e tributado, em razão desse fluxo ilegal de dinheiro, não é de modo algum insignificante: ele representa 12% do Produto Interno Bruto anual. Só nos três primeiros anos do governo Dilma, quando foram desonerados produtos industriais, como automóveis, com aplausos da Fiesp, o fluxo ilegal de recursos somou quase 92 bilhões de dólares (US$ 31 bilhões em 2011, US$ 32,7 bilhões em 2012 e US$ 28,1 bilhões em 2013).
Se todo o tributo devido fosse pago, não fosse o desvio e as desonerações, o Brasil não estaria na crise econômica tão propalada pela Fiesp e quem paga impostos rigorosamente não estaria se sentindo como quem paga o pato.
Bem, como falei em Fiesp, que se cala diante dessa sonegação monumental enquanto brada aos céus contra o governo Dilma, vale lembrar, para concluir este artigo, o que diz hoje manifesto dos integrantes das Comissões da Verdade que levantaram os crimes praticados pelas ditaduras pós 1964:
“A Fiesp, que apoiou o golpe de 64 e teve alguns de seus membros participando de torturas, 52 anos depois apoia um novo golpe, desta vez sem canhões e baionetas.
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), que se posiciona abertamente a favor da saída de Dilma Rousseff da presidência, não só financiou o golpe e a montagem do aparato repressivo da ditadura, como também teve algumas de suas lideranças participando de sessões de tortura. É simbólico, portanto, que sua sede na Avenida Paulista, iluminada com os dizeres “Renuncia Já”, tenha se tornado um dos principais pontos de encontro de manifestantes a favor da derrubada do governo.
Tanto no presente quanto no passado, as movimentações da Federação no cenário político vislumbram interesses do setor empresarial, como a flexibilização das leis trabalhistas que ameaçam conquistas históricas dos trabalhadores.”
Quando escrevi um livro contando as mudanças introduzidas na década de 1990 na Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) por um imigrante esloveno, Stefan Salej, imaginava que nunca mais veria uma federação das indústrias combatendo um governo democraticamente eleito.
Hoje não escreveria isso aí:
“Algo deve ter ficado das muitas pregações de Salej. Seu amigo Paulo Skaf elegeu-se presidente da Fiesp em agosto de 2004; era a primeira vez, desde 1980, que a oposição vencia na disputa para comandar a mais poderosa Federação das Indústrias do país. Em entrevista, na época, Salej disse que a vitória de Skaf 'deve estimular mudanças nas entidades e fazer surgir uma oposição'."
 (fonte: blog da Kika Castro)

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