quinta-feira, 23 de junho de 2016

China, potênca científica?


Principal revista científica ocidental admite: supremacia dos EUA cairá em breve, também neste domínio. Consequências geopolíticas podem ser vastas
Por Antonio Martins

Para boa parte da opinião pública no mundo ocidental — inclusive a que se julga “de esquerda” –, a China é, ainda, um tigre de papel. Ela produz quase todos os eletrônicos e eletrodomésticos que usamos, mas, segundo a crença, apoia-se para tanto em mão de obra barata. Ela tornou-se, desde 2014, o país de maior PIB do planeta (quanto se considera o poder de compra real das moedas); porém, seria apenas graças a sua gigantesca população. Um estudo recente da revista Nature — possivelmente, a publicação científica mais respeitada do mundo — poder corroer mais um pilar deste pensamento preconceituoso.

A China, diz a Nature, está à beira de converter-se no principal centro de investigações científicas do mundo. A avaliação emerge da edição mais recente (2016) do Indice Nature, um sistema sofisticado e complexo de aferições, criado e mantido pela revista. Baseia-se na publicação de artigos originais naquelas que são consideradas as 68 revistas científicas mais importantes do mundo. Leva em conta, portanto, cerca de 60 mil artigos por ano.



A pesquisa atribui, a cada cientista, um índice fracional. O número expressa a proporção em que contribuiu para este acervo de artigos. A posição de cada país no ranking é obtida somando-se os índices fracionais de cada um de seus cientistas. Na edição de 2016, os EUA seguem líderes. A China vem em segundo. Mas Nature destaca: “Enquanto sua contribuição cresceu 37%, entre 2012 e 2014, a dos EUA caiu 4%. Os dois países são seguidos, na ordem, por Alemanha, Reino Unido, França, Canadá, Suíça, Coreia do Sul, Itália, Espanha, Austrália, Índia, Holanda, Israel, Suécia, Singapura, Taiwan, Rússia e Bélgica. Salta aos olhos a ausência da América Latina.

Num texto em que comenta o feito chinês, John V. Walsh, professor de Microbiologia da Escola de Medicina de Massachussets, analisa os desdobramentos geopolíticos da novidade. “Num contexto histórico mais amplo”, diz ele, “o Ocidente esteve envolvido, nos últimos 500 anos, no esforço de invadir e colonizar o resto do planeta”. A superioridade tecnológica foi sempre, em tal período, “uma das chaves para o sucesso de tal dominação — das forjas de espadas e escudos em Toledo aos porta-aviões norte-americanos gigantes que rondam o Mar do Sul da China até hoje. Mas o avanço científico e tecnológico da China significa que esta realidade pode mudar”.

Supercomputadores: Uma nota publicada ontem, no New York Times, revela que a China voltou a dominar o índice Top500, que relaciona os quinhentos computadores mais potentes do planeta. A posição de liderança não é nova, mas agora há duas novidades. Primeira: além de terem o computador mais poderoso pelo sétimo ano consecutivo, os chineses têm, agora, o maior número de máquinas na lista (167, contra 165 dos EUA).

Segundo, e ainda mais decisivo. Pela primeira vez, o computador mais rápido do mundo não usa microprocessadores norte-americanos. A China, que importava estes componentes da Intel, passou a desenvolvê-los ela própria (chamam-se Shen Wei). Os EUA são, em parte, responsáveis pela mudança. No ano passado, eles proibiram a venda de microprocessadores superpotentes a Pequim, temerosos de que fossem usados no desenvolvimento de armas nucleares e de tecnologias muito avançadas. A resposta veio rápido.

No texto do New York Times, o jornalista John Markoff adverte: “os supercomputadores são vitais para pesquisas em áreas estratégicas, da criação de novas armas e remédios ao design de produtos de consumo. Especialistas em computação e executivos norte-americanos advertiram por anos de que a liderança neste terreno é vital para muitos temas de interesse nacional”

(fonte: http://outraspalavras.net/blog/2016/06/21/china-potencia-cientifica/)

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