terça-feira, 21 de junho de 2016

Governo Temer não conhece os limites do poder

Texto escrito por José de Souza Castro:

Desde 1991, os Estados Unidos embarcaram numa década de intervencionismo sem precedente. Sua responsabilidade principal era presidir sobre um grande projeto de convergência político-econômica e integração comumente referida como globalização. De fato, porém, globalização serviu como eufemismo para império – suave ou informal – e para a tentativa de instituir uma Pax Americana mundial.

A abordagem preferida foi depender, sempre que possível, da persuasão. Porém, se pressionado, Washington não hesitou no uso da força, como suas numerosas aventuras militares demonstraram durante a década de 1990.

Dito isso, antes que me chamem de petista, comunista ou algo parecido, esclareço: essas palavras não saíram da minha cachola. Elas foram escritas, em inglês, por Andrew J. Bacevich, professor emérito de História e Relações Estrangeiras da Boston University, e publicadas no livro “The Limits of Power – The End of American Exceptionalism”, lançado em 2008 e que não demorou a entrar na lista de best sellers do jornal “The New York Times”.



O autor não é um porra louca esquerdista norte-americano. Com 69 anos hoje, é membro do Council on Foreign Relations. Iniciou a carreira como oficial do Armor Branch, setor do Exército criado em 1940 para controlar as unidades de tanques durante a II Guerra Mundial. Retirou-se do Exército com a patente de coronel.

Feita a apresentação, posso continuar com o que ele escreveu naquele seu livro (ele publicou mais quatro), que estou lendo agora.

Os Estados Unidos, dizia Bacevich, antes mesmo da crise financeira mundial iniciada em 2008 e que veio a ser classificada como a maior desde 1929: “Oscilamos à beira da insolvência, tentando desesperadamente fechar as contas confiando em nossas presumivelmente invencíveis forças armadas. No entanto, aí também, tendo exagerado o nosso poder militar, cortejamos a bancarrota.”

Para sustentar o que parecem querer os norte-americanos desde os primórdios de sua história – liberdade e felicidade em casa – eles precisam olhar para fora de suas fronteiras. A visão atual mudou muito. “Antigamente, americanos viam o império como a antítese da liberdade. Hoje, como ilustrado sobretudo pelos esforços do governo Bush de dominar o Golfo Pérsico, rico em petróleo, o império parece ter-se tornado um pré-requisito da liberdade”, lamenta Bacevich, que vê uma “gradual erosão do nosso poder nacional”.

Segundo ele, o Iraque revelou “a futilidade de contar com o poder militar para sustentar nossos hábitos de desperdício”. E prossegue: “Os americanos precisam reassumir o controle sobre seu próprio destino, acabando com sua condição de dependência e abandonando suas ilusões imperialistas”.

Tudo isso, em tradução livre. Não sei se o livro dele foi publicado em português, não encontrei.

Para o autor, é importante insistir que a liberação de outros países jamais foi o objetivo principal de qualquer ação dos Estados Unidos. Bacevich sustenta que se o seu país teve uma missão, não foi para libertar, mas para expandir-se. Tanto na aquisição de território, quanto na ampliação de seu comércio no Exterior. “A expansão”, diz o autor, “foi obtida por quaisquer meios necessários”. Dependendo das circunstâncias, os EUA recorreram à diplomacia, à dura negociação, à ameaça, à chicana, à intimidação ou à crua coerção. “Invadimos terra pertencente a nossos vizinhos e então, descaradamente, proclamamos que era nossa”.
Também se engajaram na limpeza étnica e não se contiveram pelo fato de que “as políticas internacionais permitem pouco espaço ao altruísmo”. E prossegue Bacevich: “A característica definidora da política externa dos Estados Unidos, frequentemente, se junta ao primo primeiro do pragmatismo, o oportunismo.”
Encerro as citações a Bacevich, sem qualquer esperança de que os atuais governantes brasileiros tomem conhecimento de “The Limits of Power”, pois eles parecem convencidos de que uma aliança sem reservas com os EUA será a salvação do Brasil. Retroagimos aos tempos da ditadura militar, quando o marechal Castelo Branco nomeou outro militar, Juracy Magalhães, como embaixador nos Estados Unidos. Foi nesse cargo que o esperto baiano definiu: “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”.

Só o tempo dirá o que vai acontecer com o pré-sal… para quem ele será bom.

Eu não estou receando, apesar da advertência do coronel Bacevich, de que os Estados Unidos venham a invadir o Brasil para se apossar do rico território deste país grande e bobo. Para que faria isso? Se eles têm condições de nos dominar pela convicção, com a ajuda valiosa de nossa imprensa. A qual, não é de hoje, vem-nos fazendo a cabeça.

Afinal, para que invadir, se podem comprar na bacia das almas, em momentos de crise que só tende a se agravar, grandes porções de nosso território? Hoje qualquer estrangeiro pode comprar até 10% da área de qualquer município brasileiro e o novo ministro da Agricultura, Blairo Maggi, quer acabar até com essa limitação.

Deu-me vontade de comentar essa notícia, mas limito-me a indicar a análise feita pelo jornalista Fernando Brito em seu blog Tijolaço.

Aproveitando, recomendo também ouvir os dois vídeos disponíveis no Youtube gravados no seminário “Mídia e Crise Brasileira: a cobertura jornalística, a comunicação pública e o olhar da imprensa brasileira”. O primeiro é de Franklin Martins, o ex-ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República no segundo governo Lula (2007-2010). O outro é do jornalista alemão Jens Glüsing, que há 15 anos observa o Brasil como correspondente para a América Latina da revista alemã Der Spiegel.

Os dois conhecem bem os métodos usados pela grande imprensa empresarial brasileira para defender interesses que ela prefere não nomear, pois estão longe de ser os interesses da grande maioria dos brasileiros.

(fonte: https://kikacastro.com.br/2016/06/21/governo-temer-limites-poder/#more-12710)

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