Corruptos e corruptores
Muito oportuno o editorial do Le Monde Diplomatique Brasil, edição 92,
março de 2015, assinado por Sílvio Caccia Bava. Ao contrário do que divulga a
grande imprensa brasileira, a corrupção não reside somente na esfera do poder
executivo. No Legislativo há abuso e transgressão visíveis no manejo dos
recursos públicos. As eleições de 2014 custaram 5 bilhões de reais e 95% desses
recursos vieram de um pequeno grupo de grandes empresas. Em consequência, no
Congresso existem bancadas de agronegócios e de empreiteiras.
Para Bava, no judiciário fica mais
difícil de identificar os caminhos da corrupção, mas são muitos os casos em que
juízes pedem vistas de processo e só os devolvem depois que as penas prescrevem
como foram os casos do Banestado; do mensalão tucano e do cartel do Metro em
São Paulo. Quase sempre, os altos funcionários dos três poderes são
corrompidos, subornados ou, em linguagem judicial, corruptos passivos. Não se
pode deixar de lembrar o caso do juiz Nicolau dos Santos Neto, o Lalau, que
desviou milhões do Ministério do Trabalho. Outro episódio significativo foi a
proteção que a justiça deu ao empresário Daniel Dantas, na operação Satiagraha.
Por meio de muitos expedientes, os
grandes grupos controlam o sistema político e dele se apropriam para submetê-lo
a seus interesses privados. As dívidas de impostos das multinacionais que
operam no Brasil, em 2012, somam R$ 680 bilhões. Para penalizar tais empresas o
governo brasileiro precisa contar com o poder judiciário.
Diz Caccia Bava que em meio ao
escândalo do HSBC, o segundo maior banco do mundo, identificaram-se 8.667
brasileiros que sonegaram ou lavaram dinheiro fora do país, por meio dessa
instituição. Esses depositantes são parte da elite econômica de nosso país. O
que vai acontecer com eles? Não é coincidência o fato de que as manifestações
de rua e a campanha publicitária contra o governo brasileiro, tenha ocorrido no
momento em que se constata o caso HSBC.
No Brasil é novidade o fato de a operação Lava Jato da PF atribuir às
empresas a responsabilidade pelos processos de corrupção. Maior novidade, ainda,
é o fato de executivos e donos de grandes construtoras estarem na cadeia.
O certo é que a elite abastada do
Brasil tem horror à idéia de repatriar os dinheiros “lavados” do HSBC e do
projeto de tributar as grandes fortunas.
Belo Horizonte, 16 de março de 2015.
Antônio de Paiva Moura.
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