Por Rodrigo Borges
Uma vez perguntei a um amigo, sempre pessimista com o futuro do
Brasil e incrédulo com a classe política, quem para ele havia sido o
pior presidente da história do Brasil. “O próximo”, respondeu. Era a
sentença de alguém que acreditava que o futuro seria sempre pior que o
presente.
A CBF é o modelo deste mundo descrito pelo amigo pessimista. Qualquer
um que tenha chamado aquele 7 a 1 de fundo do poço cometeu um equívoco
grave. Passaram-se exatos 10 meses da goleada para a Alemanha e nada
mudou para melhor.
O alívio e alegria pela renúncia de Ricardo Teixeira da presidência
da confederação, em março de 2012, deram lugar rapidamente à desilusão e
falta de esperança. A saída do homem que virou dono do futebol
brasileiro permitiu a ressurreição da figura de José Maria Marin. E a
ascensão de Marin levou à eleição de seu amigo Marco Polo Del Nero.
Foi este Marco Polo Del Nero, presidente da CBF, quem escolheu João
Doria Jr. para chefiar a delegação brasileira na Copa América. Um cargo
que de tão figurativo nem permite que seu dono seja chamado de “rainha
da Inglaterra”. Mas não é o poder (ou a falta dele) que Doria Jr. terá
que se discute e se ironiza. É o que ela simboliza.
Empresário influente e jornalista, João Doria Jr., 57 anos, não tem
significado para o futebol – ele diz ser santista e afirma que estava no
Vasco x Santos em que Pelé marcou seu milésimo gol. Sua imagem é mais
conhecida por apresentar um programa em que entrevista empresários e
artistas – normalmente com visões ideológicas semelhantes às dele.
Previsivelmente, seus entrevistados não são “apertados”, a atração é uma
confraternização. Também apresentou uma temporada do reality show O
Aprendiz. Em 2006, Doria, gestor de uma praça no bairro Jardim Europa,
em São Paulo, substituiu uma estátua do histórico jornalista Cláudio Abramo por uma obra feita por sua mulher.
A escolha, de tão bizarra, foi criticada abertamente por Galvão Bueno em
seu Bem, Amigos, um programa de conhecida camaradagem. “Juro que não
consigo entender. Fiquei tonto com a história, acho um convite sem pé
nem cabeça”, disse o narrador.
Del Nero justificou a escolha como uma medida na direção de maior
transparência da CBF. Afinal, Doria Jr. é um jornalista. “Trouxemos um
jornalista que gosta de futebol. Eu poderia ter escolhido você, qual é o
problema? Ele gosta de futebol”, disse o presidente ao jornalista que
questionou a escolha na entrevista depois do anúncio dos convocados para
a Copa América.
Mas a escolha tem uma razão não declarada. Doria Jr. lidera o Lide, maior organização empresarial do país. A CBF, que em 2014 teve receita de R$ 519,1 milhões
(19% de aumento em relação a 2013), atrai junto com seu chefe de
delegação outros tantos empresários com bolsos cheios e que,
possivelmente, contarão com a boa vontade e indicações de seu líder para
fechar negócios com a confederação. Ao mesmo tempo, clubes, grandes,
médios e pequenos, atrasam salários e passam por dificuldades, seguem
endividados e sobrevivem com empréstimos e adiantamento de cotas de TV.
A CBF age como um vampiro que engorda e tem vasto estoque de sangue
em seus cofres. E gerencia um futebol anêmico que sofre para manter as
pernas retas dentro de campo. Ainda chegará o dia em que sentiremos
saudade de Ricardo Teixeira.
(fonte: http://esportefino.cartacapital.com.br/joao-doria-jr-chefe-delegacao-copa-america/)
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