sábado, 9 de maio de 2015

Não é difícil entender por que João Doria Jr. vai ‘chefiar’ a seleção brasileira na Copa América

Por Rodrigo Borges

Uma vez perguntei a um amigo, sempre pessimista com o futuro do Brasil e incrédulo com a classe política, quem para ele havia sido o pior presidente da história do Brasil. “O próximo”, respondeu. Era a sentença de alguém que acreditava que o futuro seria sempre pior que o presente.

A CBF é o modelo deste mundo descrito pelo amigo pessimista. Qualquer um que tenha chamado aquele 7 a 1 de fundo do poço cometeu um equívoco grave. Passaram-se exatos 10 meses da goleada para a Alemanha e nada mudou para melhor.

O alívio e alegria pela renúncia de Ricardo Teixeira da presidência da confederação, em março de 2012, deram lugar rapidamente à desilusão e falta de esperança. A saída do homem que virou dono do futebol brasileiro permitiu a ressurreição da figura de José Maria Marin. E a ascensão de Marin levou à eleição de seu amigo Marco Polo Del Nero.

Foi este Marco Polo Del Nero, presidente da CBF, quem escolheu João Doria Jr. para chefiar a delegação brasileira na Copa América. Um cargo que de tão figurativo nem permite que seu dono seja chamado de “rainha da Inglaterra”. Mas não é o poder (ou a falta dele) que Doria Jr. terá que se discute e se ironiza. É o que ela simboliza.

Empresário influente e jornalista, João Doria Jr., 57 anos, não tem significado para o futebol – ele diz ser santista e afirma que estava no Vasco x Santos em que Pelé marcou seu milésimo gol. Sua imagem é mais conhecida por apresentar um programa em que entrevista empresários e artistas – normalmente com visões ideológicas semelhantes às dele. Previsivelmente, seus entrevistados não são “apertados”, a atração é uma confraternização. Também apresentou uma temporada do reality show O Aprendiz. Em 2006, Doria, gestor de uma praça no bairro Jardim Europa, em São Paulo, substituiu uma estátua do histórico jornalista Cláudio Abramo por uma obra feita por sua mulher.

A escolha, de tão bizarra, foi criticada abertamente por Galvão Bueno em seu Bem, Amigos, um programa de conhecida camaradagem. “Juro que não consigo entender. Fiquei tonto com a história, acho um convite sem pé nem cabeça”, disse o narrador.

Del Nero justificou a escolha como uma medida na direção de maior transparência da CBF. Afinal, Doria Jr. é um jornalista. “Trouxemos um jornalista que gosta de futebol. Eu poderia ter escolhido você, qual é o problema? Ele gosta de futebol”, disse o presidente ao jornalista que questionou a escolha na entrevista depois do anúncio dos convocados para a Copa América.

Mas a escolha tem uma razão não declarada. Doria Jr. lidera o Lide, maior organização empresarial do país. A CBF, que em 2014 teve receita de R$ 519,1 milhões (19% de aumento em relação a 2013), atrai junto com seu chefe de delegação outros tantos empresários com bolsos cheios e que, possivelmente, contarão com a boa vontade e indicações de seu líder para fechar negócios com a confederação. Ao mesmo tempo, clubes, grandes, médios e pequenos, atrasam salários e passam por dificuldades, seguem endividados e sobrevivem com empréstimos e adiantamento de cotas de TV.

A CBF age como um vampiro que engorda e tem vasto estoque de sangue em seus cofres. E gerencia um futebol anêmico que sofre para manter as pernas retas dentro de campo. Ainda chegará o dia em que sentiremos saudade de Ricardo Teixeira.

(fonte: http://esportefino.cartacapital.com.br/joao-doria-jr-chefe-delegacao-copa-america/)

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