O modo como a
Justiça tratou o caso Adriano e o caso Helicoca é um símbolo retumbante
do fiasco de um suposto combate às drogas no Brasil.
O Ministério Público pediu o indiciamento do velho Imperador por
tráfico e associação ao tráfico. O promotor Alexandre Murilo Graça não
requereu a prisão, mas solicitou que seu passaporte fosse recolhido para
evitar fuga, já que se tratava de “pessoa com elevados recursos
financeiros”.
O MP se baseou na compra de uma moto em 2007 para um tal de Mica,
chefão da Vila Cruzeiro. Donde a suposta ligação de Adriano com o crime.
Ainda segundo a promotoria, Adriano “consentiu que outrem utilizasse
de bem de que tinham propriedade e posse – no caso, duas motos Honda
modelo CB600 – , para o tráfico ilícito de drogas”.
A juíza Maria Tereza Donatti acabou rejeitando a denúncia. Antes, a
defesa já havia falado em “excesso acusatório”. A motocicleta teria sido
roubada em 2010, quando o próprio atleta registrara um boletim de
ocorrência. O recolhimento do passaporte seria um “pleito descabido”.
Adriano não é santo — muito pelo contrário — e sua carreira está
liquidada, apesar da prorrogração num time pequeno na França. Sempre
teve amigos na favela e provavelmente alguns deles são bandidos. Nunca
escondeu sua preferência pela balada e protagonizou barracos notórios.
Ao contrário de seu colega Ronaldo, não virou, digamos, um cidadão
respeitável.
Agora: traficante? A prova é uma moto?
Veja só o Helicoca.
No ano passado, a Polícia Federal apreendeu 445 quilos de pasta base
de cocaína no Espírito Santo. Eu disse 445 quilos. Estavam no
helicóptero da família Perrella, de Minas, envolvida em uma variedade de
escândalos. O senador Zezé é aliado e chegado de Aécio Neves. Seu filho
Gustavo não se reelegeu deputado estadual.
O envolvimento dos Perrellas foi descartado por um delegado solerte
em três semanas. Mensagens entre o piloto e Gustavo foram suficientes
para isso. Gustavo, que usava a aeronave com frequencia, não teria ideia
de onde ela estava. Ok.
A PF limitou a apuração às quatro pessoas flagradas com a coca e ao
proprietário do sítio usado para o pouso. Não se sabe a quem o
entorpecente pertencia. Nunca saberemos.
Houve um pouso num hotel paulista onde ficaram 50 quilos. A polícia
ignorou o fato. No dia em que os traficantes iam prestar depoimento, o
juiz mandou soltá-los. Provavelmente, o caso será arquivado sem nenhuma
punição.
Adriano reclamou dos “milhões de matérias falsas” e das polêmicas com
seu nome. A sentença não é definitiva. O MP pode recorrer da decisão e
pedir nova apreciação da Justiça para a denúncia. Somadas as duas
acusações, Adriano pode pegar até 25 anos de prisão.
Zezé e Gustavo Perrella estão onde sempre estiveram. Os homens
apanhados com a cocaína, ninguém sabe, ninguém viu. O helicóptero foi
devolvido aos antigos donos. O pó está, a essa hora, fazendo girar um
mercado milionário. Ou alguém acredita que foi incinerado?
Isso é tráfico. Indiciar um sujeito que já foi famoso por causa de
uma moto que ele dividiria com um meliante pé de chinelo — que será, um
dia, executado e terá seu sobrado com hidromassagem classificado como
“mansão” na TV – é chamar você de palhaço.
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