Texto escrito por José de Souza Castro:
A "Folha de S.Paulo" esclareceu ontem o caso, numa reportagem de Samy Adghirni,
de Caracas. O governo venezuelano não estava cooptando jovens
brasileiros, como suspeitava o Ministério Público Federal em Goiás.
Resumindo:
No dia 17 de novembro, um procurador federal em Goiás, cujo nome completo se encontra na reportagem,
mandou que se investigassem "ações ou omissões ilícitas da União,
relativamente às condutas praticadas pelo governo venezuelano, ao levar,
desde 2011, crianças e adolescentes brasileiros à Venezuela, com o fim
de transmitir conhecimentos relativos à 'revolução bolivariana'".
Tomo emprestado de Luciano Martins Costa, do Observatório da Imprensa, um
parágrafo que mais bem resume o caso:
"O
nobre procurador não se deu conta de que o comunicado do Ministério das
Comunas da Venezuela – equivalente ao nosso Ministério das Cidades –,
publicado em 2011, se referia a um bairro chamado Brasil, da cidade de
Cumaná, no estado venezuelano de Sucre. Provavelmente foi contaminado
pelo palavrório segundo o qual o Brasil vai aderir ao 'bolivarianismo',
suspeitou de uma rede de tráfico humano comandada pelo governo da
Venezuela e se cobriu de ridículo."
Todos
já ouviram falar do Febeapá – o Festival de Besteira que Assola o País,
com o qual o jornalista Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, iluminou
com seu texto bem-humorado a tragédia vivida pelo país pós-golpe
militar de 1964. Ele morreu de ataque cardíaco, no dia 29 de setembro de
1968, apena 45 dias antes do Ato Institucional nº 5 que assombrou o
país por muitos anos e quase acabou com o bom-humor dos brasileiros.
Entre
os "ódios inconfessos" do criador de personagens inesquecíveis, como
Tia Zulmira, Rosamundo e Primo Altamirando, Stanislaw Ponte Preta
selecionou os seguintes: puxa-saco, militar metido a machão, burro
metido a sabido e, principalmente, racista.
Como se vê, não seria difícil concordar com ele, naquele tempo e agora.
Relendo sua biografia AQUI e,
sobretudo o texto escrito pelo poeta mineiro Paulo Mendes Campos logo
após a morte do amigo, encontrei uma frase que conhecia dos tempos em
que eu era adolescente em Lagoa da Prata: "Se peito de moça fosse
buzina, ninguém dormia nos arredores daquela praça". Eu a ouvia, durante
sermões dominicais, referindo-se à praça em que se localizava nossa
igreja matriz, dos lábios do monsenhor Alfredo, um velho holandês que
jamais a atribuiu ao humorista carioca, mas que, desse modo, fazia
sorrir discretamente o seu sofrido rebanho. E corar mocinhas recatadas
com suas inescapáveis buzinas.
Tempos
e costumes mudaram muito desde então. Há ainda militar metido a machão,
como aquele notório deputado federal inimigo do comunismo, do
bolivarianismo e do governo Dilma, há muito burro metido a sabido, há
racistas e o diabo a quatro. Livramo-nos do AI-5, mas o Febeapá continua
aí, 46 anos após a morte de Stanislaw Ponte Preta.
Vão-se os milicos, aprochegam-se os procuradores federais...
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sábado, 29 de novembro de 2014
O Brasil venezuelano e a volta do Febeapá
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