Os jornais de quarta-feira (11/2) trazem alguns exemplos de como o
filtro da mídia distorce a realidade a ponto de produzir contextos
obscuros e, muitas vezes, contraditórios. A explicação é bastante
simples: como o interesse do produto jornalístico não é informar, mas
causar determinado estado de espírito, tudo de relevante que acontece é
tratado com o mesmo viés, colocado numa forma de um mesmo padrão – mas
as peças resultantes não se ajustam, ou, quando se encaixam, formam um
desenho que não faz sentido.
Vamos exemplificar com algumas notícias do dia.
Assim, o potencial de aumento das despesas públicas provocado pelo
favor que o presidente da Câmara faz a seus pares cria argumentos para o
Poder Executivo buscar recursos em outra fonte, como, por exemplo, na
tributação de grandes fortunas, o que certamente favoreceria a
popularidade da presidente da República. Ao mesmo tempo, limpa o terreno
para uma reaproximação entre o governo e as lideranças sindicais. Por
outro lado, sem cargos na comissão da reforma política, o PT assume o
papel em que historicamente fica mais à vontade: o de oposição crítica.
Sabe-se que o deputado Cunha é basicamente um negociador, e que seus
movimentos iniciais são parte da estratégia para estabelecer um patamar
de poder a partir do qual poderá comandar aquela parcela do Congresso
que os jornalistas chamam de “baixo clero” – que sobrevive politicamente
à base de verbas obtidas com emendas ao orçamento.
O que não se sabe, mas pode-se conjecturar, é se o novo presidente da
Câmara alimenta ambições maiores e que talvez esteja de olho na proposta
de impeachment da presidente da República, que vem sendo estimulada
pela imprensa.
Desculpas ignoradas
Além disso, mas sem esgotar a lista dos temas controversos trazidos à
agenda pública pela imprensa, convém observar que o escândalo da
Petrobras ficou subitamente ausente das manchetes. A decisão do Supremo
Tribunal Federal, de arquivar o inquérito contra políticos paulistas do
Partido Democratas e do PSDB no caso dos trens metropolitanos, ganha
destaque e alimenta suposições de que a Justiça oferece tratamentos
desiguais conforme a origem do delito.
Por mais que acredite no que lê, o cidadão pode achar suspeita a
diferença entre os dois casos de corrupção. Num deles, o noticiário
aponta diretamente para o núcleo político do governo federal e
criminaliza a Petrobras; no outro, a imprensa criminaliza empresas
supostamente corruptoras, inocenta o Metrô e a Companhia de Trens
Metropolitanos e reduz tudo a um caso de cartel, fazendo de conta que o
esquema funcionou por vinte anos sem a participação de políticos.
O processo iniciado com a Operação Lava Jato vai demorar muito tempo, e
não há como manter o assunto nas manchetes diariamente, a não ser como
exercício de campanha, com a administração seletiva de vazamentos do
inquérito. Assim, a imprensa aproveita qualquer citação para requentar o
assunto, criando um clima de apocalipse em relação à Petrobras.
A mídia tradicional ignora o histórico da corrupção e trata de
amplificar qualquer suspeita sobre personagens ligados de alguma forma
ao governo. O caso do geólogo Guilherme Estrella, ex-diretor de
Exploração da estatal, é exemplar: a acusação que lhe foi feita pelo Jornal Nacional, da TV Globo, ganhou destaque imediato; o desmentido e o pedido de desculpas da emissora (ver aqui) foram praticamente ignorados pela mídia.
(fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/a_maquina_de_forjar_noticias)
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