segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Capitalismo e crise





            Muito esperado no Brasil o lançamento do livro “Capitalismo no século XXI, de Thomas Piketty. A sua existência em francês e em inglês já foi muito comentada no Brasil, através dos principais periódicos de circulação nacional. Uma das constatações mais inteligentes da referida obra é a de que a taxa de rendimento privado do capital é mais elevada que a taxa de crescimento da renda de produção, isto é, a especulação financeira é maior que os rendimentos dos setores produtivos da economia. Para quem tem saldo bancário, é preferível aplicar no sistema financeiro a investir em setores produtivos. O ganho é maior e redunda em acumulação,  ao mesmo tempo que diminui a renda tributária e o potencial de empregos. Os ricos ficam cada vez mais ricos e em menor numero. Piketty fez o mundo inteiro ver que a desfuncionalidade econômica do mundo, na atualidade, está no fato absurdo de que 1% da população mundial possui mais da metade da riqueza global. 

            A mentalidade da acumulação de riqueza é uma herança cultural da nobreza européia. A elite nobre vivia de rendas, geralmente advinda de uma herança. Para Piketty, a tendência é o crescimento do capital superar cada vez mais o crescimento econômico. Isso significa um retorno ao tipo de sociedade baseada no patrimônio, com alta concentração de riqueza nas mãos de um pequeno número de pessoas, fazendo aumentar a desigualdade. As consequências do crescimento da desigualdade são as instabilidades políticas e sociais. O ideal da herança anula o valor do trabalho. Em um mundo onde a riqueza cresce mais que a economia, como incentivar um indivíduo a concorrer ou produzir, se o resultado não é medido pela sua contribuição. A reação mundial contra essa situação só ocorrerá se as classes que vivem do trabalho (e não da usura e do lucro) se unir e forem para as ruas. 

O que causou reação por parte do capitalismo financeiro nos EUA foi o fato de Piketty atribuir à ambição de lucros, o agravamento da questão ambiental, com fortes consequências na economia. Além disso Piketty põe a mão na ferida, ao propor uma nova forma de tributação para as grandes fortunas e para as heranças fabulosas.  O autor fala da necessidade do aprofundamento da democracia para que as classes subalternas não sejam esmagadas pela força do capital financeiro. No Brasil, forças contrárias às propostas de Piketty, já começam articular golpes de estado e outros desatinos.
           

Belo Horizonte,  janeiro de 2015.

Antônio de Paiva Moura

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