Muito esperado no Brasil o
lançamento do livro “Capitalismo no século XXI, de Thomas Piketty. A sua
existência em francês e em inglês já foi muito comentada no Brasil, através dos
principais periódicos de circulação nacional. Uma das constatações mais
inteligentes da referida obra é a de que a taxa de rendimento privado do
capital é mais elevada que a taxa de crescimento da renda de produção, isto é,
a especulação financeira é maior que os rendimentos dos setores produtivos da
economia. Para quem tem saldo bancário, é preferível aplicar no sistema
financeiro a investir em setores produtivos. O ganho é maior e redunda em
acumulação, ao mesmo tempo que diminui a
renda tributária e o potencial de empregos. Os ricos ficam cada vez mais ricos
e em menor numero. Piketty fez o mundo inteiro ver que a desfuncionalidade
econômica do mundo, na atualidade, está no fato absurdo de que 1% da população
mundial possui mais da metade da riqueza global.
A mentalidade da acumulação de
riqueza é uma herança cultural da nobreza européia. A elite nobre vivia de rendas,
geralmente advinda de uma herança. Para Piketty, a tendência é o crescimento do
capital superar cada vez mais o crescimento econômico. Isso significa um
retorno ao tipo de sociedade baseada no patrimônio, com alta concentração de
riqueza nas mãos de um pequeno número de pessoas, fazendo aumentar a
desigualdade. As consequências do crescimento da desigualdade são as
instabilidades políticas e sociais. O ideal da herança anula o valor do trabalho.
Em um mundo onde a riqueza cresce mais
que a economia, como incentivar um indivíduo a concorrer ou produzir, se o
resultado não é medido pela sua contribuição. A reação mundial contra essa
situação só ocorrerá se as classes que vivem do trabalho (e não da usura e do
lucro) se unir e forem para as ruas.
O que causou reação por parte do
capitalismo financeiro nos EUA foi o fato de Piketty atribuir à ambição de
lucros, o agravamento da questão ambiental, com fortes consequências na
economia. Além disso Piketty põe a mão na ferida, ao propor uma nova forma de
tributação para as grandes fortunas e para as heranças fabulosas. O autor fala da necessidade do aprofundamento
da democracia para que as classes subalternas não sejam esmagadas pela força do
capital financeiro. No Brasil, forças contrárias às propostas de Piketty, já
começam articular golpes de estado e outros desatinos.
Belo Horizonte, janeiro de 2015.
Antônio de Paiva Moura
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