Caro Senhor Mobius
Embora o senhor não saiba quem sou, conheço-o há muitos anos, desde que era editor da revista Exame.
O senhor não é exatamente o modelo de homem que admiro, mas sempre
respeitei sua capacidade de enxergar oportunidades de investimentos e
aproveitá-las para si mesmo e, também, para os investidores que lhe
confiam seu dinheiro.
Não foi à toa que mereceu o título de Guru dos Mercados Emergentes e, se lembro, uma ou duas capas da Exame de meus tempos.
A razão desta carta que endereço ao senhor não é pedir conselhos financeiros. É algo mais prosaico.
Gostaria que o senhor trocasse umas palavras com os jornalistas que cobrem economia no Brasil.
Eles estão histéricos, e o senhor com certeza poderia acalmá-los com
sua visão fundamentada sobre o Brasil – não a visão de quem mexe apenas
com palavras, como os jornalistas, mas de quem arrisca bilhões de
dólares em decisões de investimento.
Vi que o senhor falou hoje com jornalistas do Brasil
numa passagem pelo país, mas não encontrei na entrevista o nome
daqueles a quem me refiro: Míriam Leitão e Carlos Sardenberg, da Globo.
Percebi que o senhor está otimista com o Brasil. Acha que o PIB
crescerá pouco em 2015, mas que não se surpreenderá se em 2016 a
economia avançar 3% ou 4%.
Vi também que o senhor enxergou um lado positivo no caso Petrobras.
Nunca as estatais brasileiras brilharam exatamente por sua governança, o
senhor lembrou.
Nem agora e, ao contrário do que alguns tentam fazer os outros acreditarem, nem no passado de FHC.
O senhor também ponderou que corrupção em grandes empresas não é exatamente uma coisa nova na história da humanidade.
Aqui mesmo no Brasil temos o exemplo da Siemens dos retíssimos
alemães com suas propinas no metrô de São Paulo. E hoje mesmo um
escândalo planetário sacode um banco dos finíssimos britânicos, o HSBC.
Um dos delatores da Petrobras disse que fazia negociatas desde 1996, quando o presidente era FHC.
A diferença é que agora a corrupção na Petrobras está sendo investigada.
Caro senhor Mobius: citei, especificamente, dois jornalistas da área
econômica. Mas, se o senhor não se importar, gostaria de acrescentar,
para a conversa, alguns outros que cobrem política.
Eles parecem alucinados. Onde o senhor vê oportunidades, eles
enxergam o apocalipse. E tentam fazer que os demais brasileiros também
enxerguem.
Vou citar alguns aleatoriamente.
Merval. Jabor. Sheherazade. Kamel. Bonner.
Se não for demais, incluiria um músico no grupo. Lobão. E um candidato a comediante: Danilo Gentili.
Ia sugerir que falasse também com alguns políticos. Aécio Neves, por
exemplo. FHC, também. Serra não porque é capaz de querer dar lições ao
senhor.
Tinha pensado em agregar um ou outro jornalista da Veja, mas pensei melhor e entendi que este é um caso perdido.
Torço para que o senhor, que já ganhou tanto dinheiro com o Brasil e continuará ganhando, atenda este meu pedido.
O que está em jogo é a sanidade nacional. Ou, pelo menos, a sanidade
das pessoas – vítimas — alcançadas por um pequeno grupo que parece achar
que o Brasil é o pior país do mundo.
Grato pela atenção e boa viagem de volta aos Estados Unidos.
Paulo Nogueira, editor do DCM
(fonte: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/carta-aberta-ao-investidor-mark-mobius/)
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