quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Briga de cachorro grande


duke_desigualdade
Texto escrito por José de Souza Castro:
As pessoas ricas estão cada vez mais ricas em São Paulo, revelou a prefeitura paulistana, com base nos Censos de 2000 e 2010 do IBGE. O grupo formado por 1% dos mais ricos fica com 20% da renda total dos salários, aluguéis e investimentos na cidade, conforme o último Censo. Dez anos antes, quando o país era presidido por Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, o percentual era de 13%.
É o avanço da concentração de renda representada pela população da cidade maior e mais endinheirada do país, ao longo dos primeiros oito anos do governo petista. Os oito anos do governo Lula.
Não sei se a reportagem assinada por Vanessa Correa e publicada no último domingo pela “Folha de S.Paulo” teve repercussão. É possível que boa parte daquele 1% dos mais ricos não tenha tomado conhecimento da notícia. Não é uma turma chegada a ler jornais.
Sendo assim, não deve ter amofinado os candidatos Aécio Neves e Eduardo Campos, mais do que eles já se preocupam com as dificuldades para financiar suas custosas campanhas eleitorais, mesmo sendo os principais opositores do governo de Dilma Rousseff e, presumivelmente, apoiados pelos donos do dinheiro, refratários a qualquer proposta de repartir mais igualitariamente a riqueza, como pregava antigamente o Partido dos Trabalhadores.
Os que tomaram conhecimento da notícia, porém, ficarão ainda mais relutantes. Por que dar dinheiro à oposição, se com a situação estão se dando muito bem? Não se mexe em time que está ganhando, não é mesmo?
Para mim, o surpreendente na notícia não é o aumento da concentração de renda, algo já sabido, mas a informação de que quem tem uma renda individual de R$ 15 mil por mês se inclui naquele grupo de pouco mais de 100 mil pessoas. Ou seja, no grupo de 1% mais rico, numa população que soma 11,8 milhões de moradores da capital paulista.
Fiquei curioso sobre a concentração que deve existir dentro desse grupo restrito de privilegiados. Será que 1% deles detém metade da renda do grupo? Como saber? É um pessoal que se esconde até quando são obrigados, pela lei, a declarar seus bens à Justiça Eleitoral.
É mais fácil, para os pesquisadores, conhecer a renda dos 50% da população de menor renda. Mas não é o caso de humilhá-los ainda mais, aqui, revelando quanto ganham. Basta dizer que a participação deles na renda paulistana cresceu muito menos, na primeira década deste século, do que a dos mais ricos.
Há até uma explicação para isso, dada pelo diretor do Departamento de Informação da Secretaria de Desenvolvimento Urbano, Tomás Wissenbach, responsável pela pesquisa. Desde a década de 1970, segundo ele, a cidade de São Paulo vem perdendo suas indústrias e também os empregos que pagavam bons salários a pessoas com escolaridade média. Hoje a economia paulistana está concentrada nos setores de serviços, que produzem, de um lado, superempregos para executivos e consultores e, de outro, ocupações de baixa remuneração em funções terceirizadas como limpeza e telemarketing.
Assim sendo, não surpreende que o candidato do PT tenha vencido nas últimas eleições a disputa pela prefeitura de São Paulo, pois os baixa-renda tendem a votar nesse partido. Haverá surpresa nas eleições de outubro próximo? O tempo dirá.
Enquanto isso, vamos ficar com mais uma notícia de domingo, no mesmo jornal paulista. Agora, uma reportagem de Dimmi Amora:
“O jatinho Embraer Phenom 300 vale R$ 18 milhões, mas estacioná-lo nos aeroportos brasileiros custa apenas R$ 1. Mais precisamente, apenas 92 centavos por hora. O preço para parar máquinas milionárias dentro dos aeroportos do país equivale a um décimo do custo de deixar um carro nos estacionamentos dessas unidades. Em Congonhas (SP), onde parar um Phenom sai a R$ 1,21 a hora, estacionar um carro pelo mesmo período custa R$ 14. Mesmo para um dia inteiro de uso, os preços são distorcidos. Uma diária de estacionamento de veículo custa R$ 70, enquanto para um avião não passa de R$ 26”, começa Amora o seu relato.
Mas isso deve mudar. Os aeroportos brasileiros eram administrados por uma estatal, a Infraero. Agora restam a ela apenas 63 aeroportos. Pelo menos 20 já são administrados pela iniciativa privada (nesse número, o jornal não inclui o famoso aeroporto de Cláudio...). O Sindicato Nacional das Empresas de Administração Aeroportuária conta com 13 empresas associadas e já solicitou à Agência Nacional de Aviação Civil a revisão das tarifas. Vai conseguir. Agora, é briga de cachorro grande...
(fonte: http://kikacastro.com.br/2014/08/05/briga-de-cachorro-grande/)

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