por Percival Maricato
Como sempre nos segredos militares, só após 50 anos a
verdade é revelada. Alegando que o USS Maddox, navio de guerra americano
tinha sido atacado, os EUA ampliaram sua intervenção na guerra do
Vietnã e logo estavam bombardeando violentamente as cidades do Vietnã do
Norte, além de aldeias suspeitas do sul, estas inclusive com napalm.
Para convencer o povo americano a aceitar a guerra, o governo americano usava a teoria do dominó:
se o Vietnã do Sul caísse nas mãos dos comunistas, todos os demais
países do sudeste da Ásia teriam o mesmo destino. No entanto, além da
teoria precisava de pretexto mais violento, direto, imediato. Simulou
então o referido ataque.
E só agora alguns militares que estavam no referido navio se atrevem a
revelar que não aconteceu ataque nenhum. Para evitar que isso
acontecesse antes, o pseudo ataque foi transformado em “segredo
militar”. Falar levaria qualquer um à situação de Snowden. Com muita
sorte, teria que viver dentro de uma embaixada. Quanto ao fato, os
vietnamitas não seriam idiotas a ponto de dar de bandeja um motivo tão
suculento para os EUA atacá-los, mesmo sabendo-se que o navio estava
em missão de espionagem eletrônica (imaginem o que aconteceria se um
navio de guerra de alguma outra nação inimiga tentasse se colocar perto
dos EUA? Seria impossível, antes de mais nada porque os EUA não tem
inimigos).
Simulações para iniciar guerras sempre foram usados desde os tempos
imemoriais. Era sabido até por Blondi, a cadela de Hitler, que ele iria
atacar a Polônia. Assim mesmo o chefe nazi teve que simular um acidente
na fronteira e matar alguns detentos como sendo soldados alemães para
usar como pretexto.
Os EUA já fazem isso de longa data para justificar invasões do
México, de onde retiraram grande parte de seu território. Fizeram também
com a Espanha em 1898: teriam explodido uma bomba no USS Maine, no
porto de em Havana, mas culparam a Espanha, justificando o início de uma
guerra onde tomariam suas colônias. Mais recentemente culparam Hussein
por estar acumulando armas de destruição em massa. O ditador, sabendo o
que iria ocorrer, tentou escapar, permitindo a ONU que revirasse todo o
Iraque. Nada foi encontrado, mas na falta de outro pretexto, esse serviu
para a invasão do país.
Esses episódios lembram a historieta escolar do lobo que acusou a
ovelha de sujar a água do regato onde bebia, apesar desta ter
demonstrado que isso era impossível, pois ela bebia após o fluxo da água
passar pelo lobo. A ovelha acabou virando refeição. Pretextos acontecem
desde a Suméria e do Egito antigo. E continuam sendo aceitas pelas
elites dos países dominantes e seus aliados, com a mesma dose cavalar de
hipocrisia. A Polônia, vítima de hipocrisia, aceitou enviar tropas para
a guerra libertadora do Iraque.
A guerra do Vietnã foi uma das mais medonhas que tivemos. E foi
inútil. Os americanos perderam dezenas de milhares de jovens, e outro
tanto voltou deficiente físico ou mental para casa. Os EUA pela primeira
vez perderam uma guerra, desperdiçaram trilhões de dólares. Metade do
dinheiro que essa nação gasta em força militar acabaria com a fome,
epidemias e analfabetismo no mundo em poucos anos. E ela continuaria,
longe, a mais forte do mundo e respeitada e estimada como nenhuma outra.
Mas parece inexistir outro caminho que não o já seguido por todos os
impérios anteriores.
(fonte: http://jornalggn.com.br/noticia/o-golfo-de-tonkin-o-lobo-e-a-ovelha-por-percival-maricato)
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